agosto 03, 2015

PARA QUEM É A SALVAÇÃO? II

Rm. 10: 8 a 12 - "Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé, que pregamos. Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: ninguém que nele crê será confundido."
Indagar para quem é a salvação, por si só, traz enorme polêmica. Entretanto, não se faz isto por mera polêmica. A polêmica sempre é do lado que não concorda que a salvação não é para todos os homens. Há inumeráveis argumentos utilizados pelos arminianos e universalistas para contradizer tal assertiva. Porém, nas Escrituras há outros tantos e inumeráveis textos dando conta que Jesus, o Cristo morreu para um grupo de pessoas e não por todas as pessoas, ou mesmo para cada homem em particular. 
O maior entrave para que religiosos tenham o mínimo de compreensão, pelo menos intelectual, sobre o assunto são seus pressupostos conceituais. Não adianta tomar do texto sagrado fazendo adaptações conceituais. A salvação não é uma questão de moralidade, mas de soberania de Deus conforme ele mesmo afirma em Rm. 9:15 e 16 - "Porque diz a Moisés: terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia." No contexto, o apóstolo Paulo está doutrinando sobre eleição e não de bondade natural de Deus. Por amor, ele usa de misericórdia e graça até com o mais vil pecador. O que está sendo colocado doutrinariamente no texto é graça e misericórdia salvíficas.
Viu-se no estudo anterior que os judeus estavam sobrepondo suas próprias justiças à justiça de Deus. Isto implica dizer que, Deus está oferecendo a redenção pela graça mediante a fé na obra de Cristo na cruz, mas os religiosos preferem "garantir" a salvação pelo cumprimento da lei moral e cerimonial, desenvolvendo um sistema de justiça própria. Esta é a maior cilada satânica na percepção da verdade, porque, colocando o homem como cooperador no processo da salvação, isto lhe confere mérito na causa e nos efeitos desta. Portanto, Deus não seria suficiente e eficiente em Cristo para salvar o pecador. É esta a mensagem subliminar que o Diabo coloca no coração dos religiosos a fim de que não entrem e não vejam o reino de Deus conforme Jo. 3: 3 e 5 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Jesus respondeu: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." Nascer de novo é, no texto original, nascer do alto. Isto implica em que a regeneração não pode ser operada e operacionalizada pelo homem. Trata-se de uma ação puramente monérgica e, jamais, sinérgica. É uma ação soberana e sobrenatural sem o concurso do homem. O homem é passivo, pois é ele portador da natureza pecaminosa que o separa de Deus. Logo, como poderia ter qualquer participação na sua própria salvação? Nascer da água e do Espírito segue a mesma ação monérgica, pois a água simboliza o evangelho e o Espírito é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo. Portanto, em nada o pecador pode modificar, cooperar ou participar de tal operação e operacionalização.
O texto de abertura mostra que Deus opera a vivificação para salvação por meio da Palavra e não por sinais e evidências externas. Hoje, as religiões invertem esta verdade, pois seus seguidores são atraídos pelo que se vê ou o que se consegue em troca de algum ritualismo que não é culto racional. A 'palavra da fé' a que alude o texto é a palavra da cruz conforme I Co. 1:18 - "Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus." Por que a mensagem da cruz é loucura para os que se deterioram para a morte eterna? Porque ela mostra que a salvação é pela graça mediante a fé e não por obras de justiça própria e de méritos. Para os que já foram alcançados pela cruz, tal palavra é o poder de Deus e não o poder de um pregador, de uma religião, de uma seita. 
A segunda verdade exposta claramente no texto de abertura é que a 'palavra da fé' exige que se confesse a Jesus como Senhor e que Deus o ressuscitou dentre os mortos. Lendo superficialmente, não se percebe a profundidade destas palavras, porque elas só podem ser compreendidas espiritualmente. Confessar é um vocábulo que deriva da junção de 'com' + '', portanto, a salvação depende da fé que Jesus, o Cristo é o Filho Unigênito e Primogênito de Deus. Não é uma mera emissão de som declarativa, mas uma confissão, e, como tal, é algo procedente do sobrenatural. Provém do espírito vivificado e reconciliado com Deus por meio de Cristo. A confissão de Jesus como Senhor decorre da fé que procede do coração que, como já foi dito, é a sede da dimensão espiritual do homem. A boca confessa o que foi apreendido pela espírito por meio da pregação da Palavra de Deus. Não se trata, portanto, de um enunciado repetitivo de doutrinas defendidas por um líder, uma igreja, uma seita ou denominação religiosa. A fé não é o subproduto de um legado religioso herdado culturalmente, mas um dom de Deus.
Finalmente, é fundamental aperceber-se que é com a boca que se faz confissão daquilo que já foi internalizado espiritualmente ao ouvir a mensagem da cruz conforme Rm. 10:17 - "Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." Sendo a fé um dom e não uma virtude humana, depende da graça e da misericórdia de Deus e não de méritos e de justiça própria. Não é o repetir de textos bíblicos ou mesmo declarar princípios e declarações de fé de uma denominação religiosa que produz a vivificação. Muitos leem as palavras: "... pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação." Imaginam em suas mentes naturais que basta reafirmar que creem e dizer isso uns aos outros e, pronto, estão salvos. Ao contrário, alguém só é capaz de crer no coração e confessar com os lábios aquilo que foi operado e operacionalizado pela ação monérgica de Deus no espírito. Do contrário, fazem apenas declarações procedentes da mente intelectiva. Não há qualquer valor espiritual se não houver primeiro o novo nascimento. É este ato soberano iniciado, executado e concluído em Deus que salva. É Deus quem conduz o pecador eleito até a cruz conforme Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." O texto é taxativo ao afirmar que ninguém pode ir a Cristo se Deus não o conduzir. Não se trata de querer, mas de poder, justamente, porque o homem natural não pode por conta própria se inclinar para a verdade. O homem portador da natureza pecaminosa não discerne espiritualmente, porque seu espírito está morto para Deus. Isto é claramente ensinado em I Co. 2:14 - "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." O homem natural a que alude o texto é aquele que vive conforme sua natureza não regenerada. Não podendo entender as operações das leis espirituais, cria para si um sistema de crença substitutivo para chamar de verdade. Irão todos para a condenação eterna com toda a religião e esforço de justiça própria.
Sola Gratia!

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