março 09, 2008

A HISTÓRIA OMITIDA OU DESCONHECIDA III

É do contexto exposto no estudo anterior que surgiram diversas dissidências dentre grupos paralelos ao anglicanismo e ao catolicismo. Tal tendência se dava mais por discordâncias do modelo eclesiástico pautado por estreitos laços entre Igreja e Estado, que em relação às questões doutrinárias. A posição de Lutero e Calvino no tocante à relação entre Estado e Igreja é que, aquele é ordenado por Deus, sendo apenas um dom para esta vida. Enquanto, a Igreja deve, primeiramente a lealdade a Deus. Portanto, os cristãos deve aceitar o Estado, não menosprezá-lo. Desta forma, os reformadores consideravam o Estado apenas um meio, e não um fim em si mesmo. A posição reformada é que o mais imperioso é obedecer a Deus, mesmo que isso envolva deixar de cumprir algum dever para com o Estado. A primazia é para com o Deus soberano, posto que é senhor dos soberanos da Terra. Em quase toda a Europa, o protestantismo esteve ligado ao Estado, criando uma relação muito difícil, especialmente quando mudavam as dinastias de religiões diferentes. Neste sentido, a igreja era uma comunidade dualista, pois de um lado representava os interesses espirituais, mas de outro lado, era uma espécie de servidora pública.
Por puritano entende-se uma postura específica de protestantes na Inglaterra e na Nova Inglaterra, nos séculos XVI e XVII. Suas posições coincidiam com o calvinismo, porém, independentemente desta posição, eram voltados exclusivamente para as Escrituras e isto refletia em suas ações e pensamentos. Começou como um movimento eclesiástico, porém não havia acordo em relação a um padrão eclesiático, sendo isto resolvido pelo crivo do texto bíblico. Por esta razão, os anglicanos os acusavam de exagerado "biblicismo" e de desprezar a relação histórica da Igreja. Estes, por seu turno, afirmavam que buscavam apromimar-se ao estilo da Igreja primitiva.
Por meio do "Tratado Elizabetano", a Igreja da Inglaterra conseguiu reunir a doutrina reformada calvinista, a liturgia e a forma de culto católico, além do governo eclesiástico episcopal. Aos puritanos isto indicava uma reforma pela metade e não se satisfaziam com tal reforma. Não demorou haver conflitos de interesses entre puritanos e a igreja estatal.
Os presbiterianos ingleses eram a favor de uma purificação na igreja, mas não eram separatistas. Exigiam que a Igreja rompesse com qualquer resquício do romanismo e que não ficasse em uma espécie de "reforma pela metade do caminho entre Genebra e Roma." A partir desses conflitos de ideias, surgiram diversas diferenças e resistências entre os presbiterianos ingleses contra o modelo eclesiástico. A rainha Elizabeth, porém instou em manter o modelo. Ocorreram muitas reuniões, seminários e discussões aumentando as tensões entre Estado e Igreja.
Na sequência, o Parlamento Inglês convocou um Concilio que ficou conhecido como "Assembleia de Westminster", cujo objetivo era reformar ou reformular o modelo eclesiástico nos três reinos - Inglaterra, Escócia e Irlanda - e aplicá-lo à Igreja Oficial.
A "Confissão de Fé de Westminster" era absolutamente calvinista, porém não satisfez ao Parlamento que esperava a continuidade da união entre Igreja e Estado. Esta confissão colocava cada ente em esferas separadas, porém não opostas. Não há união entre Igreja e Estado, mas coordenação cada um na sua esfera de domínio, a saber, temporal e espiritual.
Embora os presbiterianos representassem o grupo mais numeroso de puritanos, havia também outros grupos congregacionais ou independentes. Estes queriam purificar a Igreja, mas sem dela se separar. Requeriam um modelo independente com igrejas autônomas, não subordinadas, nem ao sínodo presbiteriano, nem ao episcopado anglicano. Embora, em outras instâncias houvesse congregacionistas separatistas, os congregacionistas ingleses eram alinhados ao puritanismo e não aos separatistas. Para eles, a Igreja é a congregação local e as pessoas eram nelas aceitas, por decisão dos seus membros e não por nascimento, decisão pessoal ou aclamação simples. O principal fator observado era o comportamento espiritual condizente com o padrão de espiritualidade exigido pelas Escrituras.
Valorizavam a liderança teologicamente preparada, o vigor na adoração, porém sem emocionalismo e a instrução. Objetivavam uma congregação mais democratizada, na qual os crentes se colocassem em igualdade na Igreja. Porém, nomeavam um grupo de oficiais responsáveis a fim de tornar as ações eclesiásticas mais eficientes. Henry Jacob foi o fundador dos puritanos independetes por volta de de 1563 a 1624, tendo sido um dos signatários da "Petição Milenar" ao rei James I, em 1603. Pedia especialmente mudanças radicais no modelo episcopal inglês. Foi preso, tendo emigrado mais tarde para a Holanda. Voltando depois à Inglaterra, onde pastoreou uma igreja independente em Southwark, de 1616 a 1622.
O puritanismo inglês começou tímido, mas foi adquirindo força até culminar com um sistema muito forte e poderoso no curto governo de Oliver Cromwel. Neste período, houve plena liberdade de culto e a Igreja se tornou literalmente congregacional. Dentre os principais grupos, nesta época, os mais destacados eram os presbiterianos, os congregacionais e os batistas.
Em 1658, os congregacionais se reuniram no Palácio de Savoy, em Londres, para definir sua posição, resultando daí a "Declaração de Savoy" de caráter estritamente calvinista. Adotaram a "Declaração de Fé de Westminster", porém com omissões e alterações. O principal líder foi John Owen, chamado de "O Príncipe dos Puritanos". Em Savoy estavam representadas cerca de 120 Igrejas.
Assim tem sido ao longo da história da Igreja, cada nova declaração, cada novo pacto, cada nova confissão, fazem-se alterações indeléveis que fogem da Igreja neotestamentária.

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