sexta-feira, fevereiro 5

A CEIA DO SENHOR III

I Co. 11: 23 a 30 - "Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse: isto é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem"
A Ceia é uma ordenança dada por Cristo aos seus discípulos e seguida por cristãos verdadeiros e falsos ao longo dos últimos 2.000 anos. Ela não confere nenhum poder sobrenatural aos participantes. É apenas um ato em memória da morte de Cristo conforme: "porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha." A Ceia não regenera e não salva ninguém, mas os eleitos e regenerados têm prazer em celebrá-la como memorial do ato que garantiu o seu nascimento do alto.
No texto que abre este estudo, o apóstolo Paulo celebrou a ceia com os cristãos de Corinto. Antes de celebrá-la, deu diversos esclarecimentos acerca do comportamento adequado aos regenerados. Instrui-lhes como participar da ceia ordeira e piedosamente. Mostrou-lhes as consequências de uma convivência cega e egoísta na participação do corpo de Cristo. 
Segundo reza a erudição bíblica, a epístola aos corintios foi escrita antes dos evangelhos. É o primeiro registro da celebração da Ceia após a morte e ascensão de Cristo. A Ceia contrasta a tristeza da celebração da Páscoa por Cristo antes da sua morte com a alegria da celebração da Ceia pela Igreja após a sua morte e ressurreição. Paulo inicia a celebração anunciando que, aquilo que havia recebido do Senhor Jesus, o Cristo, isto mesmo estava entregando. Portanto, não se trata de ensino novo ou invencionice humana. Na celebração pascal, Jesus tomou do pão e, partindo-o agradeceu e deu aos seus discípulos, afirmando: "isto é o meu corpo, que é dado por vós..." Embora seja utilizado o verbo ser no presente do indicativo, o texto não é uma expressão literal, pois como ele em vida poderia oferecer o seu corpo para ser ingerido ou o seu sangue para ser bebido? Basta fazer o paralelismo em outros textos de mesmo sentido de Jo. 8:12 - "Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida." Luz, no texto quer dizer conhecimento da verdade. Portanto, não significa que do corpo de Jesus saíam raios de luz. Também em Jo. 10:7 - "Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas." Jesus, não é uma porta, mas aquilo que uma porta representa, ou seja, uma via de acesso entre dois lados. Desta forma, não se pode tomar os elementos da ceia como sendo o próprio corpo e o sangue de Jesus, o Cristo. Trata-se de uma simbologia e não de uma literalidade.
No texto de abertura a expressão: "... que é dado por vós..." vê-se claramente a morte vicária, ou seja, substitutiva de Jesus, o Cristo. O vocábulo vicário significa: aquele que faz as vezes de outro. Portanto, é o ensino da substituição do pecador na cruz por Jesus, o Cristo. Igualmente, quando Jesus disse: "... este cálice é a nova aliança no meu sangue..." Vê-se com clareza a substituição e a inclusão do pecador na morte de Cristo com a Nova Aliança. Denomina-se Nova Aliança o período em que prevalece a Graça, por meio de Cristo, e não mais a Lei moral e cerimonial. Jesus, o Cristo ofereceu o seu sangue para restabelecer a vida verdadeira aos que se achavam mortos para Deus, porque a vida está no sangue. A morte em qualquer dos seus sentidos, sempre indica separação. O pecado causou a morte, a saber, a separação entre Deus e o homem conforme Ef. 2: 5 e 6 - "... estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele..."
Quem comer do pão e beber do cálice indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Réu é aquele que é intimado em juízo para responder por delitos e crimes, ou seja, é aquele que foi acusado de culpa. O que separa o homem de Deus é, exatamente, a culpa do pecado. Jesus, o Cristo veio justamente para reconciliar o homem pecador com Deus por meio do seu sacrifício substitutivo e inclusivo. Deus transferiu todos os pecados dos eleitos e predestinados para Jesus, o Cristo a fim de aniquilá-los conforme Hb. 9:26b - "... mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo." Desta forma, a inclusão do pecador na morte de Cristo, aniquilou eternamente a culpa do pecado que separava o homem de Deus. Esta verdade é ensinada claramente em Cl. 1:22 - "... agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis..." Desta forma, comer o pão e beber do cálice indignamente é participar de um ato memorial sem conhecimento de causa. Quem não fizer distinção entre o corpo ou a Igreja do Senhor e a consciência pecaminosa trará juízo sobre si mesmo conforme I Co. 5:5 - "... seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus." Trata-se daqueles que, mesmo conhecendo a verdade permanece cultivando atos pecaminosos. Comer o pão e tomar do cálice indignamente é o mesmo que não apresentar a natureza reconciliada e vivificada na morte com Cristo. É não ter reverência à Igreja, o corpo de Cristo. O mesmo é retratado por Paulo em I Tm. 1: 19 e 20 - "... conservando a fé, e uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragando no tocante à fé; e entre esses Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar."
Paulo aponta a necessidade de o homem examinar-se a si mesmo para ter discernimento do corpo e do sangue de Cristo. A palavra no grego koinê para 'examinar' é 'dokimazetõ' [dokimazetw], ou seja, testar-se a si mesmo como se testa o metal. Paulo propõe um rigoroso auto-exame para saber se o cristão pode confessar sua morte com Cristo. Visa um exame confessional da sua inclusão na morte de Cristo e, portanto, ser participante do corpo e do sangue d'Ele. Participar da ceia indignamente é celebrar a morte e a ressurreição de Cristo sem saber quem ele é.
Paulo termina o seu ensino doutrinário, dizendo que a razão porque muitos da Igreja em Corinto estavam fracos e doentes espiritualmente relacionava-se ao não discernimento do corpo de Cristo, a saber, não referenciavam a Igreja como parte integrante d'Ele. Disse ainda que muitos dormiam, ou seja, estavam mortos fisicamente. O verbo dormir no texto está flexionado como "dormem" , concordando gramaticalmente em número com "muitos". No infinitivo tal verbo é 'koimao', mas no texto, é [κοιμῶνται] 'koimontai', indica, por analogia, a morte dos regenerados. A morte do incrédulo é eterna, mas a dos eleitos e regenerados é momentânea como a um sono. Quando o texto se refere à morte de incrédulos usa outra palavra para o verbo dormir. As pessoas que agem sem discernir o corpo de Cristo não perdem a salvação, mas perdem o privilégio de servir a Cristo na Terra.
Sola Gratia!

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