segunda-feira, junho 15

LIVRE-ARBÍTRIO, UM FALSO "DEUS" ENTRONIZADO NO FALSO CRISTIANISMO

Jo. 8: 31 a 34 - "Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: sereis livres? Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
'Livre-arbítrio' ou 'livre-alvedrio' em Filosofia é a possibilidade de o homem decidir e escolher em função da própria vontade isenta de qualquer condicionamento, necessidade, motivo ou causa determinante. Bem, neste caso, esta possibilidade só se aplica a Deus, porque só ele é onipotente, onisciente e onipresente. Implica em que apenas Deus se basta a si mesmo. Ele não sofre qualquer motivo condicionante ou causa determinante externa à  sua vontade. Deus é Soberano, portanto, nada, nem ninguém além d'Ele próprio pode determinar ou gerar uma necessidade que o determine fazer ou deixar de fazer algo. 
Discutiu-se à exaustão o livre-arbítrio nas décadas de 1950 e 1960, pelos existencialistas. Após esta época, o Existencialismo entrou em crise, visto que seus pensadores se depararam com o mal moral na sociedade. Não acharam uma saída para justificar o livre-arbítrio ou livre-alvedrio. Esta realidade está posta no Mito de Sísifo de Albert Camus. Esta é uma questão de natureza dada ao homem. Não é possível fazer escolhas absolutamente livres. Quando não se pode escolher livremente, também não se pode julgar ou arbitrar livremente. Logo, ninguém é absolutamente livre ou autônomo. Toda escolha é condicionada a uma necessidade determinante.
A doutrina do livre-arbítrio procede de um ensino muito antigo e anterior ao próprio Cristianismo. Trata-se do Gnosticismo, a saber, a crença que a gnose é capaz de estabelecer, no homem, a capacidade de decidir e escolher autonomamente. O objetivo dessa doutrina era e ainda é afirmar que o homem é o seu próprio 'deus'. Já no primeiro século da Era Cristã, tal doutrina penetrou na Igreja Primitiva por meio do Helenismo. Nos escritos do apóstolo Paulo percebe-se que ele combateu este ensino disseminado pelos cínicos, epicureus, céticos, ecléticos, estoicos, hedonistas, cerintianistas e arianistas.
O Cinismo foi fundado por Antístenes, discípulo de Sócrates, em Atenas por volta de 400 a. C. A essência desta escola filosófica foi o desprezo àquilo que a sociedade dominante considera valor e valorização da simplicidade do viver. Diógenes foi a expressão máxima do cinismo. Atribui-se a ele a seguinte máxima: faço festa aos que me dão alguma coisa, lato contra os que não me dão nada e mordo os celerados.”
O Epicurismo foi fundado por Epicuro que viveu entre 341 e 271 a. C. Esta escola ensinava a busca do prazer, porém como uma fuga da dor e não como entrega às paixões. Para os epicureus, a busca pelo prazer é uma virtude, pois viam a dor como o mal. O prazer, neste caso, ocorre quando o homem supera as paixões. Ou seja, o importante é se sentir bem e feliz. Acaso não é este o modo de pensar de diversas pessoas ainda hoje?
O Ceticismo foi fundado por Pirro no século IV a. C. Tal escola ensinava que a sabedoria consiste em buscar o conhecimento e não a verdade. Para os céticos as coisas “são igualmente sem diferença, sem estabilidade, indiscriminadas; logo nem nossas sensações nem nossas opiniões são verdadeiras ou falsas.” Este pensamento persistiu até o século VII d. C. E, de certa forma, ainda é bastante persistente na natureza humana.
O Ecletismo não teve um fundador específico, mas aglutinava um conjunto de pensadores na Grécia Antiga. Os ecléticos opunham-se aos céticos e afirmavam que a verdade não se limita a um sistema filosófico apenas. Para os ecléticos o desacordo dos filósofos deve-se ao fato que, não podendo a fraca mente humana abarcar toda a verdade com um só olhar, um filósofo limita a sua investigação a um aspecto e outro filósofo a outro aspecto. Assim, estudando aspectos diferentes da realidade é natural que cheguem a conclusões diferentes. Por isso, para se chegar a uma compreensão adequada das coisas, não se deve confiar em um só filósofo, mas é necessário reunir as conclusões das pesquisas dos melhores entre eles.
O Estoicismo foi fundado por Zenão de Cicio, o qual viveu entre 335 a 264 a. C. Esta escola caracterizou-se por pregar grande austeridade no modo de viver. Para os estoicos a vida de um homem sábio deve ser pautada por uma ética de imperturbabilidade, anulação das paixões e resignação diante do destino. Exerceu grande influência na ética cristã por muitos séculos. 
O Cerintianismo fundado por Cerinto, um gnóstico judeu do 1º século d. C. foi apontado pelos cristãos primitivos como sendo uma heresia. Ele negava a divindade de Cristo, e, também, que Deus fosse o criador do mundo físico. Cerinto ensinou numa época em que a relação do Cristianismo com o Judaísmo e com a Filosofia grega não estavam ainda muito claras.
O Arianismo foi fundado pelo bispo Ário presbítero de Antioquia. O arianismo era antitrinitariano, ou seja, negava que Deus fosse três pessoas distintas e negava a divindade de Cristo. Santo Atanásio combateu o arianismo como heresia, tendo sido o único até que se provou estar com a verdade. Atanásio usou o seguinte argumento: "Deus só é o pai, porque é o pai do Filho." Parece simplista, mas é altamente lógico, visto que todos os outros homens são apenas criaturas de Deus e não filhos.
O elemento Gnóstico de todas estas escolas filosóficas consiste em que o homem deve buscar e crer que pode estabelecer padrões comportamentais ou morais em busca da verdade. Entende-se verdade, do ponto de vista filosófico, como encontrar a felicidade e o bem-estar. Não a redenção da natureza contaminada pelo pecado e seus consequentes atos pecaminosos. De todos estes pensamentos, conclui-se que o 'modus vivendi' e o 'modus operandi' da sociedade moderna apresenta um pouco de cada um deles. Tais ideias gnósticas foram sendo incorporadas lenta e gradativamente em diversos setores da vida, chegando até os púlpitos das igrejas cristãs nominais da atualidade. 
O texto que abre este estudo é uma resposta ao livre arbítrio como uma crença ou crendice desprovida de fundamentos espirituais. Ao dizer aos líderes religiosos que "todo aquele que comete pecado é escravo do pecado", Jesus, o Cristo colocou todos debaixo da impossibilidade de fazer escolhas livres. Quem é escravo da natureza pecaminosa não é livre, se não é livre, não pode fazer escolhas livres. O que a maioria das pessoas confunde é que, escolhas naturais ou mecânicas que o homem pode fazer, não são escolhas espirituais. São escolhas apenas funcionais. Estas são apenas mecanismos funcionais para protegê-lo e garantir-lhe sobrevivência no mundo contaminado pelo mal. A alma decaída ilude o homem sobre ter autonomia para escolher, inclusive, escolher rejeitar a graça de Deus. Ora, quando alguém rejeita a Graça e a Misericórdia de Deus é porque não pode recebê-las. Não pode receber, porque está morto espiritualmente e não porque decidiu não recebê-las. Isto é confirmado em Rm. 3: 10 e 11. A gravura ilustrativa desta página mostra uma vaca sendo conduzida ao matadouro. Ela pode escolher entre a entrada à sua direita ou à sua esquerda, porém, ambas conduzem-na para o abatedouro. Por exemplo, qual o nível de escolha do homem sobre a certeza da morte? 
Diante do exposto, algum legalista poderia dizer: mas a Bíblia fala sobre livre arbítrio. Não, na verdade, não fala. São os exegetas de meia boca que tomam dos textos bíblicos e os transformam nesta falsa doutrina. Os tais citam, por exemplo, Dt. 30:19 - "O céu e a Terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência." O texto faz referência ao povo de Israel, quando retornava do cativeiro de 430 anos no Egito. Logo, não se trata de um texto soteriológico, mas de um texto histórico de Israel na "terra prometida." Este é o perigo de usar textos históricos como espirituais e vice-versa. A própria História de Israel mostra que, na maior parte das vezes, o povo escolheu o erro e a destruição. Não se trata de escolha espiritual, mas de escolhas naturais, morais e de sobrevivência no mundo. E, até estas escolhas, são sempre condicionadas pelas necessidades e pelos determinantes da natureza decaída e pecaminosa.
O desejo que foi inoculado no homem por Satanás persiste em sua alma até que este seja justificado em Cristo. O fundamento está em Gn. 3: 4 e 5 - "Disse a serpente à mulher: certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." Esta é, pois, a origem do livre arbítrio, uma ilusão colocada no coração do homem que o levou à corrupção, decadência e ruína. Foi para reconciliá-lo e justificá-lo que Jesus, o Cristo se tornou homem, morreu e ressuscitou. Enquanto o portador da natureza decaída não crer que foi incluído na morte de Cristo, não possui qualquer compreensão do que seja o livre-arbítrio. Possui, apenas a ilusão de que pode fazer escolhas livres. Tais escolhas, são, de fato, o que se chama de servo-arbítrio, porque são condicionadas à natureza escravizada pelo pecado. Por esta razão Cristo disse aos iludidos com a falsa autonomia: "... conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
Sola Gratia!

quinta-feira, junho 11

SEM REVELAÇÃO NÃO HÁ CONHECIMENTO DE DEUS

Mt. 16: 13 a 17 - "Tendo Jesus chegado às regiões de Cesaréia de Felipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: quem dizem os homens ser o Filho do homem? Responderam eles: uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus."
Revelação é um substantivo feminino que traz as seguintes significações: 1. Ato ou efeito de revelar(-se). 2. Entre os cristãos, ação divina que comunica aos homens os desígnios de Deus e a verdade que estes envolvem, sobretudo através da palavra consignada nos livros sagrados. 3. A doutrina religiosa revelada, por oposição àquela a que se chega pela razão apenas.  
É necessário esclarecer que há diversas acepções para o substantivo revelação. Entretanto, a que importa neste estudo, é aquela que se relaciona ao desvendamento das Escrituras ao espírito humano. Revelação, no sentido aqui tratado, não é apenas o saber ou o conhecimento cognitivo acerca dos textos sacros. Trata-se de um conhecimento dado pelo Espírito Santo conforme Jo. 16:13. Logo, nada tem a ver com conhecimento hermético, ou seja, hermetismo ou hermeticismo que é o estudo e a prática da filosofia ocultista e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto. Este tal Hermes Trimegisto é uma falsa deidade sincrética que combina aspectos do 'deus' grego Hermes e do 'deus' egípcio Thoth. De fato, tal divindade nunca existiu, sendo apenas um homem que se auto-proclamava 'deus'.
O simples saber acerca da existência de Deus, de religião, de Jesus, o Cristo, da Bíblia ou de qualquer misticismo, nada tem a ver com revelação espiritual. O mero saber acerca das realidades espirituais não torna uma pessoa espiritualizada e espiritual. No máximo, a torna espiritista, a saber, praticante de cultos ou crenças em espíritos. As Escrituras não tratam dessa natureza de crença, porque não são ensinos procedentes de Deus. 
Então a quem é destinada a verdadeira revelação? A natureza da verdadeira revelação é dada àqueles cujos espíritos, antes mortos para Deus, agora foram vivificados por meio da inclusão da sua morte, na morte de Cristo. Isto é doutrinado em Ef. 2: 5 e 6 - "... estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus ..." Este processo é denominado, no Novo Testamento, de "novo nascimento." Isto está ensinado em diversas partes das Escrituras, como por exemplo, em I Co. 15:22 - "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados." Obviamente que os 'todos" vivificados em Cristo, não são todos os homens. São aqueles todos conhecidos de antemão, predestinados, chamados, justificados e glorificados conforme Rm. 8: 29 e 30.
A revelação é, antes de tudo, uma ação monérgica, ou seja, ação direta e irrevogável de Deus. Um dos casos que retrata a verdadeira revelação é citado no texto que abre este estudo. Verifica-se no referido texto que, após a interrogação de Jesus, os discípulos responderam de acordo com o que haviam ouvido: "... uns dizem que és João, o batista, outros Elias, outros Jeremias ou mesmo algum dos profetas." Vê-se que se trata de um saber difuso e conseguido por meio meio do senso comum ou pela mão de terceiros. Não havia a revelação única e de origem divina. Eram apenas opiniões de acordo com as percepções humanas e a lógica do senso comum. 
Observa-se que Pedro confessou exatamente quem era Jesus, porque isto não foi o resultado da sua concepção ou percepção almática. Foi-lhe dado como revelação espiritual. Quem diz isto é o próprio Jesus, o Cristo: "Disse-lhe Jesus: bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus." A revelação almática, ou seja, da carne e do sangue é aquela elaborada segundo a percepção da alma, dos conhecimentos analíticos e comparativos do próprio homem. É um saber intuitivo e fundamentado na lógica material ou percebida pelo intelecto humano. 
Jo. 17:26 - "... e eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer ainda; para que haja neles aquele amor com que me amaste, e também eu neles esteja." Neste texto, Jesus, o Cristo afirma que ele fez os discípulos conhecer o nome de Deus. Não se trata aqui de um conhecimento intelectual do nome próprio de Deus, mas do conhecimento do ser d'Ele. Não é como Deus se chama, mas de quem ele é. É este conhecimento que liberta conforme Jo. 8:32 - "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Não se trata apenas de uma libertação de erros, fraquezas e delitos praticados pelo homem, mas a libertação de quem o homem é sem a vida de Cristo. Sem Cristo, o homem é decaído, ou seja, morto para Deus.
Ap. 1:1 - "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João." Neste contexto, não se trata apenas de uma sequência acerca de eventos que aconteciam, e iriam acontecer, mas da revelação da pessoa de Jesus, o Cristo. Ao ler todo o capítulo 1 de Apocalipse fica muito claro que se trata da demonstração de quem é ele. Deus mostrou a Cristo o que ele é, o que fez, e o que faria e, este, mostrou aos seus servos, por meio do anjo que as notificou a João, que as escreveu para registro às novas gerações.
Em alguns segmentos do cristianismo nominal ou histórico há algumas pessoas que se autodenominam profetas. Reivindicam para si determinados dons espirituais. Entretanto, sempre buscam ou se autoproclamam portadoras apenas dos dons que lhes confere notoriedade. Nenhum tem o dom de cuidar dos necessitados. O pior, neste caso, é o fato de estas pessoas enganadas se posicionarem como os portadores de um conhecimento esotérico. É como se apenas eles fossem os iluminados aos quais Deus faz alguma revelação exclusiva. Ora, toda a revelação de Deus já foi compendiada. Isto está doutrinado claramente em Hb. 1:1 - "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo."
Sola Scriptura!