Rm. 5:20 - "Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça." Graça é um significante com diversos significados. No contexto a que se destina este estudo, traz sempre a ideia de favor imerecido, benevolência, amor, bondade, mercê, dádiva. O texto bíblico acima informa que a lei, isto é, as regras, preceitos e princípios morais e cerimoniais vieram para expor o pecado ou a ofensa do homem. Todavia, o mesmo texto mostra, que, onde o pecado abundou, a graça foi mais abundante, superando-o. Logo, a graça é maior que o pecado, justamente para ter o 'munos' de eliminá-lo. Do contrário, este jamais poderia ser aniquilado nos moldes de Hb. 9: 26 - "De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
A morte substitutiva e inclusiva de Cristo na cruz é o aspecto supremo da graça. Porque, n'Ele, tanto o pecado, como os atos pecaminosos são aniquilados. Aquele, no ato da justificação na morte de Cristo, e estes, no processo de santificação na vida d'Ele até a restauração final.
Desta forma, a graça se constitui em superabundante, precisamente porque o dom de Deus é superior à ofensa pecaminosa do homem. Sabe-se que a justiça humana é em sua essência distributiva, ou seja, a cada um segundo o que lhe é de direito. Entretanto, a justiça de Deus é retributiva, isto é, a cada ofensa, a graça é retribuída em superioridade ao agravo. Este é o maior paradoxo para o homem religioso, pois a sua mente reage com base na justiça forense e não na justificação graciosa. Deus age retributivamente, porque é ciente que, pela lei, isto é, pelo cumprimento de normas, regras e preceitos, nenhum homem poderá obter salvação. Assim, Ele retribui ao pecado de modo desproporcional em graça. Porém, não deixa de executar a sua justiça contra o pecado ao destruir a natureza pecaminosa do homem, incluindo-o na morte de cruz conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer."
Paradoxalmente a graça é um dom muito difícil de ser recebido pelo homem, especialmente o religioso. Isto porque a sociedade e, sobretudo, a religião cria na mente humana uma lei compensatória. Configura-se esta norma no princípio da recompensa, ou seja, quanto mais o homem fizer, mais merecedor se tornará; quanto mais se esforçar, maior o seu sucesso; quanto maior a sua eficiência e desempenho, maior a eficácia e recompensa; quanto mais realizar e operar, mais será aceito e reconhecido. Por isso, embora todos concordam que graça é uma boa coisa, todos querem produzi-la por seus próprios esforços, méritos e justiças próprias. Não é este o padrão da graça ensinada nas Escrituras. O que das sagradas letras se pode depreender é que a graça verdadeira, gera como contraponto a plena dependência de Deus. Ou é Ele o operador e o operacionalizador da graça, ou o homem viverá com base na lei. Sabe-se, entretanto, que pela lei nenhuma carne se salva consoante a pena do apóstolo Paulo.
Em alguns aspectos as práticas político-administrativas e judiciais tomam a graça por base. É o caso, por exemplo, do poder executivo brasileiro, usa figura jurídica que toma a graça como um ato de clemência do poder público, que favorece individualmente um condenado em definitivo por crime comum ou por contravenção, extinguindo-lhe, reduzindo-lhe ou comutando-lhe a pena. Neste caso, houve uma anistia, clemência ou indulto.
Na Primeira Guerra Mundial um soldado foi executado, porque acendeu fogo em sua trincheira durante a noite. Isto, segundo o código de guerra, permitiria aos inimigos localizar e atacar as bases dos aliados. Imagine se Deus fosse tratar com o homem pecador nas mesmas bases da justiça distributiva?
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