sexta-feira, maio 2

LIVRE ARBÍTRIO V

Alguns bons argumentos de Martinho Lutero na obra "A Escravidão da Vontade" são dignos de consideração. O primeiro versa sobre "a culpa universal da humanidade prova que o 'livre arbítrio' é falso." O segundo afirma que "o domínio universal do pecado prova que o 'livre arbítrio' é falso." Também o seguinte argumento: "o 'livre arbítrio' não pode obter aceitação diante de Deus através das observância da lei moral e cerimonial."
A respeito da culpa universal, Paulo é categórico em Rm. 3:9 - "Que se conclui? Temos nós, os judeus, qualquer vantagem sobre os gentios? não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado". Todos, de qualquer etnia, em qualquer tempo e lugar estão debaixo do pecado e esta é uma decisão de Deus conforme Rm. 11:32 - "Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos." Logo, como pode alguém argumentar que há de fato algum nível ou tipo de liberdade para arbitrar ou fazer escolhas absolutamente livres?
Precisamente, porque a escravidão ao pecado é algo universal, ela faz do homem decaído um ser totalmente depravado e incompetente para buscar, querer e se voltar para Deus às suas próprias expensas conforme Rm. 3:10 a 12 - "Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer." Sem a justiça, o homem não pode participar em aspecto algum da natureza de Deus. Por isso, foi necessário a manifestação do Justo de Deus, Cristo, para justificar o pecador e torná-lo aceitável perante o Pai consoante I Pd. 2:5 - "... sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo." No tocante ao entendimento, este está entenebrecido e obscurecido pelo pecado conforme Ef. 4:18 - "... para que não mais andeis como andam os gentios, na verdade da sua mente, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração."
Quanto a buscar a Deus por parte do homem decaído é outra impossibilidade, o que prova a ausência total de livre arbítrio. Há de fato uma inimizade natural entre o homem decaído e Deus conforme Rm. 8: 7 e 8 - "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus." Não há como a carnalidade agradar e se inclinar para Deus, porque Ele é Espírito e só pode ser adorado em espírito em em verdade. Portanto, só por intermediação de Cristo isto é possível consoante Rm. 8: 9 a 11 - "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita."
Quanto ao extravio e à inutilidade do homem é verificável ao longo da história estes fatos pela futilidade dos seus atos e pela desesperada tentativa de construir um paraíso fora de Deus. O mal moral que aflige a humanidade, as enfermidades e o caos na natureza atestam o grave estado de degenerescência do homem fora de Deus.
O livre arbítrio é uma falácia que provém dos ensinos gnósticos desde os primeiros tempos da Igreja primitiva. Eles foram penetrando sorrateiramente e se avolumando, na medida em que a humanidade foi superando certas limitações e obtendo maior grau de autonomia. Entretanto, o famigerado livre arbítrio não é capaz de obter aceitação diante de Deus por intermédio da lei, quer seja moral, quer cerimonial de acordo com Rm. 3: 20 e 21 - "...porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado." Embora Jerônimo, por volta do século IV, tenha dito que este texto abrangia apenas a lei cerimonial, sabe-se que abrange as duas, visto que Paulo menciona a questão da impossibilidade de justificação e que a lei apenas revela a consciência do pecado. Esta ideia é absurda até pela lógica simples, pois desta forma a graça de Deus seria útil apenas para nos livrar da lei cerimonial, logo como ficaria a lei moral? Quem pode obedecê-la plenamente? Ninguém!
Em Gl. 3.10, Paulo escreveu: "Todos quantos, pois, são das obras da lei, estão debaixo da maldição; porque está escrito: maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da lei, para praticá-las". Assim, põe termo a essa falsa doutrina do livre arbítrio, pois ou o homem está condenado pela escravidão da sua vontade ao pecado, ou a graça de Deus é perfeitamente dispensável, já que ela apenas nos livra da lei cerimonial. Pelo texto de Gálatas, fica claro que, ou o pecador é liberto da escravidão do pecado, ou ele permanece maldito, porquanto ninguém é capaz de cumprir todas as exigências da lei moral.

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