A natureza humana é sempre o reflexo do madeiro no qual está fixada. No Éden, o Senhor colocou duas árvores: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. A árvore da vida, simbolizando a vida eterna em Cristo Jesus. A árvore do conhecimento do bem e do mal, simbolizando a auto-suficiência apostatada de Cristo, ou seja, o homem pelo próprio homem. Ao homem foi dito, que, de toda árvore poderia comer livremente, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Foi acrescentado, que, no dia em que do seu fruto comesse, certamente morreria. Esta morte, como aparece no texto hebraico, é uma alusão não apenas à morte física ou biológica, mas sobretudo à morte espiritual. Tal morte espiritual é a separação do espírito do homem em relação ao Espírito de Deus. Antes da queda pelo pecado, o homem era revestido pelo esplendor e a glória do espírito em comunhão com Deus. Após a sua queda o seu espírito ficou corrompido, rompeu-se o elo com o Espírito de Deus, e foi recolhido ao interior do homem. Desta condição de "morto" para Deus, só sai quando é vivificado pela graça mediante a fé por meio da inclusão na morte de Cristo. A isto dá-se o nome de justificação, redenção, regeneração, novo nascimento, nascimento do alto ou salvação.
Como a Palavra de Deus não volta vazia, se cumpriu exatamente a sentença: "certamente morrerás", quando o homem ouviu e deu crédito à pregação de Satanás: "é certo que não morrereis." A partir deste fato, a saber, quando descreu na palavra de Deus, o homem passou a sobreviver da natureza adquirida na árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta, inclusive, é uma das características dos não regenerados: estão sempre buscando o conhecimento, ou seja, a luz própria com base no que os seus sentidos captam pelas lentes almáticas. O homem em tal condição, busca invariavelmente gratificar a sua alma no perfeccionismo, no realizar obras, nos esforços, nos resultados, no bom desempenho, no receber recompensa e reconhecimento dos outros homens. Transforma este amontoado de coisas, virtudes e valores, chamando-os de felicidade, amor, justiça, satisfação e paz. Vai construindo a sua verdade horizontalizada sobre estas bases, dizendo que são a expressão da vontade e da bênção de Deus. Lança mão dos clichês aprendidos da religião e do senso comum como muletas para afirmar que são de origem divina, o que de fato é de origem humana e almática. Assim, prosseguem em seu programa religioso e na falsa teologia do esforço e da justiça própria. Quando os fatos e as vicissitudes da vida lhes surpreendem, se revoltam por achar que teriam mais méritos que os outros. Por esta razão o religioso tem grande dificuldade de receber que a salvação é pela graça e não por méritos.
O homem que foi regenerado por graça e misericórdia se alimenta de outra árvore. Esta árvore é Cristo, o qual, o Pai predestinou antes da fundação do mundo para que fosse pendurado no madeiro, a fim de destruir o pecado e na ressurreição comunicar a Sua vida eterna aos eleitos. Jo. 12:32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Esta atração produz no eleito a regeneração e a nova natureza, agora adquirida na árvore correta, ou seja, na árvore da vida.
Estas asseverações não criam, na esfera humana, uma dicotomia entre os homens. Não significa dizer que os eleitos são bonzinhos e perfeitos e os não eleitos são maus e terríveis. Ao contrário, a própria Bíblia afirma que os filhos das trevas são mais eficientes em suas gerações conforme Lc. 16:8 - "E louvou aquele senhor ao injusto mordomo por haver procedido com sagacidade; porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do que os filhos da luz." Entretanto, tal sagacidade, esperteza ou eficiência para nada aproveita em termos de salvação. A natureza desta sagacidade nos filhos das trevas possui pendor apenas para as coisas do mundo, enquanto os filhos da luz são trabalhados pela operação do querer e do efetuar de Deus, para Deus e em Deus por meio de Cristo. Nada são, e nada pleiteiam para si! Apenas creem que a salvação vem de Deus por meio de Cristo, por graça e não por obras. As obras que por ventura praticam, praticam-nas porque elas foram preparadas por Deus de antemão para que andem nelas. Não fazem barganhas com Deus!
Mt. 12: 33 a 35 - "Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más." Eis a questão principiológica, sobrepujando à questão da moral humana. Alguém produz o que lhe é próprio em sua natureza persistente, nunca o contrário. De maneira que, somos o que produzimos e produzimos o que somos. Assim, aparece o diferencial único, entre os eleitos e regenerados e os não eleitos e naturais; entre o primeiro homem e o segundo homem; entre o primeiro Adão e o último Adão; entre os descendentes da serpente e o descendente da mulher que vive nos nascidos de Deus.
É uma questão de natureza, pois aos não eleitos, em suas degenerescências não se lhes envia o arrependimento e a retratação conforme Hb. 12:17 - "Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado; porque não achou lugar de arrependimento, ainda que o buscou diligentemente com lágrimas." É como aquela mulher de Pv. 30:20 - "Tal é o caminho da mulher adúltera: ela come, e limpa a sua boca, e diz: não pratiquei iniquidade." O homem natural não se vê como natural, mas como a espiritual, o espiritual não se põe na perspectiva de espiritual, mas de um frágil vaso nas mãos do Oleiro Eterno. E, nada disto lhe confere qualquer mérito! É Deus que o justifica em Cristo e não as suas próprias justiças.
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