segunda-feira, janeiro 5

O QUE É E O QUE NÃO É A IGREJA II

Igreja é um vocábulo proveniente da língua grega 'εκκλησία', isto é, 'ekklesía', sendo no latim 'ecclesia'. Os autores da Septuaginta, uma versão primitiva da bíblia, escolheram esta palavra que é uma tradução grega do hebraico 'Kehal Yahveh', usado entre os judeus para se referir a assembléia geral ou congregação dos filhos de Israel, quando da peregrinação pelo deserto por quarenta anos sob o comando de Moisés, o libertador do cativeiro egípcio. As assembleias solenes eram convocadas para reunir os anciãos e líderes das doze tribos a fim de receberem orientações divinas e tomarem decisões coletivas.
Em primeiro plano tomou-se emprestado o termo da língua grega, o qual significava apenas o conjunto de cidadãos escolhidos ou eleitos para controlar o destino da polis, isto é, da sociedade reunida em um determinado aglomerado humano. A 'ekklesía' grega era uma assembleia de escolhidos politicamente para executar a administração da coisa pública. Tal apropriação da palavra por Jerônimo e seus auxiliares na tradução das Escrituras para o latim, foi por extensão de sentido e não por literalidade, muito menos por questão semântica apenas. Etimologicamente a palavra grega 'ekklesia' é composta de dois radicais gregos: 'ek' que significa para fora e 'klesia' que provém do verbo 'kaleo' significa chamar, convocar.
A ideia de Jerônimo ao valer-se da palavra grega para Igreja era a figura de um grupo de pessoas regeneradas, convocadas e diferenciadas do senso comum, da moral comum e da visão comum, as quais são típicas do homem decaído. Assim, a Igreja deveria ser um grupo de pessoas despojadas de quaisquer arrogância, egocentrismo, pretensões e sentimentos próprios acerca do mundo e das coisas. Seriam, ao contrário, pessoas nascidas de Deus para viverem no mundo, mas não serem do mundo conforme Jo. 17: 15 a 17 - "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade." A ideia original da Igreja de Cristo não é tornar ninguém superior e arrogante por se achar melhor e perfeito. A ideia é de um grupo que recebeu a graça para conhecer a verdade que liberta plenamente o homem, ainda que este continue não sendo superior ou melhor que ninguém. A Igreja verdadeira é formada por loucos e doentes que estão sendo tratados pela misericórdia e pela graça do Abba. Ainda hoje os cristãos nominais, não entenderam isto.
A palavra Igreja, por extensão de sentido, designa uma reunião de pessoas, sem estar necessariamente associada a uma edificação ou a uma instituição ou a um corpo de regras, normas e preceitos elaborados por homens. No texto bíblico, neotestamentário, a palavra Igreja aparece por diversas vezes, sendo utilizada como referência a um agrupamento de cristãos e não a edificações ou templos, nem mesmo a toda comunidade cristã em alguns momentos. Isto porque, desde os primeiros séculos se introduziram seitas ou heresias influenciadas pelo helenismo no seio da Igreja primitiva conforme II Tm. 4:1 - "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios." Veja, eles deram as costas à fé, e não à Igreja. Permanecem na religiosidade, porém não na fé verdadeira.
Jesus faz referência à Igreja nos termos que já foram acima retratados e não no sentido hodierno a que se utiliza esta palavra. Mt. 16:18 - "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Primeiramente, a Igreja é do Senhor Jesus e não de homens. Secundariamente, diante da verdadeira Igreja as portas do inferno não prevalecem. Ela tem um Senhor e não um dirigente pecador e imperfeito. Por isso, a Igreja não pode ser uma denominação, em um prédio físico com um corpo de regras, normas e preceitos mantidos pelo homem em nome de Deus. Ela é a soma de todos os que foram nascidos de Deus ao longo do tempo e no espaço. A Igreja Verdadeira é adenominacional, sem adjetivos, sem uma vontade humana própria, pois o Cabeça, isto é, o centro de decisões nela é Cristo.
Solus Christus!

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