Segundo alguns teólogos, há três vertentes sobre a doutrina da eleição: uma minimalista que desenvolve o seu "corpus theologicus" a partir da soberana vontade de Deus; a outra é chamada maximalista, a qual preconiza a eleição de baixo para cima, isto é, a partir da humanidade decaída, e não assume nenhuma limitação à possibilidade de o homem responder de forma livre e positiva ao chamado de Deus; ainda uma terceira posição é a que tenta conciliar as duas primeiras, porém sem superar a contradição dialética interposta entre o Deus soberano e santo e o homem pecador e separado da natureza divina. A primeira posição é de cunho bíblico e reformado; a segunda é de caráter arminiano e humanista; e a terceira de caráter conciliador, porém humanizada e, portanto horizontalizada também. Representa a famigerada turma do "deixa disso."
Assim se fundamenta a posição batista, pela ótica do pr. Jorge Pinheiro, por exemplo, acerca da doutrina da predestinação e da eleição: “Eleição é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça. Antes da criação do mundo, Deus, no exercício de sua soberania divina e à luz de sua presciência de todas as coisas, elegeu, chamou, predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no correr dos tempos, aceitariam livremente o dom da salvação. Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os seres humanos. A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus. Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação.”
Esta posição vai muito bem, até o ponto em que coloca outro fundamento sobre o já posto por Cristo e pelos apóstolos. Defende a eleição com base na presciência de Deus, o que o permitiria saber quem "aceitaria livremente o dom da salvação." Esta posição, joga a teoria humanista e gnóstica do "livre arbítrio" em cena. Como não podem conviver com a verdade bíblica da soberania de Deus e da expiação limitada de Cristo, criam uma teoria conciliatória, a fim de justificar tal posição, cujo o foco é o homem. Primeiramente o conceito de "livre arbítrio" não é bíblico e, ainda por cima disso, de difícil elucidação, até mesmo na análise filosófica, pois quando se admite que o homem é livre, exclui-se absolutamente qualquer causação anterior ou determinação acima dele. A "causa causaram miserere mei" simplesmente desaparece nesta teoria humanista. É uma postura plastificada e decorada ao sabor da visão horizontal e humanista de satisfação do ego pecaminoso. Além do mais, o homem no estado decaído e depravado não é live, posto que escravo do pecado, conforme Jesus afirma em Jo. 8:34 - "Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." Se a vontade humana está escravizada pelo pecado, como ela pode ser também, e ao mesmo tempo livre, antes de ser libertada? A resposta é Jo. 8:35 - "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." Nisto se vê com clareza uma causação, ou seja, o Filho é o libertador e também a causa da libertação do homem pecador.
O homem possui sim, vontade, porém, esta nem é livre, e muito menos, pode arbitrar qualquer coisa na esfera espiritual. Mesmo as escolhas e decisões mecânicas ou naturais são feitas dentro da esfera de uma mente capturada, comprometida e subordinada à natureza do pecado herdada de Adão, também chamada de "velho homem". Enquanto este "velho homem" não é destruído na cruz, não há, nem liberdade, nem arbitramento ao alcance do homem decaído.
Os advogados desta última posição partem dos seguintes pontos: "todos são eleitos", "Deus opera a salvação em e através de Cristo pelo favor imerecido de sua graça", "Deus é presciente e "de acordo com o livre arbítrio, desde a eternidade, Deus elege, chama, predestina, justifica e glorifica". Eles se apoiam em alguns parcos textos, tais como I Pd. 1:2 - ".... eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas." Eles se esquecem de verificar o aposto no texto, o que condiciona a presciência de Deus, à santificação do Espírito. Isto é, Pedro está se dirigindo aos que já haviam sido predestinados e eleitos para serem santos. Também, a despeito de Deus ser mesmo presciente, isto não o obrigaria a eleger com base na vontade decaída do homem. Ele simplesmente, elegeu e predestinou pessoas, sem levar em conta o que elas fariam ou deixariam de fazer. Até porque, se Deus fosse fazer escolha com base na vontade do homem, ninguém seria escolhido e ordenado para a vida eterna. Em Rm. 3:10 e 11 fica claro que nenhum homem se inclina livremente para Deus.
Rm. 9:22-24 - "E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?" Neste texto, fora do seu contexto, tentou-se subverter a ordem da verdade para estabelecer uma outra verdade. Ora, no contexto anterior já está claro a soberana vontade do Oleiro sobre o que quer fazer e faz com o barro. Ele não agiu, em função de como o barro, isto é, o homem, iria reagir. Deus em sua presciência sabia que o homem iria pecar e mesmo assim, Ele o fez, vista que já tinha providenciado a solução para este dilema. Então, o fato de Deus ser presciente, não o condiciona a fazer escolhas com base no que o homem iria ou não fazer em resposta a Ele. O texto, inclusive é claro em mostrar que, o próprio Deus fez, tanto vasos para ira, como vasos para honra, independentemente d'Ele ser presciente.
I Ts 1.4 - "... conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição." Mais uma vez estamos diante do erro grosseiro de isolar um texto, do seu contexto. O que acontece aqui é que Paulo, está declarando que tinha conhecimento da eleição dos irmãos de Tessalônica. Não havendo, neste caso, nenhuma menção de presciência de Deus.
Ef 1: 3 a 14 - "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra, nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da sua glória, nós, os que antes havíamos esperado em Cristo; no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória." O texto não autoriza em nada a eleição ou a predestinação com base na presciência de Deus. Ao contrário, mostra que Ele decidiu soberanamente eleger aos que predestinou, com absoluta liberdade. Não foi com base no que viu em qualquer um dos eleitos, até porque eles só poderiam apresentar a Deus uma natureza pecaminosa, tornando-os incompetentes e inaptos a qualquer mérito.
Finalmente em Rm 8.28-30- "E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou." Este texto é mais elucidativo da absoluta soberania de Deus para eleger e predestinar alguns à vida eterna. Ele livremente conheceu de antemão, os que Ele quis chamar, segundo o Seu propósito e não segundo as justiças ou méritos dos homens decaídos. O verbo conhecer, neste texto, nada tem a ver com presciência, mas com escolha livre e soberana de Deus.
Sola Scriptura!
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