Jo. 17: 1 a 3 - "Depois de assim falar, Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique; assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste."
No texto neotestamentário há três palavras para o vocábulo 'vida'. A primeira é [βιος] 'bios' que se refere à vida no sentido biológico circunstanciada em um período de tempo. A segunda é [ψυχὴ] 'psikê' que é a vida almática ou ser vivente e animado. E a terceira é [ζωη] 'zoê' que é a vida espiritual ou do espírito inspirado por Deus. Das três, a mais significativa é a vida 'zoê', porque indica uma qualidade de vida plena, tanto em essência, como moralmente. A vida 'zoê' é de origem divina, sendo transferida por Deus pelo sopro do espírito. No velho testamento a palavra vida é [חָיָה] 'chayah' - lê-se 'raiá' com 'r' forte - e significa respirar. Esta vida foi transmitida por Deus ao primeiro Adão conforme Gn. 2:7 - "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente." No hebraico do texto original a palavra está no plural [חיים] 'chayim', indicando que são duas vidas: a da alma e a do espírito. Portanto, o homem foi formado do pó da terra, por isto, foi chamado Adamah, que é Adão, e quer dizer: 'barro vermelho'. Depois Deus soprou-lhe nas narinas o fôlego das vidas, a saber, deu-lhe a alma e o espírito.
Ao longo da jornada do homem na Terra, o seu maior desejo é a obtenção da vida eterna. Muitos deram tudo o que possuíam para os alquimistas do passado encontrarem a "pedra filosofal" e para atuais cientistas descobrirem o chamado "elixir da juventude." Entretanto, o fim da vida física é a única certeza que se pode ter. Ainda que muitos, atualmente, estejam congelados em Nitrogênio líquido esperando a cura de seus males, porém caminham para a morte.
Em termos escriturísticos o homem é um ser tripartite, ou seja, possui corpo, alma e espírito. Por mais que teólogos defendam a dicotomia, mas o texto bíblico não deixa dúvidas da tricotomia humana. O corpo, como se sabe, perece desde o nascimento até o declínio e a degenerescência física e morte biológica. A alma é eterna e também o canal de comunicação entre o espírito e o corpo e, destes, com o ambiente externo. O espírito veio de Deus e a ele retorna com a morte física conforme Ec. 12:7 - "... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu." O problema maior reside na alma, porque a sua vida está no sangue e, uma vez, derramado ela é libertada do corpo conforme Lv. 17:11 - "Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que faz expiação, em virtude da vida." Este era o sentido dos sacrifícios cujo sangue era espargido sobre o propiciatório no Santo dos Santos para indicar o sacrifício final e perfeito de Cristo na cruz. Desta forma o sangue de Jesus, o Cristo foi a execução da justiça de Deus sobre a natureza pecaminosa do homem. Sacrifício único, perfeito, eterno, eficiente e eficaz. Em todo o texto bíblico não se fala de salvação ou justificação do espírito, mas da alma, porque é nela que o pecado está impregnado. É a alma que é purificada na morte com Cristo! Esta é a razão porque os sacrifícios de bodes e touros não resolviam o problema da injustiça do pecado definitivamente. Apenas funcionavam como indicativo simbólico do verdadeiro e perfeito sacrifício de Cristo.
Portanto, o homem é um ser eterno e seu corpo será ressuscitado na restauração final, sua alma e espírito serão restituídos ao corpo ressuscitado neste tempo. Deus mesmo colocou o sentimento de eternidade no homem conforme Ec. 3:11 - "Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim." Entretanto, o assunto da eternidade e da vida eterna são diferenciados, no que tange ao homem, porque nem todos ganharão a vida eterna. A morte de Cristo foi para um grupo específico de pessoas, os pecadores eleitos. Ainda que alguns teólogos insistam na universalidade da salvação, mas a realidade objetiva indica que nem todos são salvos. A morte sacrificial de Cristo só tem eficácia para aqueles que foram conhecidos antes dos tempos eternos conforme Rm. 8: 29 e 30 - "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou." Verifica-se que os verbos estão todos no pretérito e que a ação é absolutamente de Deus e não do homem.
Mt. 25:46 - "E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna." Este versículo, como diversos outros, indica que a eternidade é uma coisa e a vida eterna é algo a mais, além dela. Os não eleitos irão para o castigo ou desprezo eterno, mas os eleitos e regenerados irão para a vida eterna. Portanto, é eterno, tanto um caminho, como o outro caminho. Os justos a que alude o texto, não são os bonzinhos, corretos e cheios de méritos próprios, mas aqueles os quais foram justificados em Cristo. Tal justificação é o ato de tornar alguém justo e não uma espécie de auto-justificação. Caso o homem pudesse justificar-se a si mesmo, Jesus, o Cristo seria absolutamente dispensável.
O texto de abertura mostra com clareza meridiana que, apenas aqueles os quais Deus deu a Cristo ganharão a vida eterna. Isto é devidamente mostrado em Jo. 6:44 e 65 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. E continuou: por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido." Vê-se que ir a Jesus depende de Deus conduzir o pecador e não depende da vontade. Não é uma questão de querer ou de escolha do homem, mas de poder ir até a cruz por concessão de Deus. Os religiosos cometem sempre o humanismo arrogante de afirmar que o pecador tem de aceitar a Jesus. Ora, é Jesus, o Cristo que aceita o pecador, e tão somente, se Deus o conduzir até a cruz para ser incluído na morte e na ressurreição de Cristo.
O texto de abertura esclarece que a vida eterna é conhecimento de Deus e não apenas um estado de consciência ou um lugar bonito e prazeroso. Quem não conhecer ao Pai como único e verdadeiro Deus e a Jesus, o Cristo como aquele a quem ele enviou, não terá a vida eterna. Portanto, viver eternamente é para todos os homens, mas ganhar a vida eterna é apenas para os eleitos e regenerados. Isto não é porque são melhores, merecedores e justos em relação aos demais homens, apenas foram justificados em Cristo conforme II Co. 5:17 - "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." No original em grego o texto fala em "nova geração", indicando que o pecador regenerado foi gerado de novo em Cristo para uma nova disposição eterna com a vida de Deus ou vida "zoê".
Soli Deo Gloria!
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