A vontade humana é uma armadilha em si mesma no sentido em que está corrompida pela natureza pecaminosa. Há uma singela ilustração que confere sentido ao esclarecimento do que se pretende dizer neste aspecto. Conta-se que houve um incêndio na floresta, de sorte que os animais buscavam a outra margem do rio a fim de encontrar salvação do fogo. Uma rã achando-se à beira dágua, quando iria inciar a sua travessia, foi abordada por um escorpião que lhe pediu que o conduzisse sobre suas costas, porque não possuía habilidades para o nado. Ela, muito receosa negou-lhe o pedido, alegando que ele sempre ferroava tudo o que se movia, inoculando-lhes o seu veneno fatal. Ele, por seu turno, fez mil e uma juras, afirmando que jamais faria isto, posto necessitar salvar sua própria vida. Após instar por muito tempo e por diversos argumentos, a rã concordou em levá-lo sobre seu dorso. Quando se aproximava da outra margem, a rã sentiu o terror da ferroada do inescrupuloso caroneiro. Agonizando ali junto à margem do rio, perguntou-lhe, por quê? Ele simplesmente respondeu: não consigo me controlar, é algo que ultrapassa o meu próprio controle, pois é da minha natureza ferroar tudo o que é vivo.
Ora, a fábula do escorpião infiel é similar a questão que envolve a natureza humana. É próprio do homem buscar cega e compulsivamente a autonomia e a independência em relação a Deus e a todas as demais coisas. Esta inclinação é resultante da sua contaminação por ingestão do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, acerca do qual recebera ordem para não comer. O pecado não foi o ato de comer do fruto, mas a incredulidade quanto ao decreto de Deus, acarretando muitas consequências nefastas ao homem. Na narrativa bíblica, a qual os incrédulos, incluindo-se muitos religiosos, os quais atribuem apenas valor mítico, estão encerradas muitas verdades. O fulcro central era, o decreto divino, "... dela não comerás..." e a pena condenatória prevista pela desobediência, "... certamente morrerás." O pecado consistiu em o homem não crer no decreto, ou na norma divina. A consequência foi a morte para Deus, isto é, a separação eterna d'Ele por causa do pecado. Assim, o homem é como o escorpião, que por força da sua contingência pecaminosa, não pode ter domínio sobre o seu próprio pecado. Se isto lhe fosse possível, seria o salvador de si mesmo e a humanidade estaria em alto grau de desenvolvimento e perfeição espiritual e moral, cada um seria "deus". O mal que se verifica no mundo, bem como, todas as suas consequências têm a sua origem na quebra da norma por incredulidade, a qual contamina o homem com o veneno do pecado. Assim, pecado, não é apenas o que o homem faz, mas essencialmente o que ele é em natureza.
Isto implica que a vontade do homem é contaminada, consequentemente, todos os seus desejos e decisões são também contaminados. Até o bem que o homem realiza perante a sociedade, ou mesmo em nome de Deus, é fruto da concepção de bem adquirida à revelia da natureza de d'Ele. Logo, não é o bem produzido pela vontade divina, mas pela vontade humana decaída.
Rm. 7: 15 a 19 - "Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico." Este é o locus e a natureza da vontade, do querer e do efetuar na esfera humana. Absolutamente contaminado e corrompido pela natureza pecaminosa.
O apóstolo Paulo continua a exposição desta situação axiomática nos versetos 20 a 24, da seguinte forma : "Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" Então, quando se faz algo que se tem plena consciência que não é o que se deve fazer e querer, não é o "eu" quem o faz, pois este já está crucificado, mas sim, a carnalidade que para nada aproveita. Os membros, a carne, a natureza, os desejos e a vontade não possuem nada de bom. Enquanto o homem interior, isto é, o espírito regenerado na cruz, quer sempre fazer o certo, porque está em Cristo, a carnalidade não se inclina para Deus e, portanto, produz o mal ao invés do bem. O entendimento pode ser ludibriado por uma lei, isto é, por um padrão comportamental, resultante do jogo entre a carnalidade e o espírito vivificado em Cristo. Por isso, o pecado, o qual Cristo veio destruir, destruído está na cruz, mas quanto aos atos pecaminosos produzidos pelo pecado da natureza carnal, permanece e vai sendo tratado pela santificação em Cristo, até o regenerado atingir a estatura de varão perfeito, à semelhança de Cristo. Isto se dá por um processo de deserto, o qual é solitário, escaldante e árduo.
Paulo responde a sua própria indagação no verso 25 "Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado." O entendimento liberto, justificado e expiado no sangue do Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo, está submisso à lei de Deus, por meio de Cristo. Entretanto, a carne que para nada aproveita, está a serviço dos atos pecaminosos. Assim, vontade, decisões, e escolhas não são livres como se supõe comumente nas religiões baratas resultantes da vontade escravizada do homem decaído.
Um comentário:
Olá tudo bom, olha gostei muito do teu blog, conteúdo abençoado e muito edificante, visita-lo foi um grande prazer, que Deus continue te abençoando e te usando a cada dia..
Shalom
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