terça-feira, dezembro 22

O NATAL É APENAS UMA EFEMÉRIDE RELIGIOSA SINCRÉTICA

Mt. 2: 1 a 6 - "Tendo, pois, nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram do oriente a Jerusalém uns magos que perguntavam: onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois do oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo. O rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e com ele toda a Jerusalém; e, reunindo todos os principais sacerdotes e os escribas do povo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo. Responderam-lhe eles: em Belém da Judeia; pois assim está escrito pelo profeta: e tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel." Há grande controvérsia entre analistas dos escritos sobre o nascimento de Jesus, o Cristo. Alguns afirmam que o seu nascimento foi entre os anos 6 e 4 a.C. Embora pareça anacrônico colocar a data do nascimento antes do nascituro, o fato é que, neste caso, considera-se o ano 1 da Era Cristã apenas como referência. Desta forma, o real ano de nascimento de Jesus teria, na verdade, ocorrido antes do ano considerado como o primeiro da Era Cristã no calendário gregoriano.
É sabido que, em qualquer dos dois únicos relatos neotestamentários, nos evangelhos de Mateus e de Lucas não foi registrado o dia e o mês em que Jesus, o Cristo nasceu. Há estimativas aproximadas em função de alguns elementos descritivos dos eventos relativos ao seu nascimento. Por exemplo, o fato de os pastores estarem vigiando os seus rebanhos indica que era inverno no hemisfério norte. Nesta estação do ano os pastores guardavam os rebanhos em estrebarias ou cavernas por causa do frio. Considerando que Maria deu à luz a Jesus, em uma estrabaria nos arredores de Belém, e que os pastores próximos foram ver o menino, julga-se que tenha sido no inverno. Isto situa o nascimento do Mestre entre dezembro e março, quando é inverno no hemisfério norte.
Herodes, o Grande viveu de 73 a. C. até 4 a. C., tendo morrido em Jericó neste último ano. Isto situa o nascimento de Jesus, o Cristo, no máximo, até o ano 4 a. C. Herodes era um edomita judeu que governou a Judeia de 37 a. C. até 4 a. C. Informado pelos magos sobre o nascimento de um menino que seria o rei dos judeus, Herodes se enfureceu e ordenou a execução de todas os meninos de dois anos para baixo. Este fato foi, inclusive, profetizado conforme Mt. 2: 18 - "Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque eles já não existem."
O Natal é a comemoração do nascimento de Jesus, o Cristo, entretanto, ninguém sabe a data do seu nascimento. Talvez, na economia divina, esta data tenha sido ocultada, a fim de evitar que a idolatrassem. Portanto, ao longo da História, inventaram datas com base em certos eventos incorporados do sincretismo pagão de Roma. Pelo calendário gregoriano foi em 25 de dezembro e, pelo calendário juliano, em 7 de janeiro. O dia 25 dezembro é o início do solstício de inverno no hemisfério norte, segundo a cultura romana. Tal evento era denominado "natalis invicti solis", ou seja, "nascimento do sol vitorioso." Significava a adoração a um deus-sol poderoso e jamais vencido na cultura pagã persa dedicada ao deus Mitra. Sabe-se também que, a comemoração do Natal é pré-cristã entre diversos povos ditos pagãos. Sendo, inclusive, a palavra Natal oriunda do nome do 'deus" Natalis, segundo esta crença pré-cristã. Eram elementos das comemorações do natal entre povos pagãos: os madeiros ou árvores enfeitadas e a troca de presentes no "Festival da Saturnália." Na idade Media, o Natal passou a ter apenas caráter carnavalesco. Tornou-se uma festa familiar no século XIX. Foi proibido, diversas vezes, pelos cristãos reformados por ser considerado não cristão. 
Com a expansão do Cristianismo, a Igreja Católica deu uma ressignificação ao Natal pagão, "tornando-o" cristão no século III d. C. Segundo o que se sabe tal atitude visava estimular a conversão de pagãos. Deste modo, 25 de dezembro passou a ser a data da comemoração do nascimento de Jesus, o Cristo. Portanto, o Natal como praticado hoje é o resultado de uma intervenção da Igreja Católica sem qualquer fundamento bíblico ou registro cronológico comprovado. Apropriou-se de uma efeméride tipicamente pagã, para criar mais um acontecimento puramente humano e religioso sem paralelo nas Escrituras.
O Natal cresceu muito de importância aos comerciantes a partir da ascensão da burguesia mercantilista. É uma data de grande movimentação financeira devido as compras e trocas de presentes. Portanto, possui também caráter eminentemente mercantilista. "Papai Noel" é uma figura retirada do folclore popular e não possui significação espiritual. Foi, inicialmente, inspirado na figura de um bispo da Ásia Menor chamado São Nicolau sobre o qual há muitas divergências sobre seu comportamento moral. Depois, na Alemanha, a figura do "bom velhinho" foi alterada para um velho gordo, barbudo, com roupas vermelhas e um saco de presentes nas costas. Tal como apresentado hoje trata-se, inclusive, de uma figura fundamentada na mentira e no engano, pois é dito às crianças que "Papai Noel" é um 'bom velhinho' que dá presentes a todos. Todavia, nem todas as crianças recebem os tais presentes. Para sustentar a primeira mentira criaram uma segunda, a qual diz que só quem foi obediente e bom menino ao longo do ano receberá presentes. 
A árvore de natal é outro elemento de origem pagã e não cristã. Tal como utilizada hoje, tem a sua origem na cultura germânica. São Bonifácio substituiu o "Carvalho Sagrado de Odin" pela árvore de natal. Odin era um 'deus' germano relacionado a guerra. Segundo a lenda germânica, Odin sacrificou o seu cavalo Sleipnir na "Árvore do Mundo". Como os líderes religiosos não conseguiam acabar com estas crenças, transformou o "Carvalho Sagrado de Odin" ou "Árvore do Mundo", na árvore de Natal, na qual eram colocados presentes para as crianças pegar. Com isso, criou-se um ponto de conciliação para que os nórdicos aceitassem o cristianismo. Ora, nenhum homem pode aceitar nada que procede de Deus. É Deus quem decide aceitar qualquer homem, em qualquer lugar e tempo por sua soberana vontade.
Hoje se vê um Natal puramente comercial e desumano, pois, enquanto uns comem exageradamente, muitos não tem o que comer; enquanto, alguns compram diversos itens desnecessários, outros padecem de roupas, cobertores, agasalhos e sapatos; enquanto prefeituras gastam milhões em decorações natalinas, os hospitais estão absolutamente abandonados e sem equipamentos básicos; enquanto as igrejas se enfeitam com luzes piscando e símbolos que nada significam, pessoas passam frio, fome e sede; enquanto compõem canções melosas e falsas, milhões não conhecem a verdadeira história do nascimento de Jesus, o Cristo por negligência das igrejas e seus pregadores que desprezam as Escrituras.
O sincretismo religioso é uma das mais fortes armas utilizadas pelo Diabo para dissuadir os homens da verdade. Ele permite miscigenar ideias, valores e princípios eternos em meras concepções humanistas aceitáveis. O homem em seu estado decaído não suporta nada que seja principiológico, eterno e soberano. Sempre diluem a verdade com a mentira, transformando-a em meias verdades.
Sola Scriptura!

domingo, dezembro 20

A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO E A CERTEZA NO INVISÍVEL V

Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
A fé como doutrinada no texto acima significa a plena confiança, a garantia ou a "escritura" nas promessas de Deus. Desta forma, a fé é a certeza, no espírito, que a Palavra de Deus é fiel, independentemente, do homem e seus pressupostos. A expressão traduzida por "firme fundamento" no grego koinê é [υποστασις] 'hipostasis', ou seja, substância. Tal expressão aparece também traduzida como 'certeza', indicando que a fé bíblica é  que produz absoluta certeza, confiança e garantia no espírito dos eleitos e regenerados. Não é uma mera esperança ou expectativa, mas algo como uma "escritura" lavrada por Deus para testemunho da sua graça e misericórdia para com os eleitos. Assim como a escritura de um imóvel é a garantia de propriedade do dono, também a fé é a garantia da fidelidade de Deus para com a sua própria promessa redentora. Não é por causa do homem, mas por causa d'Ele mesmo.
O texto de abertura na língua original do Novo Testamento é grafado da seguinte forma: "εστιν δε πιστις ελπιζομενων υποστασις πραγματων ελεγχος ου βλεπομενων." 'Estin' é o verbo ser no presente do indicativo da 3ª pessoa do singular. 'De' é uma partícula primária com função de conjunção, significando "além do mais." 'Pistis' é o substantivo feminino fé. 'Elpizomenõn' é o verbo esperar na 1ª pessoa do plural, no genitivo passivo. 'Hipostasis' é um substantivo normativo feminino, significando: certeza, substância, garantia, fundamento, essência, persuasão. 'Pragmatõn' é substantivo neutro genitivo plural, indicando a ideia de 'das coisas' no sentido pragmático. 'Elegssos' significa prova, certeza, convicção e evidência. Possui a ideia de uma sentença com provas irrefutáveis ao espírito do homem e não em evidências exteriores. 'Ou' é um advérbio de negação, significando 'não'. E, finalmente, 'blepomenôn' que é verbo particípio passivo, neutro plural genitivo. Significa 'vemos' e se refere a visão física e não metafórica. Portanto, uma tradução livre deste verso seria: "Fé é o alicerce firme sobre o qual repousam todas as promessas de Deus apenas por sua palavra." A ênfase do versículo é que a fé está conectada a dois substantivos: 'substancia' e 'convicção'. Assim, FÉ = CERTEZA + CONVICÇÃO, porém tudo é invisível e intangível, porque se trata de um dom e não de uma virtude humana.
A fé não é uma luta mental travada por alguém para forçar algum acontecimento desejado. O alimento ou combustível que Deus utiliza para gerar a fé nos seus eleitos e regenerados são os obstáculos. Isto se dá, porque a natureza humana tende a insistir em padrões estabelecidos pela alma contaminada por atos pecaminosos. Neste sentido, a alma tem a tendência de buscar gratificação, satisfação e prazer em si mesma. Leva o homem a uma espécie de êxtase prazeroso como evidência de alguma manifestação sobrenatural. A maioria dos religiosos experimenta apenas poderes latentes da alma, na suposição que são experiências espirituais. Desta forma, são enganados e enganam-se mutuamente sendo presa fácil aos interesses do Diabo.
George Mueller escreveu: "muitas pessoas estão prontas a crer nas coisas que lhes parecem prováveis." Neste caso a fé destas pessoas está repousada em probabilidades e não em certezas. Ora, há fatos e acontecimentos altamente prováveis, mas nada têm a ver com fé, visto que esta repousa exatamente no improvável pelo homem. A fé bíblica começa, exatamente, onde o reino das probabilidades humanas termina. Quando os sentidos naturais do homem fracassam, aí começa o domínio da fé. Por esta razão o apóstolo Paulo afirma em II Co. 5: 6 e 7 - "Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos presentes no corpo, estamos ausentes do Senhor porque andamos por fé, e não por vista." Isto mostra que não são as sensações ou experiências emocionais e sensoreáveis que nos põem no domínio da fé. Não é pelo que se vê, mas pela certeza absoluta no que Deus diz em sua palavra.
Gl. 2:20b - "... e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus..." Não é o "eu" que vive, mas Cristo vive nos nascidos de Deus. A vida natural é vivida na fé do filho de Deus e não mais nas possibilidades, probabilidades, impressões e sensações almáticas. Desta forma, fica claro o porquê de a grande maioria dos homens não alcançarem a verdade espiritual. Por isto criam alternativas na religião e na crendice para ocupar o imenso vazio de Deus em seus corações. Outros, preferem negar e abnegar de qualquer coisa relacionada a fé. De fato, o apóstolo Paulo tem toda razão quando afirma que "... a fé não é de todos." Entretanto, aqueles que são possuídos pela fé verdadeira não são perfeitos e melhores que os demais. Apenas receberam a graça para crer e depender de Deus. 
Cl. 2:6 e 7 - "Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nele andai, arraigados e edificados nele, e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, abundando em ação de graças." Veja que os eleitos e regenerados não aceitaram a Cristo, mas apenas o receberam. O ensino é que os eleitos andem em Cristo e não ao lado d'Ele. É a ideia de andar na plena dependência da vida de Cristo que neles habita. A partir desta condição espiritual é que a fé é confirmada nos corações dos nascidos do alto. A fé é a consequência natural do nascido de Deus que, por esta razão, está sempre abundando em ações de graças.
Sola Fide!
Sola Gratia!
Solo Christus!

sexta-feira, dezembro 18

A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO E A CERTEZA NO INVISÍVEL IV

Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
Já foi dito que a fé é um dom e não uma virtude humana. Também foi dito que a fé não é sensoreável. Agora pode-se acrescentar que a fé situa-se no âmbito das impossibilidades humanas. Entretanto, a fé é perfeita e absolutamente possível a Deus. O homem, em sua condição decaída diante de Deus, não pode gerar a fé por conta própria. Por esta razão os discípulos responderam ao Mestre Jesus, o Cristo o seguinte conforme Lc. 17: 3 a 6 - "Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe. Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: arrependo-me; tu lhe perdoarás. Disseram então os apóstolos ao Senhor: aumenta-nos a fé. Respondeu o Senhor: se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: desarraiga-te, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria." De fato, perdoar alguém uma vez é algo difícil, imagine sete vezes ao dia; e mover uma montanha de um lugar para o outro pela fé é algo inalcançável pelo homem natural. Apenas pela graça e misericórdia de Deus alguém pode chegar ao nível de fé verdadeira. Pelo visto, tal fé está desaparecida do mundo, porque não se vê muitos perdoando outros tantos, e, tão pouco, amoreiras se transportando de um lado para o outro. Possivelmente, por esta razão, Cristo faz a seguinte indagação em Lc. 18:8b "Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?"
A dimensão da verdadeira fé está devidamente doutrinada em Rm. 4:17 - "... como está escrito: por pai de muitas nações te constituí perante aquele no qual creu, a saber, Deus, que vivifica os mortos, e chama as coisas que não são, como se já fossem." Esta foi a fé concedida a Abraão para que ele fosse justificado pela fé e não por obras de justiça própria. Ele creu que Deus pode vivificar os mortos e chamar à existências as coisas que não existem. Portanto, esta fé que apenas faz declarações por sentenças elaboradas para tentar chantagear Deus, nada tem a ver com a fé estritamente bíblica. Trata-se, outrossim, de uma expectativa emocional ou sensorial e almática. A fé bíblica se resume em crer como Deus crê, a saber, ele diz o que quer e os efeitos se fazem presentes. A fé, portanto, não se expressa por atos e atitudes exteriores.
Jesus deu um exemplo muito singelo do padrão de fé que procede de Deus em Mc. 4:35 - "Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: passemos para o outro lado." Neste evento, ocorreu que, quando estavam atravessando o Mar de Tiberíades, assoprou um forte vento e veio sobre eles uma grande tempestade. Jesus, o Cristo dormia profundamente, quando os discípulos o acordaram aos gritos: "Mestre, não se te dá que morramos, como podes assim dormir?" Ao que o Mestre disse: "... por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé?" A timidez do homem consiste em formar juízo de derrota antes de se dirigir a Deus para peticionar. Pede, porém duvida que Deus o responderá, porque pede com base nas suas possibilidades e não nas suas impossibilidades. Quando pedimos a Deus com plena consciência de que somos indignos e incompetentes, confessamos que a ele cabe todo o poder, a graça e a misericórdia. A fé vinda do alto dá ao menor e mais indouto dos homens a intrepidez da certeza absoluta na ação de Deus. Ora, quando entraram no barco, Jesus, o Cristo disse: "passemos para a outra banda". Os discípulos olharam apenas para a impetuosidade do vento e para a fúria da tempestade. Não confessaram a afirmação de Jesus como verdade dita e afirmada por Deus. Os discípulos teriam de confiar na palavra de Cristo, e não nas possibilidades do barco, dos seus braços para remar, da firmeza das mãos do timoneiro. Eles não creram na palavra de Jesus, o Cristo. Todavia, não creram porque não podiam e não porque não queriam. Ter ou não ter fé, não é uma questão de escolha, mas de ter recebido a graça para crer conforme as Escrituras. 
Hb. 11: 3 - "Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê." Este texto demonstra o mesmo padrão de fé bíblica dos textos já mencionados. É pela fé na palavra de Deus que os nascidos de Deus creem que os mundos foram criados. Todavia, a maioria absoluta prefere crer que foi por evolução ao acaso. Outros tentam ingloriamente conciliar teorias científicas com a fé bíblica, produzindo um misto de mitologia e ciência. Acabam por transformar a fé em misticismo e a ciência em uma nova religião. O que é visível foi feito apenas pelo poder da palavra que saiu da boca de Deus. Entretanto, sem experimentar o nascimento do alto, tal fé é impossível ao homem. 
Sola Fide!

quarta-feira, dezembro 16

A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO E A CERTEZA NO INVISÍVEL III

Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
A fé não é demonstrável, porque não se situa na esfera do sensoreável. Isto implica que a fé se insere em outro domínio, a saber, o do sobrenatural. Assim é, porque ela exige que o homem confie sem duvidar daquilo que não vê e não toca. A fé é um fundamento firme, porém não pode ser tocado, é algo que é provado apenas ao que a recebe, porém invisível aos outros. Por estas razões é que o apóstolo Paulo ensina em II Ts. 3:2b - "... porque a fé não é de todos." Mesmo que algumas pessoas façam parte do roll de membros de uma igreja, seita ou comunidade, cumpra tudo o que lhes é exigido em termos de rituais, contribuições e obras de justiça própria, ainda assim, tais pessoas podem não ser objeto da fé autêntica. 
A alma é a sede das emoções, volições e desejos, portanto, o homem que não nasceu do alto, confunde as ações almáticas com a fé bíblica. Um impulso forte sobre algo ou alguém é apenas emocional. Uma impressão ou presságio sobre algo ou alguém pode ser apenas desejo bom ou ruim. Uma vontade incontrolável de fazer algo a favor ou contra alguém pode ser apenas volição da alma sequiosa por ser gratificada e reconhecida. Por esta razão, Jesus, o Cristo ensina que a diferença entre o joio e o trigo só é perceptível quando ambos estão maduros. A diferença se dá pelos frutos de ambos e não pela beleza e aparência exterior. O ensino é que para Deus o que conta é o invisível e verdadeiro e não as declarações da religião exterior.
Miles J. Stanford em seu opúsculo "Normas para o Crescimento Espiritual" afirma que a fé verdadeira repousa sobre fatos. É verídico, entretanto, os fatos exigidos são fatos bíblicos e não fatos circunstanciais e almáticos.  O primeiro fato bíblico é que a fé vem pelo ouvir conforme Rm. 10:17 - "Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." Desta forma, fica evidente que este ouvir não é qualquer audição, pois milhões de pessoas ouvem pregações e mensagens por anos a fio, e nem por isso, creem à verdade. Tal ouvir é operado e operacionalizado pelo Espírito Santo. Sl. 40:6 - "Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos; holocausto e oferta de expiação pelo pecado não reclamaste." Muitos religiosos são crentes incrédulos, exatamente, porque sua religião consiste em uma categoria de fé puramente almática depositada em circunstâncias. Oferecem sacrifícios de tolos aos domingos em uma igreja com base em declarações de fé, em tradição histórica, em tradição denominacional. Supõem que, o fato de ir a todos os cultos, "pagar" os dízimos e ofertas, exercer algum cargo na igreja representa sacrifício agradável a Deus. O segundo fato bíblico que agrada a Deus é a fé conforme Hb. 11:6a - "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus." Portanto, se a fé não estiver fundamentada sobre fatos estritamente bíblicos, será apenas ilações, conjecturas, misticismo, especulação e presunção soberba da alma decaída. A mera afirmação que a sua fé está repousada em Jesus, o Cristo pode não significar nada diante de Deus, porque está repousada apenas na sua declaração e não em uma confissão bíblica.
A fé está na esfera daquelas realidades impossíveis ao homem, mas perfeitamente possível a Deus. Por esta razão é que ela não é uma virtude natural do homem, mas um dom sobrenatural. Aliás, foi justamente por não ter tido fé na Palavra de Deus que o primeiro Adão perdeu o resplendor da glória d'Ele. Deus disse: "... porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Satanás veio e fez uma outra proposta: "Disse a serpente à mulher: certamente não morrereis." Em qual das mensagens o homem creu? Na segunda, obviamente! Isto confirma o ensino de Cristo que o pecado é a incredulidade, a saber, a negação da fé conforme Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." Desta forma os ancestrais comuns caíram, porque colocaram a fé sobre fatos visíveis, sensoreáveis e tangíveis. Foram induzidos a desejar e buscar a semelhança de Deus por meio de fatos humanos e não por meio de fatos fundamentados na Palavra de Deus conforme "... Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." Estes são os fatos sobre os quais Adão e Eva colocaram sua fé. Desejo de ser e ter o o mesmo poder de conhecimento e a capacidade de julgamento de Deus.
Sola Fide!

domingo, dezembro 13

A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO E A CERTEZA NO INVISÍVEL II

Hb. 11: 1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
A palavra fé na nossa língua vernacular é formada por duas letras apenas. Entretanto, expressa o poder de Deus que faz homens andar sobre as águas, cegos de nascença ver, aleijados andar, mortos ressuscitarem e pecadores serem regenerados. É fundamental a quem aspira ganhar a fé desconstruir tudo o que foi inoculado na mente por crenças e religiões. Deve-se pedir a fé de Deus e não a fé em Deus. Tal fé é despertada por meio das Escrituras e não por bom comportamento ou méritos. Portanto, a fé não é um exercício mental em que alguém emprega enorme energia para obter algum resultado. A fé não exige um exercício psicológico para forçar a imagem daquilo que se almeja que aconteça, isto é meditação e não fé. A fé não se expressa por meio de rituais e práticas místicas a fim de forçar uma resposta favorável aos dramas e queixas do homem, isto é crendice. 
Muitos esperam que, por oferecer sacrifícios como tributo de fé, Deus lhes recompense. Outros esperam comover o coração de Deus a lhes ser favorável, porque exercitam a caridade para com os necessitados. Nenhuma destas atitudes estão dentro da esfera da fé verdadeira. Tais atitudes devem ser encaradas como o dever moral de qualquer pessoa. Por vezes são apenas expressões de crenças e tentativas de barganhar com Deus algum benefício. A fé humana assemelha-se ao placebo que o médico receita ao paciente, porque sabe que ele não tem qualquer mal físico. Após tomar o placebo, o paciente se sente melhor, porque precisava de algo para justificar sua necessidade psicológica. A maior parte dos males do homem são, primeiramente, de caráter psicológico ou almático. É a alma que está impregnada de pecado e os resultados acabam por refletir no corpo.
I Jo. 5: 4 e 5 - "Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" A fé como dom de Deus é concedida apenas aos nascidos d'Ele. A vitória sobre o mundo e seu sistema iníquo só é possível pela fé, implicando em manter-se íntegro no mundo sem ser arrastado por ele. Tal fé é definida no texto acima como o dom de crer que Jesus, o Cristo é o Filho de Deus. Nem mais, nem menos! Muitos supõem crer apenas porque pertencem a um sistema de crença. Outros assumem que creem apenas porque praticam ritos, cumprem preceitos e realizam obras de justiça própria. Todavia, crer que Jesus, o Cristo é o Filho de Deus é algo operado e operacionalizado pelo Espírito Santo. Tal operação se dá por meio da pregação do evangelho conforme Rm. 10: 16 e 17 - "Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." Escutar o evangelho apenas como uma peça de retórica não é o mesmo que ouvir o evangelho com os ouvidos da alma. A fé, portanto, é pelo ouvir e o ouvir da palavra de Cristo. Há religiosos que ouvem pregações quarenta anos, cinquenta anos, sessenta anos e, ainda assim, seus ouvidos permanecem fechados para o evangelho de Cristo.
A recomendação do Espírito Santo por instrumentação do apóstolo Paulo em II Co. 13:5a é: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé..." Isto demonstra que, muitos podem estar em um sistema religioso e não ter ganhado a fé. Estar na fé é o mesmo que estar em a fé, a saber, estar nela, e não a ter como um alvo distante a ser perseguido até que se consiga obter algum resultado. O homem natural possui apenas esperança, expectativa e desejos almáticos, os quais confundem com fé. Trata-se de meras declarações e não de confissões pela fé. Desta forma, sem confessar a fé que vem de Deus como dom, é impossível agradar a Deus conforme Hb. 11:6a - "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus."
Jd. v. 3 - "... senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos." Primeiramente a fé é um dom e não uma virtude humana. Secundariamente, a fé foi entregue aos santificados de uma vez para sempre. Não se trata de ter lapsos de fé apenas nos momentos de grande angústia e dificuldade. Trata-se de algo permanente que permite aos santificados em Cristo perseverar até o fim. Qualquer virtude humana vem como acréscimo à fé e não para gerar a fé conforme I Pd. 1: 5 a 7 - "E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor." O ensino claro é que à fé deve-se acrescentar as virtudes e praticar a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor. Comumente, os religiosos invertem esta ordem, porque tentam produzir sua própria salvação por obras de justiça própria e de méritos humanos. Este não é o ensino das Escrituras.
Sola Fide!

sexta-feira, dezembro 11

A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO E A CERTEZA NO INVISÍVEL I

Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
Fé em língua portuguesa é uma palavra minúscula, mas a sua aplicação real é gigantesca quando alguém é por ela possuído. Muitos receberam apenas informações sobre a fé, portanto, acreditam que são possuidores dela. Isto implica em uma espécie de "ter fé na fé" e não no ser o objeto da fé. Todavia, a fé é um dom e não uma virtude humana como presume, erroneamente, grande parte da cristandade nominal. Reputam-na como uma virtude teologal e não como ensinam as Escrituras.
O texto bíblico foi escrito, predominantemente, em hebraico, no caso do Velho Testamento, e em grego koinê, no caso do Novo Testamento. Em hebraico a palavra fé provém do termo 'אֵמוּן' que se pronuncia 'emun'. O sentido dado pelos profetas e sacerdotes a esta palavra é 'fiel', como por exemplo, em II Sm. 20:19 - "Eu sou uma das pacíficas e das fiéis em Israel..." Ou 'fidelidade', como em Dt. 32:20 - "... e disse: esconderei deles o meu rosto, verei qual será o seu fim, porque geração perversa são eles, filhos em quem não há fidelidade.
Enquanto substantivo feminino, a palavra fé em hebraico veterotestamentário é 'אמונה' transliterada como 'emunah' e aparece apenas cinco vezes. Nesta função gramatical possui o mesmo sentido que no grego neotestamentário, a saber, é a firme convicção, a plena confiança e obediência à Palavra de Deus. Especificamente em hebraico a fé significa confirmar o que está dito nas Escrituras. É o mesmo que crer incondicionalmente na Palavra de Deus e se manter firme e dependente dela. O primeiro e decisivo passo para ser possuído pela fé genuína é crer que as Escrituras são a Palavra de Deus.
Em grego, a palavra fé é grafada como 'πιστις' cuja transliteração é 'pistis'. Tal vocábulo pode ter diversos sentidos, dependendo do contexto em que aparece e das flexões que sofre em função das declinações e dos termos que o antecede. Pode significar o dom de Deus aos seus eleitos e regenerados conforme a essência do ensino bíblico. Também pode significar um sistema de crença religiosa, ou uma religião. No grego koinê, no qual o Novo Testamento foi escrito, também aparece a variante 'pisten', no sentido de fidelidade, um adjetivo, e não da fé como um substantivo e dom de Deus. Neste caso, trata-se de uma atitude humana e não do dom da fé em si. Uma pessoa pode ter fidelidade a algum dogma religioso sem ser fiel a Deus, necessariamente. Um ateu pode ser absolutamente fiel ao seu ateísmo, e isto não o afasta ou o aproxima de Deus. Um religioso pode ser totalmente fiel à sua religião e estar muito distante da verdade. Esta é a fé como fidelidade a um sistema de crença e não como o dom de Deus.
No contexto social fé pode ter diversos sentidos, tais como: 'fé pública' que se refere a um documento autenticado e selado por autoridade competente como sendo autêntico e válido perante a lei. 'Má-fé' designa uma pessoa, grupo ou instituição que age de modo a suplantar os direitos de outrem. 'Boa-fé', por sua vez, indica uma pessoa, grupo ou instituição que age dentro dos princípios morais de boa conduta e fidelidade. 'Boto fé', como expressão popular, no sentido de alguém apoiar as atitudes e atos de outras pessoas.
O texto que abre este estudo é bastante enigmático pelo teor da sua significação, visto que coloca o homem diante de algo que ainda não chegou e repousado sobre algo que não se pode ver. Portanto, a fé autêntica é crer naquilo ou em alguém que não é visível e palpável. É crer para ver e não ver para crer conforme o costume dominante nas mentes humanas decaídas. Ora, crer no que se pode provar e ver é ciência experimental e não fé verdadeira. 
A fé é algo particular e intransferível conforme Rm. 14:22 - "A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova." O que o apóstolo Paulo está ensinando pela inspiração do Espírito Santo é que a fé é dada a cada um e apenas o possuído por ela tem consciência da fé que o possui. Também o ensino é que, pela fé pessoal, o homem é responsável pelos atos que assume por meio dela, a saber tudo o que é assumido por dúvida e não por fé é pecado condenável. As Escrituras não ensinam fé irresponsável e inconsequente como se vê nos dias de hoje. Pregadores induzindo pessoas carentes e necessitadas a assumir atitudes absolutamente inconsequentes, trazendo graves consequências morais, legais e emocionais às suas vidas. 
Muitos têm cometido graves pecados contra si e contra outros em nome de uma fé puramente dogmática e humana. Aprovam, em nome de uma fé presumida, coisas que são naturalmente contra a verdade e contra os homens. Esta não é a verdadeira e genuína fé dada aos santos e justificados.
Sola Fide!

segunda-feira, dezembro 7

A GRAÇA DE AMAR INIMIGOS

II Co. 5: 18 a 21 - "Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamo-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus. Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus."
Há uma tendência natural e recorrente entre religiosos de diferentes matizes ao considerar, após ouvir uma mensagem contundente, que a tal se aplica, tão somente, às outras pessoas. Ao ler um texto bíblico que expõe as mazelas, pecados e fraquezas imaginam que tal texto serve a algumas pessoas, especialmente aos desafetos. Muitos, no afã de usar a Palavra de Deus como agulha de crochê para espetar os outros, se valem dos textos escriturísticos como instrumento de vingança. Quase nunca tais pessoas recebem os textos e mensagens duras para si ou para a sua crença, porque suas mentes carnais apoiam-se em evidências históricas, dogmas, preceitos e ritos, os quais declaram ser inatacáveis. Este estado de torpor leva milhões de religiosos ao esgotamento almático e às doenças mentais. Alguns saem à procura de novidades e experiências diferentes. Outros permanecem ali por uma questão de tradicionalismo, pouco se importando com os profundos apelos das Escrituras. Suas mentes estão cauterizadas conforme I Tm. 4: 1 e 2 - "Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada..."
Neste sentido, quando um pregador, escritor ou expositor das Escrituras afirma que todos os homens são, por natureza, inimigos de Deus, isto gera um grande mal-estar e, por vezes, duras reações. Estes fatos apenas comprovam que, realmente são inimigos de Deus. O veneno da serpente que foi inoculado no primeiro Adão foi repassado aos seus descendentes conforme Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." O pecado a que alude o texto é a natureza pecaminosa que, por sua vez, gera os atos pecaminosos. A morte referida no texto não é apenas a morte física, mas a morte espiritual, a saber, a separação entre o espírito do homem e o Espírito de Deus, implicando em perda da comunhão. 
Fl. 3:18 e 19 - "... porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas." A inimizade à cruz é a expressão exterior da inimizade interior a Deus. A cruz é o lugar onde Deus, acordou na eternidade pretérita, a redenção dos pecadores eleitos. A cruz é o lugar no tempo e no espaço onde o projeto de Deus se concretizou em Cristo, reconciliando os seus inimigos, os quais escolheu de antemão e os predestinou para serem conformes à imagem e à semelhança de si mesmo. A cruz não é um símbolo religioso, mas um princípio interior a ser seguido. A cruz não é um emblema de religião exterior, mas um caminho a ser percorrido conforme Gl. 2:20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim." Não é o "eu" quem vive, mas Cristo vive no interior dos eleitos que foram incluídos em sua morte e em sua posterior ressurreição. O "eu" humano, também chamado de "homem interior" pelo apóstolo Paulo, é o inimigo de Deus. Este ciclo só se rompe quando a maldição eterna do pecado é quebrada e a alma redimida pelo sacrifício d'Aquele que amou os inimigos e, por eles, deu a sua vida.
Cl. 1:21 e 22- "A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis..." Muitos religiosos imaginam que, ao executar as exigências de suas religiões estão salvos. Outros imaginam que, além de executar todos os ritos, normas e preceitos, ainda terão de executar muitas obras para ganhar algo mais perante Deus. Todavia, enquanto seus espíritos mortos para Deus, suas almas impregnadas da natureza pecaminosa, e seus corpos que se degeneram para o pó, não forem redimidos e reconciliados, de nada valem seus sacrifícios de tolos. Isto está claro em Sl. 40:6 - "Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos; holocausto e oferta de expiação pelo pecado não reclamaste." Deus não precisa, não reclama e não deseja sacrifícios dos homens cujas almas estão contaminadas pela natureza pecaminosa e os espíritos mortos para ele. É como alguém que caiu na latrina e, ao sair de lá todo imundo, toma um pão e oferece aos amigos. Abrir os ouvidos significa a graça do amor de Deus mediante a fé e, tanto a graça, quanto a fé são dons de Deus e não virtudes humanas. É Deus quem abre os ouvidos dos pecadores eleitos. A ação é monérgica e jamais sinérgica!
Watchman Nee afirma em seu livro "Cristo, a Essência de Tudo o que é Espiritual" que, após o nascimento do alto, Deus destrói todos os atos, atitudes e obras ruins no regenerado, mas da mesma forma destrói todos os atos, atitudes e boas obras dos eleitos e regenerados. Muitos se escandalizam ao ler estas palavras, entretanto, é tudo muito simples. Todos os atos dos homens antes da experiência da regeneração estão contaminados pela natureza do pecado. Ainda que moralmente corretos e religiosamente praticantes estão irreconciliados espiritualmente. Suas experiências são apenas almáticas e não espirituais. Por isso se vê tantos desentendimentos, dores, sofrimentos, agressões, disputas, maledicência dentro de igrejas.
Sola Gratia!
Sola Fides!
Sola Scriptura!

domingo, dezembro 6

A GRANDEZA DA GRAÇA DO SACRIFÍCIO PELOS INIMIGOS

Rm. 8: 7 e 8 - "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus."
Deus, em Cristo, é o único caso em que alguém se sacrificou por seus inimigos. Um inimigo é, por natureza, um adversário e opositor ostensivo ou velado. Não se faz inimigo apenas por atos e atitudes, mas por natureza, posição e relação. Por exemplo, muitos entendem intelectualmente que anticristo é um ser maligno que se opõe a Cristo. Entretanto, há outra significação menos usual a qual indica que é anticristo, toda e qualquer pessoa, que pretende ocupar o lugar de Cristo, e não necessariamente, aquele que se lhe opõe. A oposição é consequência do desejo de querer usurpar o lugar de Filho Unigênito e Primogênito dentre os mortos. Neste sentido, todo homem já nasce anticristo! Isto porque todos já nascem portadores da natureza pecaminosa e antagônica ao Filho de Deus por posição e relação.
O texto de abertura mostra com clareza meridiana que a inclinação da carne é inimizade contra Deus. A carne a que alude o texto não é apenas a dimensão físico-biológica do homem. É, sobretudo, o conjunto dos comportamentos morais que se caracteriza pelos desejos, habilidade e competências puramente terrenas, humanas e diabólicas. O apóstolo Tiago traz luz sobre esta questão conforme Tg. 3: 13 a 15 - "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Há larga distância entre conhecimento, sabedoria e entendimento. A evidência que alguém possui a sabedoria espiritual, aquela que provém de Deus, é o bem proceder e as consequentes obras de mansidão. Na maioria das vezes os religiosos invertem tal ordem, colocando os comportamentos como causa da sabedoria espiritual. Na verdade, o bom comportamento moral é consequência e não causa de espiritualidade. Então, a sabedoria humana possui três dimensões: é terrena, almática e diabólica. Terrena, porque toma por referência apenas o ponto de vista das realidades deste mundo; almática, porque é consequência dos desejos, habilidades e competências oriundos da alma humana; diabólica, porque todo homem possui a natureza contaminada pelo pecado inoculado pelo Diabo no primeiro Adão.
Por todas estas razões e outras tantas é que o homem se inclina invariavelmente para a inimizade contra Deus. Não se iluda, tal inimizade se dá, tanto por boas obras, como por obras más. Não é uma questão de escolha, mas de natureza inclinada. Do estudo da fitobiologia apreende-se que o vegetal possui duas inclinações: o geotropismo, quando busca o solo para dele se alimentar, e o fototropismo, quando busca a luz solar para com ela realizar a fotossíntese e sintetizar o alimento. Assim são os homens, se inclinam sempre para serem inimigos de Deus, consciente ou inconscientemente. Este é um fato duro de se reconhecer, porque cada um avalia sua relação com o sagrado por meio de comportamentos ritualísticos e religiosos. Estes, todavia, nem sempre são exigidos ou inspirados por Deus. São frutos da concepção humana na busca frenética pela pacificação dos seus medos, dores e angústias almáticos.
Não se pode agradar a Deus estando na carne. Esta sentença é fulminante, porque não dá margem à qualquer recurso. Percebe-se que, "estar na carne", não se limita apenas à esfera do biofísico. É, de fato, ser guiado pelos desejos, vontades e decisões baseadas apenas no que é terreno, almático e diabólico. Por esta razão todos os homens são inimigos naturais de Deus, ainda que sejam bons cidadãos, bons religiosos, ou bons ateus. O texto bíblico afirma que não há ninguém justo, que entenda, e que busca a Deus conforme Rm. 3:10 e 11 - "... como está escrito: não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus." Todavia, a própria natureza inimiga de Deus faz que os melhores entre os homens desviem o entendimento de textos desta categoria. O orgulho e a presunção de bondade e retidão ofuscam a verdade bíblica.
O oposto de estar na carne é andar no Espírito, ou seja, é ter sido reconciliado com Deus por meio da inclusão na morte de Cristo e na sua consequente ressurreição. Tudo isto é por fé e não por atos e atitudes como exercício de religião. Andar no Espírito é receber a sabedoria do alto conforme Tg. 3: 17 e 18 - "Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz." Isto não implica em perfeição, mas em reconciliação com Deus que passa a determinar o querer e o efetuar da vontade humana. Cristo, na cruz, mudou o cativeiro dos eleitos e regenerados. Isto foi previsto em Ez. 11: 19 e 20 - " E lhes darei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne, para que andem nos meus estatutos, e guardem as minhas ordenanças e as cumpram; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus." Este ensino é paralelo ao ensino do nascimento do alto que Jesus ministra a Nicodemos em João capítulo 3.
I Pd. 3:18 - "Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito." A morte de Cristo foi inclusiva e substitutiva, visto que na cruz o pecador eleito foi incluído para perder sua natureza inimiga de Deus, e substituído espiritualmente no tempo e no espaço para a vida eterna. Isto é confirmado em Jo. 12:32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." É evidente que, apenas por meio da substituição dos injustos pelo Justo de Deus que as naturezas pecaminosas e inimigas de Deus seriam aniquiladas conforme o registro de Hb. 9:26. Também em Rm. 5: 8 a 12 se vê claramente a relação de inimizade natural do homem contra Deus - "Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram."
A grandiosa graça de Deus consiste em que o Justo sacrificou-se pelos injustos, fazendo de Deus em Cristo o único caso em que alguém se oferece em sacrifício pelos inimigos conforme Cl. 1: 21 e 22 - "A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis..." Foi esta Graça que levou Jesus, o Cristo a perguntar a Judas Iscariotes na noite da traição: "... a que vieste, amigo?"
Sola Gratia!
Solo Christus!
Soli Deo Gloria!

sábado, novembro 14

A SOBERANIA DE DEUS

Rm. 9: 6 a 18 - "Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente isso, mas também a Rebeca, que havia concebido de um, de Isaque, nosso pai (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito: o maior servirá o menor. Como está escrito: amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia. Pois diz a Escritura a Faraó: para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra. Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece."
Soberania é um substantivo feminino que provém originalmente do latim 'super omnia' e significa 'acima de tudo' ou 'poder supremo.' Soberania implica, obrigatoriamente, em uma natureza de poder acima de qualquer outro poder. É um poder superior derivado de autoridade plena. Por esta razão é atribuído apenas a Deus, porque moralmente nenhum outro ser possui competência para ter poder maior que o d'Ele. Isto é revelado por Deus mesmo em Hb. 6:13 - "Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo..."
O homem em seu estado decaído e absolutamente depravado perante Deus recebe como soberania apenas aquilo que lhe é interessante. Neste sentido, relativiza a soberania, tornando-a vazia de significado e sentido. A tendência natural do homem portador da natureza pecaminosa é atribuir a Deus apenas soberania naquilo que lhe convém. Quando colocado sob prova, o homem atribui à sua miséria e ao seu infortúnio à maldade dos outros homens, à ação do Diabo, às intempéries da natureza, à falta de sorte. Jó percebeu, no auge da sua provação que, tanto o bem, como o mal que acontece ao homem estão debaixo da soberania de Deus conforme Jó. 2: 10 - "Mas ele lhe disse: como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios."
Cena recorrente em igrejas espetaculosas e fora da verdade das Escrituras é atribuir todo e qualquer mal ao Diabo e todo o bem a Deus. Criam uma dicotomia dogmática sem examinar a realidade da natureza humana decaída, produzindo teologia sobre o vácuo. A experiência de Jacó no vau do Jaboque demonstra que, por vezes, Deus aperta o homem para que este se veja tal como é. Jacó lutou com o Anjo do Senhor toda a noite, até que, exausto, confessou quem, de fato, era, a saber, um suplantador. Desta forma, Jacó foi liberado pelo mensageiro que lhe deu uma marca de fragilidade, ferindo-lhe o nervo ciático e mudando-lhe o nome para Israel. É isto mesmo que a soberania de Deus opera no homem: reconhecimento do próprio estado pecaminoso e conhecimento do poder d'Ele para redimi-lo desta condição. Isto é muito lógico, pois se alguém almeja ser perdoado, como pode não confessar que é culpado?
Assim que a mídia noticiou os ataques de 13 de novembro de 2015 em Paris, pelo Estado Islâmico, começaram surgir inumeráveis posts no 'facebook' pedindo orações e rezas pela França e por Paris. Ora, o que adiantaria orar por algo que Deus tinha pleno conhecimento antecipado e permitiu que ocorresse? É ele mesmo quem afirma ter conhecimento dos fatos antes que os mesmos ocorram conforme Is. 46: 9 e 10 - "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade." A este atributo divino dá-se o nome de Onisciência, a saber, Deus sabe todas as coisas antes mesmo que elas aconteçam. Daí o néscio diz: "se sabe, porque não interferiu?" Exatamente, porque é Deus quem preordenou todas as coisas, boas e ruins. Tudo possui um propósito na mente de Deus. Além do que, os conceitos de bom e ruim é puramente relativizado na experiência humana.
O texto que abre esta instância demonstra com clareza meridiana a natureza da soberania de Deus. O Espírito Santo mostra, por instrumentação do apóstolo Paulo, que nem todos os homens são filhos de Deus. Não é o 'status quo' do nascimento de alguém que lhe garante filiação a Deus. Ele mostra que, nem todos os filhos de Abraão são israelitas ou filhos da promessa. São os filhos de Isaque que são contados como filhos da promessa, porque tal fato está fundamentado na soberania de Deus. Não foi Abraão o prometido, mas Isaque, portanto a promessa do advento do Salvador ocorre pela promessa de um filho que seria o cabeça de uma nação - Israel - por meio da qual viria o Redentor. Abraão era já de noventa anos e Sara com mais de sessenta anos. Portanto, do ponto de vista biológico seria muito difícil aos dois ter um filho. Entretanto, Isaque nasceu por causa da promessa e não por força das condições biológicas favoráveis. Desta forma, a descendência de Abraão em Isque se deu pela fé e não pelas circunstâncias. Foi a soberana vontade de Deus que determinou o nascimento de Isaque. Isaque é o tipo das coisas que aos homens são impossíveis, mas a Deus são perfeitamente possíveis. Tal ensino mostra que é pela fé que alguém é feito filho de Deus e não por outros mecanismos.
O texto paulino mostra ainda que a questão da eleição e predestinação não é uma decisão com base no que o homem faz ou deixa de fazer, mas na soberania de Deus. Falando de Jacó e Esaú é dito que eles sequer haviam nascido, ou mesmo praticado o bem ou o mal para que Deus determinasse que Jacó seria o escolhido. É dito ainda que, Deus amou a Jacó e odiou a Esaú. Neste ponto os advogados de Deus partem para a sua defesa dizendo que isto é um absurdo e que Deus ama a todos de igual modo. Todavia, o texto diz claramente que ele amou a Jacó e odiou a Esaú. Alguns tradutores tentam suavizar trocando o termo 'odiou' por 'amou menos' ou 'aborreci'. Todavia o texto grego koinê original diz literalmente que Deus odiou a Esaú. Ora, porque o Deus único e soberano não pode fazer o que quer? Só para satisfazer os melindres de homens dissolutos e decaídos? Jacó em nada era melhor que Esaú, até porque, ambos sequer haviam nascido ou praticado qualquer bem ou mal, quando Deus afirmou sua escolha. Trata-se, portanto, de uma livre e soberana escolha de Deus. A escolha é anterior a qualquer ato de ambos, provando que Deus decide pela soberana vontade e não por aquilo que o homem faz ou deixa de fazer. Não são os atos de justiça própria que leva a Deus a escolher alguém para a vida eterna, mas que tal escolha foi feita antes da fundação do mundo conforme Ef. 1: 3 a 6 - "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado."
No caso do Faraó que governava o Egito por ocasião da libertação do povo de Israel, Deus fez a mesma coisa. Mostra o texto que Deus mesmo levantou aquele faraó para mostrar a sua soberania sobre os povos e nações. Portanto, Deus demonstra misericórdia a quem quer e endurece o coração de quem quer. Caso alguém julgue isso injusto, peça uma audiência com o Altíssimo e o questione, se é que podes! 
Sola Scriptura!

quarta-feira, novembro 11

ESTADO, ECONOMIA E IGREJA

Mc. 12: 14 a 17 - "Aproximando-se, pois, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro, e de ninguém se te dá; porque não olhas à aparência dos homens, mas ensinas segundo a verdade o caminho de Deus; é lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos? Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, respondeu-lhes: por que me experimentais? trazei-me um denário para que eu o veja. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes Jesus: de quem é esta imagem e inscrição? Responderam-lhe: de César. Disse-lhes Jesus: dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E admiravam-se dele."
Ao longo da história do Cristianismo muitas controvérsias têm surgido. Algumas desaparecem rápido, outras prolongam-se por algum tempo ou por muito tempo. Outras, entretanto, permaneceram até o presente quadrante da História. Em sua maior parte, tais celeumas são levantadas por homens que, não tendo uma mensagem evangélica legítima, sustentam debates e discussões a fim de manter seus ganhos por meio da religião. Grande parte dos embates entre religiosos envolvem textos bíblicos, mas, na essência, nada têm a ver com a verdade bíblica. Não se trata de apurar a verdade que comunica a vivificação ao homem decaído e absolutamente morto para Deus. Trata-se, outrossim, de discussões inócuas a fim de manter as mentes vazias de Deus ocupadas em destilar venenos e antídotos a si mesmos.
Aqui ou ali ressurgem discussões sobre separação entre Estado e Igreja. Discute-se muito sobre a laicidade do Estado e da necessidade de enquadrar as igrejas nas mesmas obrigações fiscais e penais a que as demais instituições estão sujeitas por força de lei. Por esta razão crescem as bancadas católicas, evangélicas e de outros credos nos parlamentos. Mesmo na velha Europa onde questões de fé já não causam mais grande interesse, há diversos partidos cristãos. Caso houvesse uma enquete séria para perquirir políticos destes partidos, o resumo seria desastroso relativamente à verdade bíblica sobre a pessoa de Jesus e seus ensinos dos quase dois mil anos de Cristianismo. São posições políticas sem uma relação com o Cristo. Trata-se, portanto, de oportunismo pelo poder.
O texto que abre esta instância fala por si mesmo, dispensando outros textos paralelos. No tempo em que o Grande Rei andou entre os homens, a liderança política, religiosa e econômica muito se incomodou com suas posturas não engajadas e politicamente incorretas. Sempre que surgia uma oportunidade tentavam colocá-lo em uma cilada. Tal realidade é uma constante ainda hoje quando alguém destoa do sistema vigente e dominante. Os armadores de cilada aparecem para testar e qualificar o diferente. O objetivo é exclui-lo dos seus convívios para afastar qualquer ameaça de desintegração dos seus meios de vida.
Os inquisidores, quase sempre, se aproximam com lisonjas e afagos para ganhar a confiança do inquirido. Desta forma, ao afirmar que Jesus era um mestre, verdadeiro, que não buscava apoiar-se na glória dos homens e ensinava o verdadeiro caminho de Deus pode, por alguns instante, trair as mentes não nascidas de Deus. É uma declaração sedutora, uma vez que induz à ideia que o inquiridor está perfeitamente concordante com a mensagem e a postura do inquirido. Entretanto, é um artifício que visa a introdução do real motivo. Funciona como uma espécie de facilitador ou negociador para testar o tipo de espírito que está no outro. Não há qualquer mentira nas afirmações dos inquiridores de Jesus, o Cristo. De fato, ele é um mestre, verdadeiro, que não olha para a aparência do homem e ensina o verdadeiro caminho de Deus. A questão não está no que Jesus é, mas naquilo que oculta a intencionalidade do inquiridor. Seus interlocutores estavam interessados em expô-lo ao julgamento do Estado e da elite dominante.
Após lançar suas ciladas, partiram para o ataque direto: "... é lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?" Esta questão possui uma dupla armadilha, porque se a resposta fosse afirmativa condenariam Jesus pelas leis religiosas judaicas. Caso fosse negativa condenariam Jesus por insubordinação e rebelião à autoridade de César. Olhando desta forma parecia não ter saída. Todavia, a lógica humana é nula perante a sabedoria de Deus. Assim, Jesus, serenamente, percebeu a hipocrisia deles, pois os conhecia pelo espírito e não apenas pelo exterior. Importante notar que hipocrisia provém do grego 'hupókrisis' que significa 'resposta, ou resposta de oráculo'. Analisando apenas linguisticamente não parece trazer muita luz. Entretanto, considerando que oráculo é a interpretação que o sacerdote, profeta ou pitonisa dá às respostas dos "deuses", fica evidente que se trata de uma dissimulação ou versão do intermediário. Por isto, as respostas dos agentes humanos aos que consultavam seus "deuses" eram sempre enigmáticas e indiretas. Os oráculos são sempre nebulosos por meio de metáforas, parábolas repletas de símbolos e tipos. O homem decaído ama o mistério e o oculto. 
A resposta de Jesus, o Cristo foi pragmática: "... trazei-me um denário para que eu o veja." Ora, o Cristo sabia perfeitamente o que estava cunhado na moeda do império romano. Todavia, pediu um denário para materializar a sua resposta. Então, ele pergunta de quem era a imagem e a inscrição na moeda. Os religiosos, então, responderam: "de César." Desta forma Jesus, os forçou a obter a própria resposta daquilo que perguntaram por astúcia. "É lícito dar a César o que é de César." Ajuntou à sua explicação didática: "... e a Deus o que é de Deus." O objetivo de Jesus, o Cristo é mostrar que a Economia e o Estado pertence à esfera do mundo terreno, mas a esfero do divino o Estado e a Economia não têm alcance, nem autoridade. A moeda representa a economia, os dizeres e a esfinge representam o Estado. Mas a contraposição à economia e ao Estado está a alma humana decaída e carente da graça salvadora de Deus em Cristo.
Desta maneira, o ensino de Jesus, o Cristo pode desdobrar-se na verdade que o domínio espiritual só pode ser impetrado, regido e conduzido por Deus, enquanto o Estado e a Economia são atividades puramente horizontalizadas, momentâneas e efêmeras. Para espanto de muitos, as religiões e seitas ditas cristãs estão mais preocupadas com o reino deste mundo do que com o reino vindouro. Quase todas suas atividades giram em torno do Estado e da Economia, valendo-se de meras declarações acerca de Deus, Escrituras, Jesus, Verdade, etc.
Sola Gratia!

segunda-feira, novembro 2

PAI PRÓDIGO, FILHO VIVIFICADO E IRMÃO LEGALISTA

Lc. 15: 11 a 32 - "Disse-lhe mais: certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades. Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada. Caindo, porém, em si, disse: quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. Disse-lhe o filho: pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se. Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças; e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. Respondeu-lhe este: chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. Replicou-lhe o pai: filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado."
O texto escriturístico em sua forma original era inteiro, a saber, corrido. Não haviam subdivisões em capítulos, versículos e títulos. A denominada erudição teológica acrescentou tais elementos, imaginando que facilitaria a sua leitura e compreensão. Desta forma deu-se início a uma série de intervenções humanas que em nada pode modificar a revelação de Deus ao homem. Talvez facilite apenas a compreensão intelectual, mas não a revelação espiritual. O problema da falta de conhecimento de Deus está no homem e não nos textos. No contexto que abre este estudo foi colocado o título "a parábola do filho pródigo." Todavia, Jesus não o chamou desta forma. Trata-se de mais uma intervenção dedutiva com base na lógica humana.
Pródigo é um adjetivo que admite dois sentidos: um sentido pejorativo e outro axiologicamente positivo. O sentido negativo afirma que pródigo é o indivíduo que gasta mais do que o necessário e dissipa os seus bens sem pensar no futuro. Este foi o título que, erroneamente, a chamada erudição bíblica deu ao texto da parábola de Jesus, o Cristo. Preferiram enfocar o aspecto de erro e culpa no filho que gastou a herança, enquanto o foco do texto é o amor do pai que tipifica Deus. O outro sentido afirma que pródigo é alguém generoso, liberal, magnânimo, fecundo e produtivo. Enquanto substantivo masculino faz referência ao indivíduo pródigo em qualquer dos sentidos. Portanto, positivamente, o verdadeiro pródigo no texto bíblico é o pai, visto que recebeu o filho com liberalidade e alegria, oferecendo-lhe um banquete e muitos presentes. 
O texto é rico em simbologia e por meio de linguagem figurada indica a relação de Deus com os eleitos e com os não eleitos. Indica as duas formas de relação e de posição dos homens diante de Deus. O pai que recebe o filho perdulário e desregrado que retorna, o faz com amor, liberalidade e alegria. O filho legalista é o que permaneceu com o pai, trabalhando honestamente, economizando e cumprindo regras. O filho mais velho representa aquela classe de pessoas que agem segundo códigos de moralidade, mas sem compreender o que é a graça e a misericórdia. Os que assim procedem são legalistas e se tornam escravos dos preceitos, dos ritos e das regras estabelecidas. No campo espiritual, acreditam que podem ganhar a vida eterna por cumprir normas apenas seguindo-as. Todavia, são pessoas ciumentas, rancorosas e magoadas, porque apresentam-se por meio dos seus méritos e não confiam na graça. São do grupo dos que tentam se aproximar de Deus pelo desempenho da justiça própria e pelos méritos próprios. Tais pessoas são, na essência, como Caim que, apresentou a oferta do próprio esforço e da justiça própria. Caim não entendeu o plano de Deus para a redenção do pecador. Contrariamente Abel entendeu que o projeto de Deus para redimir o pecador era por meio do substituto legal e perfeito. Por esta razão Deus se agradou de Abel e da sua oferta, mas rejeitou a Caim e a sua oferta. O resultado foi o assassinato de Abel por seu irmão Caim, porque este não suportava ser rejeitado. Desta forma eliminou o pecador aceito para tentar ganhar a primazia da adoração a Deus. Assim, são muitos religiosos que, por cumprirem esforços de religião exterior, regra sobre regra, preceito sobre preceito se julgam melhores e mais merecedores da graça de Deus.
O filho que recebeu a herança antecipada e saiu pelo mundo a gastá-la dissolutamente representa o homem que recebeu de Deus o domínio sobre toda a criação, porém descrendo na Palavra de Deus perdeu a primazia. Adão foi o primeiro homem a entrar pelo caminho do esforço próprio e do mérito. Ouviu uma segunda mensagem que o incentivava a ser, como Deus, portador da autonomia. Com a queda do primeiro Adão caiu toda a humanidade conforme Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." O filho magoado da parábola de Jesus, o Cristo é o homem decaído e herdeiro da natureza pecaminosa de Adão. É um legítimo representante do primeiro Adão. O filho que esbanjou os bens é igualmente da raça adâmica, porém recebeu a graça para crer que poderia retornar ao recinto do pai e pedir perdão. Assim, as Escrituras mostram a nítida linha que separa eleitos e não eleitos. Os eleitos recebem a graça para enxergar sua própria natureza pecaminosa e ganham a fé para reconciliar-se com Deus. Os arminianos e legalistas decaem em seus semblantes e se enchem de rancor, ciúmes, vingança e maledicência contra os eleitos de Deus.
Pródigo é o pai nesta parábola, porque mesmo diante do filho dissoluto se mostrou perdoador e misericordioso. O filho gastador, por sua vez, confiou no amor do pai e não em si mesmo. Confessou sua culpa do pecado contra Deus e contra o próprio pai. Aproximou-se do pai sem nenhum mérito ou desempenho de justiça própria. Agiu pelo mesmo princípio de Abel e sua oferta com base na justiça do substituto.
Sola Scriptura!

quarta-feira, outubro 7

A MENSAGEM, O PECADO E A GRAÇA DE DEUS

Gn. 4: 1 a 7 - "Conheceu Adão a Eva, sua mulher; ela concebeu e, tendo dado à luz a Caim, disse: alcancei do Senhor um varão. Tornou a dar à luz um filho, a seu irmão Abel. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. Então o Senhor perguntou a Caim: por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar."
Há duas maneiras de estudar as Escrituras: uma é valendo-se dos recursos didático-teológicos e a outra é recebendo luz espiritual. A maior parte dos erros doutrinários e das grandes heresias surge exatamente, porque os religiosos insistem em interpretar as Escrituras à luz dos seus sistemas de crenças. A Teologia fornece diversas ferramentas para uma pessoa garimpar muitas coisas no texto bíblico. Entretanto, se este esforço não for unido à revelação do Espírito Santo ao espírito do homem, limitar-se-á apenas a uma peça de retórica bem elaborada. Não tem o poder de comunicar a verdade espiritual aos pecadores. Não passará de homilia, de exegese, e  de hermenêutica!
Acerca do episódio registrado no texto que abre esta instância, muito já se falou e se especulou. Alguns comentaristas, por falta de revelação, concluíram que houve deturpação da tradução do hebraico para o latim e, desta para outras línguas. Outros afirmam que alguns textos bíblicos são de difícil interpretação, porque são o reflexo da cultura oriental que é diametralmente oposta à cultura ocidental. Estes comentaristas se esquecem que o texto bíblico, enquanto letra pode até refletir o cenário cultural do escritor, mas há um fundo de inspiração espiritual que só pode ser revelado pelo Espírito Santo. O estilo e a convergência dominante de cada época, cultura e pessoa que escreve apenas refletem o modelo da narrativa, mas não a essência dela. A verdade a ser comunicada pelas Escrituras é espiritual e não intelectual, razão pela qual há um texto aberto e um texto fechado. Por esta razão, o texto grego neotestamentário difere a palavra escrita como sendo 'logos' e a palavra revelativa como sendo 'rhema.' Logos é apenas a letra, mas 'rhema' é o espírito da letra. Enquanto a primeira é o registro das narrativas, a segunda é o poder de Deus que vivifica o pecador morto em delitos e pecados. É aquela comunicação diretamente ao espírito do homem para vivificá-lo e reconciliá-lo com Deus.
O texto e o contexto no qual está a narrativa do assassinato de Abel por seu irmão Caim contém um versículo de difícil elucidação. Trata-se do verso sete, no qual leem-se as seguintes palavras: "porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? E se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar." A mensagem de Deus à Caim ocorre antes do assassinato de Abel. Caim era agricultor e Abel pastor de ovelhas. Ambos se apresentaram diante de Deus para fazer suas ofertas de adoração. Caim ofereceu o fruto do seu árduo labor, ou seja, ofereceu-se a si mesmo. Lavrar a terra retirando as ervas daninhas, plantar, cuidar e colher os frutos é um labor que exige grande esforço e desempenho. Abel, por sua vez, tomou um cordeirinho primogênito em seus ombros e o ofereceu sem muito esforço ou trabalho pesado. Deus se agradou de Abel por sua oferta, mas não se agradou de Caim por sua oferta. Vê-se que Deus se agradara de Abel pelo modo em que este se aproximou d'Ele. Não era uma questão da oferta em si, mas do modo correto do ofertante se apresentar diante de Deus. O modo da oferta explicita o nível de fé do ofertante: oferta dependente da graça de Deus e a oferta dependente do esforço e da justiça própria do ofertante.
A partir da recusa por parte de Deus, Caim alimentou profunda mágoa contra o seu irmão. Caim representa as pessoas as quais não suportam perder o lugar de primazia. Para manter o seu desempenho meritocrático resolveu eliminar o oponente, ainda que se tratasse do seu irmão. Decaiu-se-lhe o semblante, alimentando o rancor contra Abel. Deus, que tudo vê e tudo sabe, alertou Caim, preventivamente, contra seus intentos secretos. O texto em hebraico, língua matricial do velho testamento diz numa tradução literal: "Não é que, se ages bem, elevação, e se não ages bem, à tua porta o pecado dormindo e para ti sua cobiça e tu o dominarás." O que, de fato, o texto revela é que a elevação do semblante de uma pessoa é o reflexo da sua natureza. Desta forma, o agir bem é a exteriorização de uma natureza reconciliada com Deus, enquanto o mau procedimento é a revelação da natureza decaída e irreconciliada. Os pronomes hebraicos, no texto, para "seu" e "ele", por seus modos, não se referem ao pecado, mas a Caim. Era o próprio desejo de Caim que o colocava contra si mesmo. O pecado é apresentado como uma fera que finge dormir à espreita do coração de Caim. Ao alimentar a cobiça de obter exclusividade na adoração de Deus, matando o próprio irmão, tal fera acordaria e o dominaria. A única forma de Caim dominar o pecado seria levantando o semblante, ou seja, buscando a verdadeira adoração a Deus. Tal adoração dar-se-ia apresentando-se por meio do substituto e não por esforço e por justiça própria. Obviamente, isto traria a aceitação de Caim e da sua oferta perfeita, consequentemente, a alegria de espírito.
Abel era detentor da natureza pecaminosa, tanto quanto Caim, entretanto, aquele tinha consciência disso e aproximou-se de Deus por meio do substituto por reconhecer-se indigno. Isto indica que Abel ganhou revelação do significado da redenção por meio dos méritos de Cristo prefigurado no cordeirinho ofertado. Esta é a razão pela qual Deus atentou para Abel e para a sua oferta. O pecado é apresentado no verso sete como sendo uma fera acuada se fingindo de inofensiva. O pecado ataca a sua vítima e a forma dele ser dominado é pelo reconhecimento da culpa e da incompetência do pecador. A graça faz que o pecador transfira a sua culpa para a todo-suficiência e eficiência de Cristo conforme Rm. 7: 18 a 25 - "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado." Esta deveria ter sido a atitude de Caim para elevar-se perante Deus e não cultivar a ira e o ódio em seu coração que o fez cair nas garras da natureza pecaminosa. 
Na expressão indagativa: "... não é certo que serás aceito?" Deus está indicando a Caim a graça que supera o pecado. A forma de dominar o pecado é reconhecendo-se incompetente para oferecer mérito e justiça própria perante Deus. Por isso, Deus agradou-se de Abel e sua oferta, porque ele não tomou por base a si mesmo, mas ofertou-se por meio do substituto inocente, puro e sem culpa do pecado. Caim, contrariamente, ofereceu-se a si mesmo por meio do suor do seu rosto. Por esta razão o apóstolo Paulo doutrina que a salvação é pela graça mediante a fé conforme Ef. 2: 8 e 9 - "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie." A natureza pecaminosa no homem sempre e invariavelmente busca a gratificação de si mesmo.
Sola Gratia!