O homem, em cuja alma há contaminação pelo pecado original, isto é, a natureza pecaminosa herdada do ancestral comum, se assemelha ao boi atado a uma canga ou jugo. Continua sendo boi, tendo vontade, desejos e necessidades de boi, entretanto, se o seu dono não o soltar, ele não é livre para satisfazer todas as contingências bovinas. Não é o jugo que o impede apenas, é o seu condutor, o jugo apenas o aprisiona fisicamente. Com o homem debaixo da natureza pecaminosa dá-se o mesmo. Todavia, ainda que na suposição de ser livre, de exercer a sua volição e de tomar diversas decisões, continua atado ao seu jugo, a saber o pecado. As Escrituras demonstram esta verdade em diversas e diferentes instâncias. Paulo, mostra a realidade desse jugo em Rm. 7:18 - "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está." O homem é um ser tripartite, visto ser corpo, alma e espírito, por esta razão deve ser compreendido nestas dimensões. Quando o texto neotestamentário se refere à carne, nem sempre é uma referência à dimensão física do homem. As palavras do grego koiné, 'sarkinós' e 'sarkikós' falam da carnalidade como inclinações, desejos, volições e decisões morais. Estas ações se concretizam fisicamente como última consequência da natureza humana debaixo do pecado. Por esta razão, o apóstolo Paulo afirma o que consta do texto que vem de ser lido. O homem pode querer, tanto o bem, como o mal, entretanto, o efetuar ou o realizá-lo não está sob o seu controle ou livre agência. Por exemplo, qualquer homem pode planejar e delinear um plano para o bem ou para o mal, mas se ele vai mesmo ser executado, não lhe compete conforme Pv. 19:21 - "Muitos são os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá." É que, no geral, os homens têm o hábito de imaginar que o bem é invariavelmente procedente de Deus e o mal do Diabo. Este não é o ensino das Escrituras! Veja, por exemplo, o caso de Judas Iscariotes, que foi profetizado e preordenado para aquele fim sinistro.
A herança do querer o bem e mal está na origem da desobediência por causa do pecado original, isto é, a incredulidade conforme Gn. 2:9, 16 e 17 - "E o Senhor Deus fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: de toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Embora o mundo da erudição e da intelectualidade reputem estas passagens como mitológicas, elas são revelações que só podem ser apreendidas e recebidas pelos eleitos de Deus. O conteúdo espiritual destes textos estão muito acima de relatos e estorinhas fantasiosas. Então, o homem tomou e comeu da "arvore do conhecimento do bem e do mal" após ter pecado. Logo, não foi o comer do fruto da referida árvore que o fez pecar, mas a incredulidade no que Deus lhe houvera decretado, "... não comerás." O fundamento que a incredulidade à palavra de Deus é o pecado está confirmado por Cristo em Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim."
O maior engano utilizado por Satanás é levar o homem a crer que possui "livre arbítrio", pois, assim, a ilusão de que é, como Deus, conhecedor do bem e do mal, ou seja, possui capacidade de arbitrar livremente permanece. Este foi o mesmo erro cometido por Lúcifer, imaginou que, como Deus, subiria acima das estrelas mais altas e, ali estabeleceria o seu trono e seria semelhante ao Altíssimo. Como ele foi banido de suas funções e prerrogativas, tenta incutir esta mesma ideia no homem por meio do pecado, a fim de mantê-lo cativo e escravo deste mesmo pecado conforme Cristo no-lo ensina em Jo. 8:34 - "Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." E, qual homem não comete pecado? Seja por atos, seja por pensamentos, seja por natureza? Então, se todo homem é escravizado pela natureza pecaminosa, como pode ser livre para fazer escolhas espirituais?
Desta forma, a alma ou psiquê engana o homem com seus desejos, volições e decisões contaminadas pelo pecado, induzindo à ideia que tais sentimentos são espirituais. Entretanto, o espírito do homem foi desligado de Deus, quando da queda por incredulidade. Ele está morto, sendo este o sentido de Ef. 2:1 - "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados..." A palavra morte neste textos, em seu original grego é 'nekrous', isto é, não apenas a morte física, mas também a existencial. Segundo Thayer, 'nekrós' é uma pessoa viva, que, no entanto, está destituída da vida que reconhece Deus, tal como Ele é. Por isso, no texto de Mt. 8:22 - "Jesus, porém, respondeu-lhe: segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos." A melhor tradução do grego koiné é: "...deixa os que estão indiferentes à salvação que lhes é oferecida no evangelho sepultar os corpos de seus próprios defuntos." Veja, são duas naturezas de mortos, porém a palavra neotestamentária, para eles é a mesma.
A melhor maneira de identificar se um ação ou reação é espiritual ou carnal é verificar o que a Palavra de Deus ensina. Visto que é o pecado, ou seja, a natureza pecaminosa do homem decaído que o engana conforme Rm. 7:11 - "Porque o pecado, tomando ocasião, pelo mandamento me enganou, e por ele me matou." O pecado, ou seja, o velho homem, engana o homem usando, inclusive, as armas do próprio mandamento, pois o mandamento ou a lei foi revelada ao homem justamente para mostrar-lhe a realidade do pecado. Assim, muitos tentam ingloriamente usar o próprio mandamento de Deus para curar-se ou salvar-se do pecado. Entretanto, o pecado só pode ser extirpado ou erradicado da alma do homem decaído pela inclusão na morte de Cristo.
Assim, a verdadeira fé é, primeiramente, dom de Deus concedido aos que Ele quer por misericórdia e graça. Secundariamente, só se pode agradar ou se aproximar de Deus pela fé que Ele mesmo concede, e, assim, ganhar a vida de Cristo. Deus não se sente, mas apenas se crê! Tudo o que é sensoriável ou sensorial é pertinente e oriundo da alma e não do espírito. Por isso, muitos vivem no engano religioso de experimentar algum tipo de experiência espiritual, quando de fato é uma mera experiência almática, terrena e diabólica conforme Tg. 3:15 - "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica."
Nenhum comentário:
Postar um comentário