Rm. 3: 19 a 28 - "Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus; porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei."
Religiosos de quase todos os matizes gostam de duas coisas: polemizar e acusar os que não professam seus sistemas de crença de praticarem heresias. Apontam heresia em qualquer afirmação que não coincide com o código dogmático defendido por suas seitas e denominações religiosas. Há algo muito anômalo nisto, pois a verdade é una e uma só, posto que é uma pessoa e não um conceito ou um sistema de crenças. A verdade é Cristo e, ele mesmo, se auto-define como tal em Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Do texto se pode entender, sem qualquer interpretação, que Jesus não tem porções de verdade para borrifar seus servos. Ele mesmo é a verdade personificada, como também é o caminho, e a vida. Ele não tem coisas para dar aos seus eleitos e regenerados. Ele próprio é o doador e a doação. Desta forma, como se explicam tantas religiões e todas alegam para si a posse da verdade?
O mau hábito de polemizar resulta da insegurança pessoal, a qual leva o religioso a buscar confirmação, pelo confronto, para certificar-se de que suas crenças são válidas. Muitos destes polêmicos são versados em fazer eisegese nos textos bíblicos. Eisegese é o oposto de exegese e consiste em inserir no texto bíblico o pensamento originado nos conceitos humanistas confundidos com verdades. Tais pessoas não permitem, porque não podem, que as Escrituras os esquadrinhem e os revelem como pecadores. Jesus, o Cristo os confrontou conforme Jo. 5: 39 e 40 - "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida!" Estas pessoas têm o seu querer entenebrecido pelo 'deus' deste século e não podem ver Jesus como revelado nas Escrituras. A religião destes toma o lugar de Cristo e se torna, para eles, como uma divindade proclamada e adorada. Os religiosos legalistas se sentem incomodados com a liberdade dos eleitos e regenerados. O medo de sofrer consequências, não permite largar seus sistemas de crenças, e, isto, os mantêm atados à lei moral e à lei cerimonial. Desta maneira, nem cumprem a lei, porque nenhum homem a pode cumprir, nem adoram a Cristo em espírito e em verdade, porque não nasceram do alto. Vivem uma dupla escravidão: religiosa e legalista.
É comum quando um eleito e regenerado afirma que não está debaixo da lei, mas da graça, os tais religiosos polemizadores dizem que o tal é um herege. Eles afirmam isto sem qualquer piedade ou misericórdia exigida ao cristão pelo próprio Cristo. Isto se dá por duas razões básicas: não conhecem a graça plena e porque têm medo de soltar as amarras da lei e dos preceitos. Consequentemente, temem naufragarem por praticar atos pecaminosos. Temem cair em uma espécie de buraco negro e perderem o referencial da verdade religiosa que, de fato, não é a verdade cristã. Alguns chegam ao ponto de defender que, quem se afasta da igreja ou abandona os dogmas e preceitos acabam sucumbindo aos prazeres e acenos do mundo. Ora, quem sucumbe e cede a qualquer coisa fora de Cristo, nunca foi conhecido por ele conforme Mt. 7:21 e 23 - "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Estes religiosos citados por Jesus, o Cristo estavam praticando boas coisas: profetizando, fazendo milagres e curando. Entretanto, Jesus declarou abertamente que nunca os havia conhecido. Solicitou-lhes que se apartassem d'Ele, isto é, não usassem o seu nome, porque estavam praticando a iniquidade. Por que era iniquidade? Por que qualquer ato ou atitude de obras de justiça própria fora de Cristo, não possui valor espiritual. Possui apenas valor social e coisas desejadas pelos homens. Contrariamente, aos eleitos e regenerados é dito que, se caírem sete vezes, sete vezes o Senhor os levantará. A isto dá-se o nome de Misericórdia e Graça.
O texto de abertura deixa muito claro que, o que a lei prescreve, prescreve-o para os que estão debaixo dela. Os que estão debaixo dos ditames da lei, estão debaixo do juízo de Deus e não da graça em Cristo. Tanto a lei cerimonial, como a lei moral funcionam, respectivamente, para indicar a morte de Cristo na cruz pelos ritos simbólicos e para evidenciar a natureza pecaminosa no homem. Por esta razão, a lei não possui poder de salvar e, muito menos, de santificar o pecador. A salvação é um ato exclusivo da soberania de Deus e a santificação é um processo em que os eleitos e regenerados ganham a semelhança de Cristo. Não há justificação pela lei, mas apenas o pecado sendo revelado por ela. A aniquilação da natureza pecaminosa foi realizada na cruz conforme Hb. 9:26 - "... doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo." Os religiosos não conseguem diferenciar a natureza pecaminosa dos atos pecaminosos. Generalizam tudo e dizem: 'pecado é pecado diante de Deus'. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo é Jesus, o Cristo. Ele veio para aniquilar a natureza pecaminosa que é a incredulidade e para purificar os eleitos dos atos falhos de moralidade. Jesus esclarece isso em Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." De fato a queda do homem se deu no Éden por ter sido incrédulo à ordem de Deus e crédulo à mentira de Satanás. Os atos pecaminosos são consequências do pecado e não a causa dele. No texto grego original quando se refere à natureza pecaminosa ou ao pecado original utiliza-se do termo 'hamartiós' que significa 'errar o alvo." Ao primeiro homem foi exigido crer na sentença de Deus: "... porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Tal fé o levaria ao alvo de tornar-se semelhante a Cristo e viver eternamente. Muitos religiosos pensam que o homem é pecador porque comete atos pecaminosos. É exatamente o oposto, pois cometem atos pecaminosos porque possuem natureza pecaminosa, isto é, possui a incredulidade. Isto nada tem a ver com religiosidade, pois há inúmeros religiosos que são incrédulos. É uma questão de nascer do alto conforme Jo. 3: 3 e 5 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Jesus respondeu: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." Quem não nascer do alto, não vê. Quem não nascer pela fé ao ouvir a Palavra de Deus pelo convencimento do pecado pelo Espírito Santo, não entra. Não vê e não entra! A água nas escrituras simbolizam a Palavra de Deus e o Espírito Santo é o que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo.
A justiça de Deus contra a injustiça do pecado, a saber, da natureza de incredulidade, foi executada e satisfeita plenamente na cruz, onde Jesus, o Cristo incluiu os pecadores eleitos em sua morte e os substituiu espiritualmente para torná-los aceitáveis diante de Deus. Assim, Deus é o Justo, o Juíz e o Justificador por meio de Cristo. Paulo pergunta: onde está a jactância? Ou seja a arrogância, a presunção de si mesmo como o promotor da sua própria justificação e santificação? Pela lei das obras de justiça própria? Não! Pela lei da fé, entretanto, até a fé é dom de Deus e não virtude do homem. Assim, qual é a participação do homem no processo? Nenhuma, ele apenas recebe pela graça.
Obviamente que, todos os eleitos e regenerados não autorizam e não estão autorizados por ninguém a cometer pecados contra si, contra outros homens e contra Deus em nome da graça. Ao contrário, os eleitos e regenerados foram libertados da culpa do pecado pela inclusão na morte com Cristo, estão sendo libertos da influência do pecado pela santificação, e serão libertos da presença do pecado na restauração final. Esta é a essência do ensino de Romanos e das Escrituras como um todo.
Os religiosos confundem legalismo, que é absolutamente anti-cristão, com santificação, desqualificando a obra de Cristo na cruz. Confundem antinomismo com anomia que são coisas absolutamente diferentes. O antinomismo foi uma forma de entendimento de João Agrícola discípulo de Lutero. Entretanto, ele não se opunha à lei por desejar praticar atos pecaminosos a vontade. Ele apenas afirmava que o cristão genuíno não precisa de se preocupar com a lei para sua justificação e santificação. A prova que João Agrícola não se apoiava numa posição doutrinária anti-lei, é que, pouco tempo depois, explicou sua posição em uma reunião na cidade de Berlim e o assunto foi encerrado. Tal atitude é típica de um nascido de Deus, pois não visa trazer controvérsia sobre questões desnecessárias. Assim, o que chamam de Antinomismo ou 'anti-lei', na verdade é a Anomia, uma patologia social retratada por Emile Durkeim e por Robert Merton. Nada tem a ver com questões espirituais, mas apenas sociológicas.
Sola Scriptura!
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