Há dois modos de uma pessoa se tornar cristã: um é pela auto-intitulação ou rotulação de si mesma como cristão. Neste caso, fica evidente que se trata de uma construção por tradição, por religião, por herança cultural ou histórica. É o típico caso do cristão nominal, denominacional ou institucional. O outro modo é resultante da misericórdia e da graça de Deus, operando no pecador a vivificação por meio da sua inclusão na morte de Cristo, e na Sua consequente ressurreição dentre os mortos. No primeiro caso, o "cristão" é apenas um religioso. No segundo caso o cristão é uma nova geração ou um novo nascido conforme Jo. 1: 12 e 13 - "Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus." Vê-se que o correto é receber a Jesus, o Cristo e não aceitá-lo como dizem por aí nos arraiais religiosos. Também, os regenerados são feitos filhos de Deus e não se fazem filhos d'Ele por conta própria. E ainda o processo do novo nascimento não é por hereditariedade, por herança étnica ou pela vontade almática. Apenas a vontade soberana de Deus pode operar o novo nascimento. Para haver novo nascimento deve ter havido antes a morte por inclusão na morte de Cristo conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer."
Quando o cristão é o subproduto de uma mera ação sinérgica, ou seja, focada nos esforços, conhecimentos e atitudes centradas no homem, ele será invariavelmente uma pessoa chata, amarga, inquieta, instável, maledicente, legalista e infeliz consigo mesma e com os outros. Só sentirá paz, alegria e bem-estar se estiver no comando, no centro das atenções e recebendo reconhecimento e gratificação para a sua alma. Tudo o que esta classe de cristão deseja é a satisfação de desejos, auto-realização, auto-estima e aplausos dos homens e de Deus. Está sempre às voltas com conceitos, idéias e concepções, que, fundamentalmente, o coloca no centro das decisões, vontades e desejos. Fala muito de amor, de justiça, de retidão, de bondade, de obras e realizações para a glória de Deus, mas busca mesmo é a própria glorificação. Projeta o seu eu em forma de imagens daquilo que idealiza e busca para si mesmo. É exigente, perfeccionista, muito prestativo e solícito em tudo. São, geralmente, pessoas das quais se tem uma boa impressão a prima facie. Interiormente são altamente insatisfeitos e amargurados.
O cristão autêntico é o resultado de uma profunda transformação do seu ego e de suas características próprias. Ele é o que restou após a sua morte na cruz com Cristo e da sua ressurreição juntamente com Ele. É a pessoa que se vê e age como se nada fosse, que não reivindica nada para si mesma, que não aspira nada além do que Deus lhe proporciona. Ela não se construiu, mas com muitas dores passou e continua passando pelo deserto a fim de perder toda a vida da alma. É o subproduto da ação monérgica, isto é, da ação única e exclusiva de Deus em Sua soberana vontade. É a pessoa que não foi a Cristo por méritos e justiças próprias, mas Deus mesmo a conduziu conforme Jo. 6: 44 e 65 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. E continuou: por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido."
O cristão verdadeiro é verdadeiro, não em si mesmo, mas porque Cristo doou-se a Si mesmo a ele, sendo-lhe por verdade. Ele deixou de ser apenas alma vivente, para se tornar espírito vivificado em e por Cristo. Ele é o resultado da misericordiosa graça de Deus e não de seus esforços próprios. Ele foi eleito antes da fundação do mundo, sem que houvesse feito, o bem, ou o mal. Deus mesmo o conheceu de antemão, o predestinou, o chamou, o justificou e o glorificou. Sem mérito, sem justiça própria ele ganha a herança, pois se houvesse qualquer mérito, não seria herança, mas recompensa e direito.
O cristão genuíno em nada é melhor do que qualquer outra pessoa, mas nele, Cristo é tudo, e, portanto, o novo nascido é o nada de Deus. Não lhe resta nada que não seja Cristo, pois "Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestos com Ele, em glória." Cl. 3: 3 e 4.
Cl. 1: 16 a 20 - "... porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus."
Cristo não é uma das dádivas de Deus aos eleitos, Ele é o único dom de Deus aos seus eleitos. Tendo Cristo tem-se tudo!!!
Amém
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