junho 02, 2008

O QUERER E O EFETUAR VII

No livro de Deuteronômio, em seu trigésimo capítulo, nos três primeiros versículos afirma-se: "Quando te sobrevierem todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que pus diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações para onde o Senhor teu Deus te houver lançado, e te converteres ao Senhor teu Deus, e obedeceres à sua voz conforme tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todos os povos entre os quais te houver espalhado o senhor teu Deus." Estas palavras sobressaem de um contexto de pacto, o qual o Senhor Deus revelara a Moisés na terra de Moabe. Tal pacto consistia em regras e preceitos de sobrevivência por meio da obediência com juramentos. Era um pacto de preservação do povo a fim de que se cumprissem as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Tais asseverações são destinadas a uma nação e não a um indivíduo, por isso, quando se refere a conversão é apenas no sentido de conversão a preceitos, regras e normas da lei cerimonial a fim de preservar os hebreus dos quais viria nascer Jesus, o Cristo. Não se refere, neste contexto, à conversão individual do pecador à luz do evangelho da verdade.
Além do pacto feito em Horebe, Deus falara a Moisés sobre a necessidade de o povo obedecer a lei, como meio de não se promiscuir com outros deuses pagãos, com os costumes e tradições controlados por Satanás. Isto garantiria paz política, paz social e prosperidade econômica, para testemunho da ação de Deus na história. Por meio destes pactos, o povo hebreu seria uma espécie de nação separada para trazer a lume os oráculos de Deus acerca da redenção dos eleitos por meio da justificação pela graça em Cristo, o Messias prometido.
Desde o capítulo 28 do retromencionado livro, Deus vem tratando o povo hebreu por meio de pactos, tendo Moisés como interlocutor. Ao tempo em que Deus fala de benignidade, preservação e promessas de progressos, indica, profeticamente que o povo seria desobediente e, que, por isso, seria castigado severamente. Parece estranho que Deus tenha utilizado da Sua onisciência para prever tudo, inclusive a desobediência do povo que Ele mesmo escolhera. Esta é a mais contundente evidência da soberania d'Ele, visto que, mesmo sabendo o que sucederia não alterou os Seus desígnios eternos. Esta é uma questão da qual o religioso não se apercebe. Apercebê-la-á apenas os que o Pai conceder graça da revelação na Palavra.
Então, a questão do conteúdo de Deuteronômio 30, não está focado no que o homem faz ou deixa de fazer, mas naquilo que Deus se propôs a fazer em Seu conselho Santo. Os arminianos, os quais são apenas religiosos, buscam ingloriamente subsídios neste e em outros textos correlatos, a fim de justificar suas posições centradas nas possibilidades do homem e não no evangelho gracioso de Deus. O Soberano Rei do Universo não age por meio de possibilidades, mas por decretos eternos e irrevogáveis, visto que, para Ele tudo é possível.
O verso 3 do capítulo 29 dá o tom da soberania de Deus, assim: "... as grandes provas que os vossos olhos viram, os sinais e grandes maravilhas; porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até o dia de hoje." Esta é a crucial diferença entre letra e espírito: enquanto os princípios pactuados eram meras letras aos corações, olhos e ouvidos do povo, o Espírito de Deus preparava a vinda de Cristo na história humana. É a isto que Paulo se refere quando diz: "...quando aprouve a Deus revelar Cristo em mim..." A questão não é a desobediência do povo, pois com esta Deus já contava segundo, "...porque desprezaram a aliança que o Senhor, Deus de seus pais, fez com eles, quando os tirou do Egito. E se foram e serviram a outros deuses, e os adoraram; deuses que não conheceram e que ele não lhes havia designado." Deus fala pela boca de Moisés em tese acerca do que de fato iria acontecer, como já acontecido. Assim, Deus nunca é apanhado de surpresa acerca do homem, porque Ele mesmo conhece os seus pensamentos, corações e intenções antes mesmo de cometerem seus desatinos. Entretanto, Ele não muda e não altera o Seu supremo propósito. A questão, então, fica centrada na soberana vontade de Deus e não nas tendências e inclinações dos homens, sejam boas, ou más.
As Escrituras revelam um Deus que tudo pode, tudo sabe e que não Lhe escapa um átomo sequer em todo universo. Para Deus não há início, meio ou fim, Ele vê atemporalmente conforme Is. 46: 9 e 10 - "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade."
O religioso, por alguma razão misteriosa, sempre imagina que possui "livre arbítrio" e que, este pode restringir a onisciência e a onipotência de Deus. Ora, se assim fora, Ele não seria Deus! Nada é absolutamente livre fora de Deus, e nada pode estabelecer arbitrariedade fora de Deus. O querer e o efetuar desde a mais singela criatura até os anjos celestes estão debaixo da soberana vontade de Deus. Quer sejam suas ações certas ou erradas, Deus está no controle e reverte tudo ao Seu supremo propósito. Até o mal que Satanás empreende contra Deus e o seu povo, é transformado em plano divino e libertação do pecado.
Em Deuteronômio 30, versos 4 a 6 afirma: "Ainda que os teus desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te ajuntará o Senhor, teu Deus, te introduzirá na terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem e te multiplicará mais do que a teus pais. O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas." Então, Deus faz a soberana vontade d'Ele apesar do homem, pois se o pecador pudesse prover os meios e realizar a sua própria salvação, Cristo seria absolutamente dispensável.
Nos versos 11 a 14, Deus deixa claro que o cumprimento da lei e do mandamento é perfeitamente possível ao homem, desde que este creia. Esta impossibilidade possível é operada e operacionalizada no nascimento do alto por inclusão na morte de Cristo e na Sua consequente ressurreição. A partir daí, o querer e o efetuar está totalmente sincronizado com a mente de Deus. A lei foi terminada na cruz e os que nela foram incluídos por misericórdia e graça de Deus, tem o cumprimento cabal, eficiente e eficaz dela em Cristo. Por isso, nos versos 15 e 16 as Escrituras dizem: "vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal; se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra à qual passas a possuí-la." A vida e o bem é Cristo, que derramou o sangue justificador e deu o espírito vivificante pelos eleitos; a morte e o mal é a natureza pecaminosa que não foi extirpada na cruz, levando o homem à segunda morte. O texto usa a partícula condicional "se", pois nem todos seriam incluídos na morte regeneradora de  Cristo.

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