segunda-feira, março 17

Inimigos da Cruz IV


Com efeito, foi dito, que o religioso é um antinomista por natureza, posição e relação. O que mais o irrita é a salvação pela graça e a soberana vontade de Deus, ao conhecer e eleger de antemão os que escolheu para viver com Ele eternamente. Isto lhe causa espécie, porque a alma decaída e totalmente depravada por natureza herdada da serpente, quer ser, como Deus, conhecedora do bem e do mal. De fato, ela possui esse conhecimento, mas o tal está circunscrito à vala do pecado e da apostasia em relação a natureza de Deus. Para corrigir este desvio ou mudança do alvo, é necessário morrer em Cristo. Os inimigos da cruz sempre se apropriam da verdade bíblica apenas até o ponto que lhes convém. Assim, eles falam em novo nascimento, cruz, regeneração, graça, fé, tão somente pelas suas próprias lentes. Não conhecem a profundidade das riequezas a que Paulo alude numa das cartas aos coríntios.
Phillip Yancey afiram que, "graça é Deus fazendo tudo por quem nada merece". Não há definiçõa mais completa e coerente com o ensino bíblico do que esta. A verdade é que, se o homem destituído da glória de Deus, por alguma razão, pudesse merecer qualquer coisa, a graça seria ridícula e desnecesária. O mesmo autor define misericórdia como: "Deus não dando ao pecador, aquilo que de fato ele merece, o inferno." Também é um enunciado coerente e verdadeiro de acordo com o padrão bíblico. Por estas verdades que se apreendem por bondade de Deus, é que os inimigos da cruz rangem os dentes, retinem os ouvidos e rasgam suas bíblias. Preferem fazer acordos com as forças gnósticas, porque estas lhes são mais afinadas as suas naturezas portadoras da peçonha da serpente.
Como os inimigos da cruz de Cristo, não podem alcançar a verdade, preferem borrifar os que crêem-na, com suas setas que voam de noite. Eles inventam doutrinas de homens e buscam consistência a estas nas Escrituras, forcejando os textos. É o caso de: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!" [Mt.23:37]. Eles utilizam este versículo, para justificar o famigerado conceito de "livre arbítrio" que não existe nas Escrituras, nem poderia ser comportado a elas, visto ser sofismático e falacioso. Nem mesmo na filosofia se consegue chegar a um consenso acerca de liberdade e juízo arbitrário. Considerar o homem como livre, significa dizer que nada e ninguém exerce sobre ele qualquer causação. Ele seria uma espécie de efeito sem causa, ou mesmo o efeito como a própria causa. Logo, Deus seria reduzido a uma nulidade, enquanto o homem seia elevado a categoria de um ser autônomo e absolutamente auto-determinante de sua própria existência. Só um louco pode afimar isto! Também, admitindo-se que o homem poussi arbítrio, admitir-se-á, então, que o mesmo pode estabelecer juízo, de si, para si e sobre tudo o que há no universo. Tais asseverações negam, primeiramente, a temporalidade do homem, além de restringir Deus a um mero expectador de Sua própria criatura. Esta posição é denominada de "teologia relacional". O texto de Mt. 23, anteriormente mencionado, nada tem a ver com "livre arbítrio", esta é uma invencionice pelagiana, erasmiana e arminiana. A expressão final "não o quiseste" é, em grego koiné, 'ouk ethelésate', isto quer dizer que Jesus não lhes está requerendo uma resposta afirmativa, ou cobrando uma reação positiva. Significa apenas, uma cláusula afirmativa e reafirmativa do que de fato é a natureza humana. O homem decaído não possui vontade livre e, muito menos, inclinação para Deus, por isso, ele invariavelmente não O quer. O desejo do homem contaminado pela natureza pecaminosa é invariavelmente inimigo de Deus e focado em si mesmo. Jesus estava lhes afirmando, que, apesar de tudo o que Ele disse e fez, eles continuaram em suas naturezas incrédulas. Os cegos confundem busca religiosa com desejo e vontade livre para voltar-se para Deus. Uma coisa nada tem a ver com a outra! A expressão grega de Mt. 23: 37 pode significar: desejo, querer e excusa, nada disso é determinante ou atuo-determinante. Aliás, foi pelo desejo que a mlher se deixou enganar pela serpente. O desejo do homem é o que lhe condena, justamente porque parte de uma natureza contaminada pelo pecado. Como poderia alguém ser, ao mesmo tempo, escravo do pecado e livre o suficiente para ser juíz?
O homem pecador, porque possui uma natureza pecaminosa, tem uma natural inimizade contra Deus, refletida no ódio e na rejeição à sua inclusão na cruz para perder sua via almática e ganhar a vida de Cristo. Se Deus, por misericórdia e graça não lhe conceder a fé para se voltar para Ele, nada acontece. Permanecerá como os habitantes de Jerusalém.
Os inimigos de Cristo desconhecem que é Deus quem conduz a vontade decaída do pecador e o leva à Cristo: "ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia."[Jo.6:45] Observa-se que o texto afirma que é uma questão de poder e não de querer. O homem pecador até deseja e busca coisas acerca de Deus, mas apenas dentro da esfera da religião e das suas lentes próprias com base no mérito e na justiça humana. Eles confundem escolhas morais e cerimoniais com o que chamam de livre arbítrio...
Por esta razão o Senhor Jesus assevera: "vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça...Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia."[Jo. 15: 16 e 19] Não são os eleitos que escolhem ao Senhor, senão dar-se-ia que a eleição seria uma mentira, pois escolher quem escolhe é desnecessário e absurdo. O Senhor é quem escolhe, designa, faz produzir fruto e o fruto é permanente. O Senhor escolhe os eleitos do mundo, mas não escolhe o mundo, pois senão a eleição seria igualmente dispensável. O mundo está na contramão da natureza de Deus, por isso, os inimigos da cruz de Cristo se incomodam tanto com os que são d'Ele. Há uma grande diferença entre escolher todos os eleitos dentre os todos que estão no mundo, e escolher todos os que estão no mundo. Isto só se percebe pelas lentes da misericórda e da graça dadas por Deus aos seus eleitos.
O que os inimigos de Cristo desconhecem, porque suas naturezas são guiadas por uma falsa autonomia entre os trilhos controlados pelo pecado, é que Deus não escolheu os seus com base na Sua presciência, mas com base na Sua Soberana vontade. Daí porque, eles também odeiam o conceito e a idéia de soberania. Suas naturezas religiosas estão apenas conformadas a este mundo que funciona às custas de uma lógica decaída e apostatada da verdade que é Cristo. São blindados dentro das paredes das suas próprias naturezas corrompidas, buscando reencontrar as portas do Paraíso perdido às suas próprias expensas.

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