domingo, fevereiro 7

A ORAÇÃO BÍBLICA x A ORAÇÃO MÍSTICA II

 

Mt. 7: 7 a 12 - "Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem? Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas."
No tocante à oração, enquanto diálogo entre criatura e Criador, há, aparentemente, algumas contradições. Pois, enquanto em um texto diz que não se deve usar de vãs repetições, porque Deus conhece todas as necessidades antes de os homens pedi-las, outro texto diz que se deve insistir até que Deus responda. Todavia, as Escrituras não se contradizem. Tais contradições são devidas a falta de alcance espiritual da maioria dos homens, visto que não têm o espírito vivificado em Cristo. Quanto a ordem para pedir é dada aos que pedem conforme a vontade de Deus, enquanto a crítica aos que pedem repetitivamente se deve àqueles que não conseguem crer, e, portanto, repetem seus pedidos para tentar forçar uma resposta.
A maioria dos religiosos não crê que Deus os ouve, e, portanto, não obtêm as respostas que buscam. E, quando a resposta é o silêncio por longo tempo ou um não, tais pessoas revelam sua real natureza, ou seja, incredulidade. Como consequência disto debocham e põem em dúvidas a existência, o amor e a bondade de Deus. A incredulidade é parte integrante da natureza humana e se torna evidente ou revelada, quando seus desejos não são sancionados por Deus.
Quando alguém se apresenta perante o trono de Deus em oração, ele a recebe, invariavelmente, por meio da advocacia de Cristo, ou como filho por adoção por meio de Cristo. Portanto, seja alguém reconciliado ou irreconciliado, será representado ou apresentado por meio de Cristo. Deus é Espírito e só se comunica com aqueles que tiveram seus espíritos reconciliados, isto é, cuja natureza pecaminosa foi aniquilada na inclusão na morte e na ressurreição com Cristo conforme Cl. 1: 21 a 23 - "A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro." É por esta razão que as Escrituras afirmam em Jo. 4:24 - "Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." Desta forma é necessário que o espírito morto para Deus seja vivificado em Cristo cf. Ef. 2:1; e a verdade que liberta verdadeiramente em Cristo seja inserida nos eleitos e regenerados cf. Jo. 8:36.
Assim como existe uma Graça abrangente a qual Deus dispensa sobre qualquer criatura, igualmente há uma oração universal, a qual qualquer homem pode fazer em circunstâncias adversas da vida. Entretanto, a oração dos justificados, a qual possui uma aproximação real com o trono de Deus conforme Tg. 5:16 - "Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação." Este ato de confissão dos pecados, nada tem a ver com a prática do confessionário de uma determinada religião nominal. Esta confissão é o pedido de perdão quando os eleitos e regenerados estão em conflito ou em falta uns com os outros. É necessário, primeiramente, se reconciliarem entre si, pois, do contrário, suas orações não chegarão ao trono de Deus. Isto é ensinado em Mt.5:23 e 24 - "Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta."
O texto que abre esta instância autoriza de modo imperativo o eleito e regenerado a pedir, buscar e bater perante o trono de Deus. Porém, o maior problema do homem é imaginar que, por esta razão, poderá solicitar qualquer coisa, porque está prometido. A oração que Deus responde é aquela segundo a sua vontade e não segundo a vontade do homem conforme I Jo. 5:14 - "E esta é a confiança que temos nele, que se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve." Imagine que, caso Deus respondesse sem qualquer critério espiritual, provavelmente já não haveria ninguém vivo na Terra. Nas guerras se vê muito o representante da mesma religião abençoando as armas dos dois lados em conflito. Neste caso, as guerras teriam de dar sempre empate, não?
Por fim, a razão maior pela qual as orações não são respondidas de acordo com o desejo do suplicante é que estas contêm desejos apenas pessoais e egoístas conforme Tg. 4: 1 a 3 - "Donde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais e nada tendes; logo matais. Invejais, e não podeis alcançar; logo combateis e fazeis guerras. Nada tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." Deus dispensa o seu favor para alimentar o homem decaído e contaminado pela natureza pecaminosa. Seria absolutamente contraditório com a sua santidade e justiça.
A primeira regra para que a oração seja respondida de acordo com a vontade de Deus está no versículo final do texto de abertura: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas."
Jesus, o Cristo é o advogado que representa os eleitos e regenerados em suas necessidades conforme Hb. 4:16 - "Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno." Vê-se que o socorro é no momento oportuno, não segundo a perspectiva de oportunidade do homem, mas da graça e da misericórdia de Deus. 
Sola Sciptura!

quarta-feira, fevereiro 3

A ORAÇÃO BÍBLICA x A ORAÇÃO MÍSTICA I

 

Mt. 6: 1 a 8 - "Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes."
O verbo orar provém do latim 'orare', significando sempre proferir ou dirigir um discurso a alguém. Este verbo possui conotação espiritual apenas quando observa-se a sua transitividade.
Orar, enquanto verbo intransitivo, implica em fazer oração, discursar em público e falar em tom oratório. Porém, como verbo transitivo indireto significa dirigir oração ou suplicar em oração. Quando o verbo orar for transitivo direto, implica em pedir, suplicar, rogar e fazer prece. Finalmente, como verbo transitivo direto e indireto traz também o significado de pedir, suplicar e rogar. Desta forma vê-se que orar é sempre uma ação de uma ou mais pessoas dirigida a uma ou diversas pessoas. Lembrando-se que Deus é um ser pessoal e não uma energia cósmica ou uma ideia metafísica.
A maioria dos religiosos faz orações seguindo modelos apreendidos da religião a que pertencem ou por imitação de terceiros. Percebem-se tais modelos quando, ao orar, fecha os olhos, entrelaçam-se os dedos das mãos, levantam as mãos ao alto ou as coloca abertas em forma de receptáculo diante de si. Muitas pessoas, ao orar, entram em verdadeiras catarses, imaginando que, pelo muito esforçar-se, convencerão a Deus. Porém, as Escrituras não estabelecem qualquer formato, modelo ou layout de oração em termos de postura física. Ao contrário, diz que deve ser feita em secreto, pois Deus que está em secreto a ouvirá conforme Mt. 6:6 - "Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." 
Jesus, quando orava erguia os olhos ao céu e falava com o Pai de forma muito simples, direta e confiante. Um desses registros está em Mt. 14:19 - "... tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou." No velho testamento acha-se um profeta orando de olhos abertos conforme Nm. 24:15 - "... fala Balaão, filho de Beor; fala o homem que tem os olhos abertos." Então, orar não é um exercício mental, meditativo ou psicológico originado da astúcia almática do homem. O texto bíblico afirma três coisas importantes: a) Deus não ouve a pecadores conforme Jo. 9:31 - "...sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém for temente a Deus, e fizer a sua vontade, a esse ele ouve." b) quem intercede interpretando a oração é o Espírito Santo conforme Rm. 8:26 - "Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis." E, c) Não sabemos orar conforme Lc. 11: 1 - "... Senhor, ensina-nos a orar..."
O texto que abre esta instância inicia-se dizendo que, aqueles que são eleitos e regenerados devem guardar-se de fazer boas obras diante dos homens para chamar-lhes atenção sobre si próprios. A oração é uma dessas boas obras! Em muitos casos o religioso se propõe a orar por alguém para demonstra alto nível de amizade ou consideração à outra pessoa. Em muitos casos julga que, se houver uma resposta positiva, ganhará pontos ou méritos aos olhos de outras pessoas ou perante o sistema religioso ao qual é servo. Isto poderá render-lhe fama, prestígio e privilégios. Sabe-se disto, pela forma e o conteúdo da oração do que assim procede. Não se trata de julgar aquele que ora, porém, o texto de abertura indica o caminho: "E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens." Orar movido pelo Espírito de Deus é uma coisa, orar para satisfazer preceitos, ritos e crendices é outra coisa.
O mesmo texto de abertura encerra dizendo uma verdade que muitos não conseguem compreender: as vãs repetições! A maioria entende, por conta própria, que tal erro se aplica às outras religiões as quais fazem rezas ou mantras repetitivas. Entretanto, o sentido vai muito além disto, pois, quando alguém se dirige a Deus em oração, seja para si próprio, seja para outra pessoa, basta uma única vez. O contrário disso é falta de confiança. A confiança é o resultado da pessoa que recebeu graça para crer na Soberania, Onipotência, Onipresença e Onisciência de Deus. Enquanto esta confiança não se manifesta no coração é porque ainda não ganhou fé que possa ser imputada por justiça ao molde de Abraão.
Sola Scriptura!