Jó 21: 4 a 6 - "Porventura eu me queixo de algum homem? Porém, ainda que assim fosse, por que não se angustiaria o meu espírito? Olhai para mim, e pasmai; e ponde a mão sobre a boca. Porque, quando me lembro disto me perturbo, e a minha carne é sobressaltada de horror." Jó deixa claro que a sua queixa é contra Deus. Chama atenção sobre o seu estado de penúria, demonstrando um forte estado de autocomiseração. Esta característica do "coitadinho de mim" é própria do homem, especialmente os religiosos, pois julgam serem merecedores de algum benefício divino. Não se pretende aqui esvaziar de significação o sofrimento de Jó, mas tão somente, mostrar a similaridade de comportamento da alma humana diante dos grandes dramas. Todos que já viveram mais de três ou quatro décadas sabem que há muitas dores e sofrimentos na vida.
No capítulo 20, o amigo de Jó, Zofar descreve a calamidade como consequência dos atos iníquos dos perversos. É muito comum entre os religiosos, especialmente os que se dizem cristãos, considerarem esta mesma doutrina esdrúxula de Zofar. Eles postulam que as pessoas que não professam uma religião, não são bons, corretos e justos passam por provações, dissabores e angústias. Esta é uma doutrina maniqueísta e absolutamente errada. Não existe esta doutrina deletéria nas Escrituras, a qual afirma que só os pecadores não regenerados sofrem. Além do que ela coloca Deus como o autor e promotor do que é mau. Muitos cristãos quando estão diante de acontecimentos estarrecedores, seja com eles mesmos, seja com outros, logo se põem a afirmar que há alguma falha, algum pecado oculto e que tudo é uma espécie de castigo de Deus.
Jó, entretanto, mostra ao seu interlocutor que tal doutrina não tem fundamento, pois os perversos experimentam grandes progressos. Os seus lares, suas famílias, suas propriedades e seus rebanhos prosperam, e eles, descem à sepultura em tranquilidade no fim dos seus dias. Jó faz uma veemente refutação do que lhe fora doutrinado por Elifz em 15:28; por Bildade em 18:14; e por Zofar em 20:28. Não se trata apenas de uma disputa dialética de argumentação, mas porque Jó está buscando entender o seu estado de desagregação e desconstrução moral e espiritual.
Jó não pactua com o conselho dos perversos, e, muito menos, deseja se unir aos pecadores para ter a sua sorte mudada. Apenas refuta a estranha doutrina das recompensas materiais como sinal de bem-estar espiritual e pacificação com Deus. Acusa os seus amigos de presunçosos ao elaborarem teorias mal fundadas. O mundo de hoje está repleto desses teólogos de alcovas que aparecem apenas para defender Deus, como se necessário fosse, e para sobrepor fundamento novo sobre o já estabelecido nas Escrituras. Pretendem estes doutores em divindades estabelecer o caminho em que Deus deve andar. Preferem esta nefasta pseudoteologia, à se curvar ante a soberana vontade de Deus que usa de misericórdia a quem quer, independentemente das condições morais da pessoa.
Jó não defende uma visão unilateral, a qual sustenta que apenas os ímpios obtêm vantagens materiais, mas mostra que a realidade é mais ampla do que supõem os seus amigos. A visão de Zofar, Bildade e Elifaz é a mesma que perdura ainda hoje entre religiosos: o bem provém de Deus, e o mal do Diabo. Esquecem estes analistas superficiais que o conceito de bem e mal é variável de acordo com o tempo e a cultura. É uma mera concepção humana, pois Deus não se limita a estes conceitos.
Perceber-se-á no desenvolver da trama divina para redimir Jó, que Deus não pende, nem para Jó, nem para os seus desagradáveis amigos sabichões. Simplesmente, Deus, em sua soberana vontade permanece no Seu propósito de salvar Jó e envergonhar os religiosos e a Satanás perante os céus.
Soli Deo Gloria!
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