Jo. 8: 31 a 36 - "Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: sereis livres? Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
"Livre arbítrio" ou "livre alvedrio' é um conceito originado na doutrina gnóstica. É um dos fundamentos do humanismo, o qual ganhou força com o advento da Renascença e, mais tarde, do Iluminismo. Por "livre arbítrio" se entende a capacidade do homem em decidir pela própria vontade isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante externa. Na verdade, o ensino do "livre arbítrio" é muito convincente e tentador, porque dá ao homem a falsa impressão de agir à revelia de Deus. Esta inclinação foi produzida pela natureza decaída no pecado original. Foi inoculada da seguinte forma Gn. 3:5 - "Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." Ora, a sugestão de Satanás é que, uma vez desobedecendo e praticando aquilo que lhe havia sido vedado, passaria a ser semelhante a Deus, discernindo o que é o bem e o que é o mal por conta própria. Obrigatoriamente, implica em que o homem abandonaria a dependência do juízo de Deus para estabelecer o seu próprio juízo no lugar. Introduziu-se a ideia de uma falsa autonomia ao homem e este se encantou com tal ideia. Falsa, porque, ninguém é auto-suficiente para escolher sem uma causa ou fator determinante da escolha. O único ser, em todo o Universo, capaz de agir sem qualquer causa determinante é Deus, porque é soberano.
As doutrinas espiritistas e gnósticas adotaram o "livre arbítrio" como o principal ensino, porque necessitam dela para justificar as suas demais doutrinas. Sem a suposta liberdade de escolhas morais, a reencarnação e a evolução não se sustentariam. Igualmente, sem o "livre arbítrio", o Gnosticismo não se afirmaria como uma doutrina místico-filosófico-religiosa. A crença na gnose, ou seja, no conhecimento próprio e inerente ao homem deu origem à crendice na capacidade de decidir, escolher e desejar sem a necessidade de Deus ou qualquer outro condicionante externo ao homem. Com o advento do Cristianismo, o Gnosticismo se infiltrou e se misturou ao ensino cristão como um movimento sincrético e esotérico. Tentou dar ao Cristianismo nascente um viés filosófico e humanista. Penetrou nos círculos cristãos como um movimento místico e transcendente acerca das verdades divinas, no tocante à condição espiritual do homem. Muitos foram os cristãos que se enveredaram por este caminho, dando origem a diversas heresias as quais trouxeram grandes prejuízos ao mundo cristão dos primeiros séculos. Algumas serão retratadas em outro estudo mais adiante.
Gnosticismo provém do grego 'gnostikismós' [Γνωστικισμóς] que, por sua vez, provém de 'gnosis' [Γνωσις] que significa conhecimento. Na Conferência de Messina, na Itália, em 1966, o Gnosticismo foi considerado: "... um determinado grupo de sistemas do segundo século depois de Cristo." Enquanto o termo Gnose foi definido como: "... o conhecimento dos mistérios divinos para uma elite." Desta forma, decidiu-se ali que Gnosticismo é algo diferente de Gnose. Aquele seria apenas de caráter místico-religioso, enquanto esta seria de caráter universal pertencente ao sistema de conhecimento privilegiado de um grupo intelectual. Por este argumento, o Gnosticismo foi declarado uma categoria potencialmente falha. Portanto, não se sustenta nem mesmo como ciência.
O Gnosticismo moderno, a saber, do século XXI desenvolveu-se a partir do Ocultismo da Cabala Judaica, por meio de Eliphas Levy. No século XIX, destacaram-se William Blake, Arthur Schopenheuer, Albert Pike e Madame Blavatsky como precursores. Esta última fundou a Sociedade Teosófica em 1875, sendo que um dos seus alunos traduziu os textos gnósticos e herméticos. Isto tornou o Gnosticismo acessível às massas, passando de um conhecimento esotérico a um conhecimento exotérico. Também, a descoberta e a tradução da biblioteca Hag Hammadi teve forte impacto na disseminação do Gnosticismo nos séculos XX e XXI.
O que ocorreu nestes últimos tempos foi que, o Cristianismo histórico e nominal enfraquecido por seus líderes sem experiência de novo nascimento, por argumentos gnósticos e pela competição das ciências ateístas. Desta forma acabou por sucumbir e incorporar a ideia de "livre arbítrio". Isto apenas demonstra o enfraquecimento da revelação das Escrituras e a acolhida do conhecimento humanista na igreja como forma de sobrevivência. Desta maneira vão se cumprindo as profecias sobre o avanço do mal sobre a fé legítima e verdadeira para trazer o juízo de Cristo sobre o mundo. Tal avanço não é surpresa aos nascidos de Deus, pois ele é necessário para que se cumpram as Escrituras. O tolo religioso imagina que pode defender a honra de Deus, lutando contra o mal. Ora, Deus mesmo permite que certas coisas progridam para que a sua palavra se cumpra total e cabalmente. O que importa é o triunfo final do Grande Rei - Jesus, o Cristo - preordenado antes dos tempos eternos.
Ap. 2:24 - "Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conhecem as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei." Esta é uma advertência clara sobre a promiscuidade entre a Igreja Primitiva e o Gnosticismo nos primeiros séculos. Esta doutrina a que alude o texto são os ensinos introduzidos na Igreja pelos gnósticos. Segundo tal ensino era possível ao homem ascender espiritualmente sem a justificação por meio de Cristo. Na essência mostrava um falso caminho para o homem desenvolver o seu mundo espiritual interior sem a cruz e sem a regeneração por inclusão na morte de Cristo. Ou seja, voltava-se ao que Satanás inoculou em Adão no Éden: "... como Deus sereis..." Por esta razão é que o texto de Apocalipse se refere a este ensino gnóstico como sendo "profundezas de Satanás."
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