
Mais uma vez se vê com clareza meridiana a questão principiológica da natureza dominante e da moral resultante. Quem é injusto? Aquele que não recebeu a justiça de Cristo na justificação na morte compartilhada na cruz. Por outras letras, não foi atraído à cruz, para, ali, perder a vida natural ou almática e ganhar a vida verdadeira de Cristo na ressurreição. A consequência de não ter sido justificado é o desenvolvimento da injustiça inata e persistente. Ninguém se torna injusto, já nasce injusto por princípio. Quem é o sujo? O que mantêm oculta a natureza impura do pecado, ainda que tenha aparência de santidade, retidão, temor, integridade e desvio do que parece mal aos olhos da sociedade. Todos os homens são, por natureza, mestres nestes disfarces. Por esta razão é que Jesus, o Cristo denominou os religiosos do seu tempo de "sepulcros caiados". Eram bem ornamentados por fora, mas podres e imundos por dentro.
Contrariamente, os que são justificados, produzem como resultante a justiça de Cristo; os que são santificados em Cristo, manifestam a Sua santidade, porque não é possível acender uma lâmpada e escondê-la debaixo de um alqueire. A luz se manifesta e faz que tudo seja manifesto igualmente, para bem ou para mal.
A bem aventurança consiste, não em aparência de piedade produzida por atos e atitudes de justiça própria, mas na piedade de Cristo no eleito e regenerado apesar dele e de suas muitas mazelas. Estes bem aventurados, foram purificados no sangue do Cordeiro que tira o pecado do mundo. Entrarão pelas portas da cidade santa na qual Jesus, o Cristo foi preparar morada para todos os seus. Estes foram alimentados da seiva da árvore da vida e não da árvore do conhecimento do bem e do mal. Por isso, as suas naturezas foram cambiadas e, neles, agora permanece a graça e não ira de Deus. Serão tratados dos atos pecaminosos até o último dia de vida terrestre. A isto dá-se o nome de revestir-se da santidade de Cristo. Acrescenta-se que tudo isto não os torna melhores que ninguém neste mundo.
Ficarão de fora, os cães, animal que simboliza a impureza natural na cultura semítica, visto que o cão faz sexo com a própria mãe e com qualquer outra fêmea, come o seu próprio vômito, demarca o seu território com os seus excrementos, ataca sem piedade e covardemente as suas vítimas. Também ficarão ao longe os feiticeiros, ou seja, os que desenvolvem toda a sua teologia em seus sentimentos, desejos e decisões apostatadas da vida de Cristo. Os adúlteros são uma classe que apoderam da verdade para justificar os seus atos obscuros, diluindo, assim, a graça de Deus. O termo é muito abrangente, podendo significar desde o adultério moral em si, mas também qualquer forma de alteração da verdade nas mentes naturais para dar ocasião ao pecado e, assim, cometerem torpeza em seus corpos. Os homicidas são todos os que atuam por palavras ou por ações contra o semelhante. Por isso, Jesus declara aos religiosos do seu tempo que os tais tinham por pai o Diabo, visto que procuravam tirar-Lhe a vida. Afirma, ainda, que o Diabo era homicida desde o princípio. Os idólatras formam uma categoria de homem que coloca todas as suas expectativas em coisas e não na vida de Cristo. Eles buscam a gratificação e o reconhecimento dos seus desejos e ambições em nome do amor, da alegria, da beleza estética, da felicidade e da auto realização. Finalmente, os mentirosos são todos aqueles que se firmam naquilo que não é a verdade. Porém sabe-se que a verdade não se resume em um mero conceito, mas ela é uma pessoa, a saber, Cristo, a esperança da glória. O próprio Jesus, o Cristo se declara como sendo Ele mesmo a verdade em Jo. 14:6.
A questão moral é subjacente à questão da natureza, de maneira que se obtém uma moralidade adequada, quando esta é homologada à natureza de Cristo. Entretanto, o homem dissimulado, coloca a moral como condicionada a uma natureza santificada à revelia do santificador que é Jesus, o Cristo.
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