II Ts. 2: 13 e 14 - "Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e a fé na verdade, e para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo."
Charles Spurgeon, em seu opúsculo, "Eleição" inicia o primeiro capítulo dizendo: "ainda que na Palavra sagrada não houvesse outro texto, além deste, penso que todos nós estávamos na obrigação de reconhecer e aceitar a veracidade daquela grande e gloriosa doutrina que declara que, desdo o princípio, Deus escolheu a Sua própria família." Ele prossegue afirmando que parece haver na mente humana um arraigado preconceito contra a doutrina da eleição. É verdade, há mesmo! Isto ocorre, porque a eleição retira o foco do homem e o coloca exclusivamente em Deus e Sua misericordiosa graça. Paradoxalmente, o homem, em seu estado de degenerescência não gosta da ideia que é dependente e incompetente sobre a sua própria salvação. A falsa autonomia adquirida no Éden, o tornou um portador da "síndrome de lúcifer", isto é, quer ser semelhante a Deus a todo custo.
A assertiva paulina: "... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação ..." dispensa qualquer interpretação. Primeiramente é uma escolha e não uma opção, depois, a escolha é de Deus e não do homem, também a escolha fora feita desde o princípio, também a escolha foi para a salvação pela santificação, e, por último, a escolha foi para a salvação e não para uma hipotética, suposta ou presumida salvação. No texto original grego a palavra "princípio" é 'aparkhen', indicando que a escolha foi discricionária, isto é, os eleitos foram escolhidos dentre muitos outros homens, ainda que na mesma condição pecaminosa. Assim, indica um grupo em especial e não todos os que ouviram a mensagem da salvação. Também este termo indica algo ofertado a Deus como sacrifício ou dádiva. Neste sentido, os eleitos foram ofertados a Deus pela propiciação de Cristo por inclusão na sua morte de cruz. Estes eleitos formam as primícias, porque foram escolhidos antes que houvesse o mundo e que qualquer deles houvera praticada qualquer ato de justiça ou de injustiça.
Há enorme restrição à doutrina da eleição, mesmo entre aqueles que deveriam pregá-la com elevado fervor. Isto ocorre, porque a mensagem cristã está absolutamente impregnada e influenciada pela Teologia da Práxis. Logo, a eleição elimina a participação ativa e prática do homem no processo da salvação. O centro é retirado do homem e transferido a Cristo, dando a nítida clareza da incompetência humana neste processo. Como há grande resistência à eleição nas religiões, os pregadores preferem deixá-la de lado, e em muitos casos, declaram ódio mordaz a ela, pois é acusada de causar divisões e esvaziamento das suas igrejas e denominações. Neste caso, recaem no que afirmar Ap. 21:8 - "Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte." Os medrosos ou covardes, neste texto, são os que sabem acerca de uma doutrina e não a proclama, nem a ensina. Agem assim, porque são incrédulos à Palavra, eles abominam as Escrituras, porque amam mais a glória dos homens que a de Deus. Matam a verdade e a adulteram por meio de trapaças da alma, porque idolatram igrejas, denominações, normas, dinheiro e fama. Mentem, porque, no tocante à verdade, omissão é também mentira.
Os valdenses, grupo cristão, que sobreviveu a inúmeras perseguições e intempéries históricas, afirmam acerca da eleição o seguinte: "que Deus salva da corrupção e da condenação àqueles a quem escolheu desde antes da fundação do mundo, não por causa de qualquer disposição, fé ou santidade que Ele tenha previsto neles, mas por motivo de Sua pura misericórdia, em Cristo Jesus, Seu Filho, deixando de levar em conta quaisquer outras considerações, segundo a irrepreensível razão de Sua própria livre vontade e justiça". Esta citação se faz necessária, a fim de que, os covardes e medrosos, saibam que a doutrina da eleição não é uma heresia, ao contrário, pregar que o homem destituído da glória de Deus tem poder para rejeitar a Sua graça, que é herético. O ensino da eleição, não é desagregador e muito menos causador de divisões. Se estes fatos acontecem é porque se trata de doutrina poderosa e capaz de separar o joio do trigo. A eleição é uma doutrina que se enquadra no que as Escrituras afirmam ser "espada de dois gumes que separa alma e espírito, juntas e medulas", a saber, a Palavra de Deus. Além do mais, o ensino da doutrina da eleição não se constitui em nenhuma novidade ou vento de doutrinas, mas sempre foi ensinado pelos cristãos verdadeiros desde os dias de Cristo até o advento do iluminismo e do renascimento humanista. A incorporação de padrões humanistas, a Igreja abandonou diversas doutrinas da verdade. É o domínio da religião humana sobre a verdade bíblica para satisfazer as almas não regeneradas.
A eleição não é Calvinista como arrazoam os temerosos e covardes, mas calvinistas sinceros creem nela, porque receberam misericórdia e graça para tanto. Ela é anterior a João Calvino e aos calvinistas, justamente, porque procede da soberana vontade de Deus. Não foi Calvino pregador da eleição, mas a eleição que revelou o pregador em Calvino. Homens santificados em Cristo e intrépidos continuam pregando acerca da eleição até os dias atuais.
O maior problema dos que se autointitulam cristãos hoje, é que não se dão ao trabalho de estudar as veredas antigas, a fim de prescrutar a verdade de Deus revelada nas Escrituras. Vão de religião em religião, de dogma em dogma, tornando-se cada vez mais absortos e perdidos em suas próprias e pobres verdades humanistas. Se distanciam das verdades, porque não creem no Senhor da verdade. Amam mais a religião e as sua teologias do que ao Senhor Jesus Cristo.
Sola Gratia!
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