Já foi visto o caso de uma interpretação com base na lei do pecado e da morte por parte dos escribas e com base na lei do espírito e da vida por parte de Jesus, no episódio do paralítico que foi curado. Alguém, de má fé, poderia ponderar não ter validade, porque se trata do Filho de Deus. Então neste último artigo será tratado um caso que ocorre pelas duas leis em uma única pessoa. A primeira situação acha-se registrada em Mt. 16:15 a 17 - "Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus." Observa-se que Pedro, discípulo de Jesus, foi categórico em sua resposta. Não fez análise ou confrontação filosófica alguma, simplesmente recebeu em seu espírito a verdade que Jesus era, de fato, o Filho de Deus. O próprio Cristo afirma que tal revelação não fora fruto da carne, isto é, da mente almática e, muito menos do sangue, ou seja, de paradigmas sensoriais ou experimentais.
Então, o Pai que está nos céus é o revelador da verdade absoluta a quem Lhe apraz. Não é por força de práticas e ritos cerimoniais, tão pouco por esforços sacrificiais que alguém recebe revelação. Muitos têm se perdido neste assunto, por julgar que podem fazer Deus se curvar a eles por meio de barganhismo. Fazem longos e programados jejuns; oram por horas e dias sistematicamente, sobem aos montes, julgando encontrar paz e conforto espiritual para abrir os seus corações a Deus, receber revelação, etc. Nada destas coisas movem o coração de Deus, pois Ele não é movido por coisas ou sinais. O ouvido d'Ele não está agravado e, tão pouco, o seu braço encolhido para que não ouça e se manifeste ao homem. Entretanto, é a natureza pecaminosa que faz separação entre Ele e o homem decaído, porque nesta natureza há uma constante inimizade contra Deus. Não é pelos atos praticados por alguém que Deus se aproxima ou deixa de aproximar, mas pela eleição da Sua própria graça a quem lhe aprouver aproximar, posto que soberano e absoluto. Caso Deus levasse apenas em conta os atos pecaminosos dos homens, jamais teria tornado Jó uma nova criatura ressurreta; jamais teria tirado Ló de Sodoma antes da destruição; jamais teria mudado a sorte de Jacó, jamais teria purificado Paulo no caminho de Damasco e assim por diante. Eram homens como qualquer outro, e em certos aspectos, até piores que muitos outros. A questão não é o que o homem faz, mas o que ele é em essência. Isto se dá desta forma, para que o homem entenda que a ação de Deus é invariavelmente monérgica, ou seja, única e soberanamente oriunda no Seu conselho santo. O homem não é o centro do universo, ou mesmo, o único ser com quem Deus se preocupa.
Depois que Deus age sobre o que o homem é, Ele vai operar e operacionalizar sobre o que o homem faz. Os religiosos tentam ingloriamente conduzir suas vidas almáticas com base primeiramente no que fazem ou deixam de fazer. Entretanto, continuam com suas almas viventes contaminadas pela natureza decaída. São religiosamente corretos, porém almaticamente pecaminosos. Por isso há tanta discórdia dentro das igrejas institucionais. A Igreja verdadeira é formada por mortificados em Cristo, por isso, não pretendem ser nada, e também, nada reivindicam para si, senão para o Cordeiro de Deus que lhes concedeu vida eterna.
A outra situação em que Pedro atuou na lei do pecado e da morte foi em Mt. 16: 21 a 23 - "Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse. E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens." A reação de Pedro foi com base na lei do pecado e da morte, porque raciocinou em sua mente lógica. Quereria ele, como qualquer ser humano, que Jesus fosse apenas um libertador político, curandeiro, realizador de milagres e maravilhas. Jesus era visto, ora como libertador, ora como alguém que ousava confrontar o sistema dominante e ora como alguém cheio de misericórdia para com os sofrimentos humanos. Os discípulos, em geral, não tinham a revelação da real presença de Cristo no mundo. Eles O olhavam como homem dotado de poderes, mas não como alguém que foi destinado a morrer na cruz. Os seguidores de Jesus estavam interessados em cogitar apenas das coisas horizontais, porque suas mentes capturadas pelo engano do pecado lhes condicionavam a isto. Se fosse hoje, os homens reagiriam da mesma forma, porque esta é uma questão de natureza decaída e de racionalização na carne.
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