Jo. 13: 34 e 35 - "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros."
O verbete 'mandamento' traz diversas acepções. Nesta instância se deseja apenas o sentido geral e o sentido religioso. Em sentido amplo, mandamento é substantivo masculino que se define como a ação ou o efeito de mandar. É uma ordem dada por um agente com o múnus de comando. Em religião, mandamento é um preceito, ou um conjunto de preceitos, como por exemplo, os dez mandamentos dados a Moisés e ordenados ao povo hebreu desde a peregrinação no deserto e dali até hoje.
O Cristianismo histórico e nominal vive uma dicotomia: cumprir os mandamentos e viver pela graça mediante a fé. O apóstolo Paulo afirma o seguinte, conforme Rm. 10: 1 a 10 - "Irmãos, o bom desejo do meu coração e a minha súplica a Deus por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus. Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê. Porque Moisés escreve que o homem que pratica a justiça que vem da lei viverá por ela. Mas a justiça que vem da fé diz assim: não digas em teu coração: quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo;) ou: quem descerá ao abismo? (isto é, a fazer subir a Cristo dentre os mortos). Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé, que pregamos. Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação." Ora, a percepção espiritual de Paulo o fez ver que, embora os judeus tivessem recebido a lei e os oráculos, não conseguiram perceber que a justiça que provém da lei não lhes deu entendimento e justificação. O cumprimento de preceitos sobre preceitos têm serventia apenas para a vida prática em sociedade. Os praticantes do judaísmo não se aperceberam que Jesus veio para finalizar a lei moral e cerimonial. Os judeus pretendiam obter justificação apenas com base no cumprimento da lei moral e cerimonial. Paulo os leva a ver que é pela fé que Cristo desceu do céu e que subiu do abismo para derrotar o pecado e a morte e trazer a justiça eterna. É a fé nesta esplendente verdade revelada nas Escrituras que salva e não o cumprimento de preceitos. É pela fé na Palavra de Deus que se crê com o coração e se confessa com a boca para justificação do pecador. Os preceitos legais serviam para evitar os atos pecaminosos e para trazer paz social e prosperidade econômica ao povo. Não se destinavam a anular a força do pecado que separa o homem de Deus, a saber, a incredulidade. A força que aniquila a natureza pecaminosa está na fé que Jesus, o Cristo é o Filho Unigênito de Deus e que tem autoridade sobre o pecado e a morte.
Há profunda diferença entre declarar as Escrituras e confessá-las com os lábios a partir do que está internalizado no espírito pela regeneração. Declarar em palavras que crê até os demônios o fazem conforme Tg. 2:19 - "Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem, e estremecem." Neste sentido, os demônios são mais crentes que muitos religiosos. Eles creem e estremessem ao saber que a justiça de Deus virá contra eles ao fim de tudo. Declarar é apenas emitir um conjunto de sons articulados por meio do aparelho da fala. Confessar exige dizer a partir da fé e não do intelecto, das tradições, ou das repetições aprendidas no sistema religioso. Dizem o que todos dizem para serem aceitos e admirados. Confessar poderá ser desagradável e provocar reações inusitadas, pois a fé não é de todos.
Desta forma, quando Jesus afirma aos discípulos: "novo mandamento vos dou", não é o acréscimo de mais um mandamento. Muitos pensam que Cristo estaria aumentando os mandamentos da Velha Aliança. Todavia, o texto grego original diz 'kainen' [καινὴν], ou seja, é novo em qualidade, não em quantidade. É algo jamais experimentado, total e absolutamente novo. Tal natureza da novidade do mandamento é que seria uma experiência diferente dos preceitos cumpridos mecanicamente. Jesus fala de novo mandamento, a saber, de uma nova disposição espiritual e não na repetição caduca da lei. Todos os preceitos da Lei Moral agora estavam resumidos no novo mandamento conforme Rm. 9: 9 e 10 - "Com efeito: não adulterarás; não matarás; não furtarás; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei." O que Jesus ensinou aos seus discípulos, e por consequência, a todos os regenerados no tempo e no espaço é que o amor espiritual deve habitar os cristãos a fim de manifestar a vida de Cristo neles. Cristo mesmo é o amor, sendo este amor eterno conforme I Co. 13:13 - "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor." Ele não tem porções mágicas de amor para distribuir aos seus discípulos. Ele mesmo é o amor, portanto, quem tem a vida de Cristo é portador d'Ele mesmo. Tudo passará, exceto o amor espiritual e eterno de Cristo.
Há no grego do novo testamento quatro palavras para o vocábulo amor: a) charis, ou seja, o amor caritativo; b) phileo, ou seja, o amor fraterno entre seres humanos; c) eros, a saber, o amor erótico ou atração sexual; d) agape, ou seja, o amor espiritual, perfeito, eterno e justo. Ora, tal amor não se confunde com o amor cortês praticado em sociedade. Nada tem a ver com atração hormonal e, muito menos com fazer o bem ao próximo. É algo muito acima de tudo isto. É o amor com justiça e justeza!
Jesus deixa clara a natureza do amor a que se referia: "... assim como eu vos amei..." Como Jesus amou? Entregando-se a si mesmo para o resgate dos pecadores conforme Jo. 15:13 - "Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos." O amor é o próprio Cristo, na medida em que, ele se doou a si mesmo. Ele é a doação e o doador ao mesmo tempo. Cristo doou a própria vida pelos eleitos e a retomou ressurgindo dentre os mortos ao terceiro dia conforme Jo. 10: 17 e 18 - "Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai." Portanto, não se trata de concepções sobre o amor, mas do próprio amor personificado em Cristo.
Solo Christus!
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