Há uma forte dicotomia na regência das leis espirituais que controlam o homem. O correto seria, compreender no espírito e racionalizar na mente. Todavia, o pecado o engana e o conduz à interpretação das percepções captadas pelos sentidos naturais, como sendo revelações espirituais, levando-o à uma compreensão a nível puramente almático. Por isso, as sagradas Escrituras ensinam o seguinte: "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." O apóstolo Tiago está doutrinando comparativamente sobre a sabedoria humana e natural e a sabedoria adquirida por graça e procedente do alto. É notório que as palavras 'animal' e 'diabólica', no grego koiné são, na verdade, 'psichiké' e 'daimoniôdes'. Então, a sabedoria humana em estado de depravação, isto é, contaminação pela natureza pecaminosa, tem sua origem na sabedoria terrena, psíquica e demoníaca, ou seja, a alma humana influenciada por demônios.
O grande mal nas religiões ditas cristãs é que os seus líderes sonegam a verdade aos seguidores, se por má fé, ou se por ignorância, não importa, pois, pelo menos intelectualmente, deveriam conhecer e discernir os textos. Assim procedem para manter cativos os incautos, e, deles tirar proveito psicológico, econômico e político. Sabe-se pelo bom senso que é melhor governar mil tolos do que um sábio, visto que este a tudo questiona, enquanto aqueles nada sabem e nada cobram.
"O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Esta é a afirmação solene de Paulo em I Co. 2:14. O raciocínio e as emoções humanas não podem mostrar a verdade do que o homem decaído é, precisamente porque ninguém advoga contra si mesmo. Também não o permite conhecer Deus como de fato Ele é, e consequentemente, não permite discernir os outros homens tal como são. Por isso, perdura nas igrejas denominacionais desentendimentos, facções, discórdias, disputas, fofocas, inimizades, julgamentos temerários, etc. Tais religiosos estão racionalizando com base nos seus sentidos e entendendo com suas mentes dominadas pelos poderes latentes da alma influenciados pelo demônio. Desta forma, Deus, e, somente Deus, resolveu agir monergísticamente na solução do pecado do homem conforme I Co. 1:21 - "Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação."
A lei do pecado e da morte em contraposição à lei do espírito e da vida em Cristo Jesus produz uma radical inimizade entre o pecador e Deus conforme Rm. 8: 6 e 8 - "Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus." É notável que a palavra inimizade no texto grego original é 'ódio arraigado', mas olhando para os homens, não fica tão perceptível este tipo de ódio. Isto porque, o homem em estado pecaminoso aprende a dissimular a sua real condição. Também, no sentido em que expressam as Escrituras, ódio não se percebe apenas por expressões vocais, ou atitudes e atos maléficos, mas sobretudo por atitudes, atos e palavras aparentemente benévolas. Quem quer ser muito bom, justo e merecedor, se constitui em uma verdadeira afronta a Deus, visto que tais procedimentos são contaminados pela natureza pecaminosa adquirida no fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A questão toda é que os religiosos categorizam as coisas da seguinte maneira: o bem é invariavelmente procedente de Deus e o mal é incontestavelmente proveniente do Diabo. Todavia, uma leitura pelas lentes da misericórdia, da graça e da soberania de Deus mostra que, bem e mal são meros conceitos morais e antropológicos. Para Deus eles têm valores diferentes e diferenciados no tocante aos Seus eternos propósitos. A visão maniqueísta do homem decaído é que classifica e categoriza tudo com base no bem e no mal.
Não se pode empregar o raciocínio natural para interpretar o conhecimento dos sentidos e chegar a conclusões espirituais. Eles não permitem ao homem conhecer a identidade de Deus, a identidade das pessoas e a real situação das relações entre estas partes. Comumente, quem entra por este caminho tortuoso, acaba por gerar ódio a Deus, maltratar as outras pessoas e tornaar-se amargo interiormente. A isto, as Escrituras chamam de cauterização da mente. Nicodemos foi um caso destes, que não conheceu ao Senhor Jesus pelo espírito, mas pela carne, visto que o identificou apenas com base apenas nos sinais que Ele fazia. Foi energicamente recriminado e disciplinado pelo Senhor Jesus. É neste sentido que muitos religiosos chegam ao falso ensino do "livre arbítrio", confundindo escolhas naturais e encerradas na vala da natureza pecaminosa, com escolhas espirituais originadas no soberano trono de Deus.
Quando se compara Mt. 16: 13 a 17 com Mt. 16: 21 a 23, percebe-se que Pedro navegava entre a lei do espírito da vida em Cristo Jesus e a lei do pecado e da morte. Ora, ele recebeu em seu espírito a revelação inequívoca de que Jesus era o Filho de Deus, algo depois tentou dissuadir o Senhor Jesus da sua morte de cruz. Jesus faz a seguinte observação a Pedro: "Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens." No primeiro caso, Pedro recebeu revelação no seu espírito, no segundo a sua mente racionalista tomou o controle e o fez tirar conclusões puramente terrenas, psíquicas e demoníacas. Pelo texto, em seu contexto, Jesus declara a Pedro que ele estava sendo operado e operacionalizado por Satanás no caso da tentativa de dissuadi-lo da cruz. Desta forma há milhões de milhares de "crentes" claudicando entre a lei do espírito da vida em Cristo Jesus e a lei do pecado e da morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário