Há uma enorme verossimilhança entre os inimigos da cruz de Cristo e os seguidores do religioso Caim. Este teve o semblante decaído e, posteriormente, se enfureceu contra o próprio irmão, matando-o, porque o seu sacrifício de justiça própria fora rejeitado por Deus. A ele pareceu injusto que o Senhor houvera se agradado da oferta de Abel, seu irmão. Afinal, o inerte Abel apenas tomou do que o próprio Deus fizera nascer e crescer livremente nos prados. Enquanto, ele, Caim, havia suado e se esforçado afim de lavrar a Terra, e, dela retirar as primícias para Deus. Afinal, era o fruto do esforço próprio e o resultado de grande dedicação. Sempre os religiosos presumem agradar a Deus com "o seu melhor". Todavia, o melhor do homem, aos olhos do Altíssimo, é como os trapos de imundícias de que fala Is. 64:6. A única coisa que o pecador sabe fazer de melhor é pecar, porque é da sua natureza. Por isso, a sua parte é fugir da verdade e a parte da Graça misericordiosa de Deus é correr atrás do pecador para lhe conceder perdão em Cristo por meio do convencimento do Espírito Santo.
Assim tem sido ao longo da história da humanidade decaída: os que são do esforço odeiam os que dependem da graça. Realmente, a graça é muito desconcertante, porque retira qualquer possibilidade de o homem se aproximar de Deus por sua natureza contaminada pelo pecado original. É uma graça sem graça, porque o engraçado, é o homem decaído querer parecer "deus". Os religiosos tentam envolver Deus em uma trama sórdida, a qual presumem agradá-Lo a partir de ações sinérgicas e desfocadas da verdade, que é Cristo mesmo.
Os que são predestinados à dependência plena da graça, em nada superam os da religião em natureza pecaminosa. Não são melhores ou mais santos, porque só há um que é Bom e Santo, a saber Deus. A única diferença reside, não neles, mas na ação monergística e soberana de Deus. Por misericórdia e graça os eleitos percebem logo que não podem agradar a Deus com o suor dos seus rostos, portanto, suas ofertas são por meio do substituto perfeito, sem mancha e sem defeito. Na oferta da ovelha obtida sem esforço próprio, Abel se declarou e se confessou incompetente a aproximar-se de Deus com base em qualquer ato de justiça própria. Isto agradou ao Senhor, não por ter sido uma percepção de Abel, mas porque ele se declarou, por ato, inadequado e carente da misericórdia de Deus. Foi uma perspectiva de dependência e não de livre agência apostatada. A oferta de Abel era um memorial do que seria a oferta perfeita em Cristo, de uma vez para sempre, afim de produzir redenção eterna aos eleitos.
Os inimigos da cruz, os quais não podem ver e não podem entrar no reino de Deus, excluem-na dos seus cultos, porque esta lhes desconcertam perante si mesmos. Não se fala aqui da cruz meramente como um emblema ou símbolo, mas do que ela representa efetivamene na esfera da fé. Então, como Caim, eliminam o que os impede de continuar oferecendo-se a si mesmos como libação ao invés de se oferecem por meio do Cordeiro de Deus imolado antes da fundação do mundo. Por isso, Deus joga luz à Caim no verso 7 de Gn. 4 - "Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar." Isto equivale dizer a partir de expressões idiomáticas hebraicas: "se em ti reside o bem, não deverias estar em paz? Porém, se em ti não há o bem conforme o reto direito, não está ofertado o substituto diante de ti? Então, levanta-te e agarra-te a Ele para que teu pecado seja perdoado." Deus em amor mostra a Caim que a questão era de eliminar o seu pecado por meio da oferta posta diante dele pela graça e não pelo esforço. Mostra que a única forma de dominar o pecado é por meio do substituto e não por legalismo, ativismo e méritos de justiça própria.
Deus não trata do pecado por meio da religião exterior, mas por princípios fundamentados em seus decretos eternos. A senteça contra o pecado é uma só: "certamente morrerás." Não há nada que o homem possa fazer em si, de si e para si mesmo que altere esta norma divina. Por saber que o homem não poderia mesmo cumprir a lei e escapar da sentença, Deus providenciou o substituto perfeito, suficiente e eficiente em Seu próprio Filho. Assim, Ele pune o pecado ralizando e satisfazendo plenamente a exigência da lei. Executa a justiça, cumprindo a norma e eliminando o pecado, matando-o na cruz conforme Rm. 6: 2 a 7 - "... de modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado."
Assim, os que são da fé, como Abel, crêem que morreram no substituto, Cristo, enquanto os inimigos da cruz, preferem continuar focados em suas próprias ações de justiça. Mas, como se pode obter coisa pura daquilo que é de natrueza imunda? Como o texto mostra, por fé, cremos que fomos sepultados com o Cordeiro substituto em Sua morte de cruz, para com ele ressuscitar ganhando a Sua vida de santidade. Semelhantemente, Abel creu que ao ofertar das primícias das ovelhas, estava se aproximando de Deus pela própria ação de Deus e não em si mesmo. Ele se sepultou no substituto para poder chegar à presença de Deus, pelo sangue deste substituto. A ovelha oferefcida por Abel era o tipo do Cordeiro de Deus imolado antes da fundação do mundo. Então, Abel creu no invisível e esperou no substituto, ao invés de apresentar-se a si, por meio das suas obras de justiça e esforço.
Quando então os eleitos de Deus foram unidos a Cristo na semelhança da Sua morte? Quando crêem que foram atraídos à cruz, para nela, perderem a vida da alma, e ganharem a vida de Cristo na ressurreição. Como os da religião de Caim não podem crer isto, matam a verdade pela mentira, diluindo a graça em esforço e obras de justiça próprias.
O corpo do pecado é a carnalidade resultante da queda e da depravação total produzida por ela. Esta velha natureza herdada de Adão e refletida em Caim só pode ser destituída na cruz, quando o sangue do Cordeiro de Deus retira a culpa do pecado de uma vez para sempre. Depois, os eleitos são tratados à luz da Palavra, sendo libertos da influência do pecado que persiste no mundo que jaz inteiramente no maligo. Depois, e, finalmente, serão libertos da presença do pecado, quando ganharem os corpos incorruptíveis na restauração final.
Jo. 15: 16 a 19 afirma com propriedade: "vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia." Quando Cristo afirma que não é o homem que O escolhe, mas Ele mesmo faz essa escolha, os inimigos da cruz entram em transe mitológico e místico a fim de encontrar subsídios para desviar esta verdade. Eles podem, por exemplo, alegar que esta palavra é uma eleição específica para uma função específica. Entretanto, basta estabelecer a perícope, delimitá-la, extender o assunto aos textos correlatos e paralelos, observar o estilo e o fundo doutrinário a que alude o Senhor Jesus, para notar a verdade eletiva na revelação.
O texto mostra sem rodeios, o porquê de os inimigos da cruz odiarem os da eleição da graça. Eles possuem a natureza homóloga à que está no mundo. Por isso, tentam ingloriamente resolver o problema do pecado à luz da luz que há no mundo. Porém, foi o próprio Cristo quem afirmou, se a luz do homem são trevas, logo a sua própria luz, são grandes trevas.
Ainda se pode evocar o princípio da dupla referência, visto que Paulo afirma em Rm. 15:14, que - "Porquanto, tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito." Este princípio permance até os dias de hoje no tocante à revelação compendiada.
Sola Christo et Sola Gratia.
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