O homem, na presunção religiosa supõe ter a capacidade de querer e de realizar tudo. Na verdade, tal presunção se faz justificar, porque há uma profunda diferença entre escolhas puramente morais e a capacidade de livre escolha espiritual. Mesmo no caso das tais escolhas morais, estão circunvaladas à esfera de uma natureza pecaminosa, portanto, separada da natureza Santa de Deus. Neste sentido, a alma ilude e engana o religioso, deixando-o na suposição de ter uma experiência espiritual. Não se pode confundir a vida da alma, com a vida do espírito. Quando da queda, o homem era portador apenas da vida da alma, porque fora feito tão somente, alma vivente conforme Gn. 2:7 - "... e o homem tornou-se alma vivente." Isto é confirmado por Paulo em I Co. 15: 45 e 46 - "Assim também está escrito: o primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois o espiritual." Percebe-se com base apenas no texto sagrado e não na opinião de quem quer que seja, que o homem natural não é espiritual, ainda que possua um espírito. Isto ocorre, porque o seu espírito está separado de Deus, portanto, morto para a vida verdadeira e eterna. O único que pode restaurá-lo é o último Adão, a saber, Cristo, pois Ele é Espírito Vivificante. Enquanto o primeiro Adão é alma vivente, o último Adão é Espírito que comunica vida eterna. Assim, Cristo é o último Adão, porque n'Ele, isto é, em sua morte, a raça adâmica é terminada. Quando Cristo morreu na cruz, morreu com Ele a natureza adâmica, isto é, o pecado ou velho homem conforme Rm. 6: 6 - "... sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado." Obviamente que tal realidade só é possível aos eleitos antes dos tempos eternos, que, por isso, creem nesta palavra. Os que não creem, não foram eleitos para tanto, e no máximo, permanecerão apenas bons religiosos.
Por inclusão na morte de Cristo, os eleitos são transferidos do reino das trevas para o reino da luz. Eles passaram da morte, isto é, de um espírito morto para Deus, para a vida em Cristo, isto é, ganharam a Sua vida na ressurreição, juntamente com Ele. Ao ganhar a vida de Cristo, o homem passa à condição de filho por adoção. O homem decaído, religioso ou ateu, é apenas animal, tendo esta palavra no texto original no grego koiné, o significado de psíquico ou almático.
Este é o terrível engano que perdura e progride no mundo, especialmente no campo religioso, pois o inimigo faz isto prosperar a fim de que, os pecadores continuem perdidos espiritualmente e dediquem culto à sua própria alma decaída. Muitos homens bem intencionados, despendem grandes somas de dinheiro e tempo para criar e sustentar obras missionárias, porém estão apenas financiando o anátema. Parece cruel dizer isto, mas quando se tem as escamas dos olhos retiradas pela graça soberana do Pai, todas estas realidade se tornam cristalinas diante dos regenerados. Entretanto, isto não os torna melhores que qualquer outra pessoa neste mundo. Ao contrário, eles são pecadores que receberam a graça, e, portanto, nada são e nada podem. Deus não concede o Seu trono para que ninguém se faça juiz e condene as outras pessoas por causa das suas fraquezas ou soberbas. Estas pessoas já estão condenadas e, se forem eleitas, serão fatalmente alcançadas pela misericórdia e a graça do Pai.
Uma das coisas que o homem decaído não pode entender é que a graça de Deus é irresistível. Uma vez dada ao pecador, ele não pode livrar-se dela. Isto faz sentido de acordo com o que ensina solenemente as Escrituras em Jr. 1:12 - "Então me disse o Senhor: viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir." Então, aos que de antemão conheceu, a estes predestinou, aos que predestinou a estes chamou, aos que chamou a estes justificou e aos que justificou a estes glorificou. Esta sequência mostra que Deus é o autor soberano da salvação, que também cria os meios para executá-la, e que finalmente conclui o Seu propósito eterno sem retroceder em nada. Ele não só conhece, escolhe, chama, justifica, mas também concede a glória da vida eterna em Cristo Jesus.
A incompetência humana é tamanha, que, mesmo quando o homem supõe estar exercendo a sua livre agência, na verdade está sendo conduzido a isto para um determinado fim preparado de antemão por Deus. Vê-se esta verdade cristalina em Gn. 45:8 - "Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como governador sobre toda a terra do Egito." Quando os irmãos de José tomaram a decisão de matá-lo e depois acabaram vendendo-o aos caravaneiros ismaelitas, pensavam estar realizando os seus desejos e vontades livremente. Entretanto, eles estavam sendo guiados a isto por uma razão maior e preestabelecida por Deus conforme v. 7 - "Deus enviou-me adiante de vós, para conservar-vos descendência na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento." Veja, o que os irmãos de José tomaram como um grande feito e exercício do querer deles, Deus estava realizando a Sua soberana vontade em favor deles mesmos, preservando-lhes a vida para que a Sua Palavra se cumprisse em Abraão. Do contrário, Deus teria enganado e mentido a ao patriarca, quando lhe disse que o abençoaria e o multiplicaria grandemente em uma numerosa nação. Também a promessa do Messias, Cristo, teria sido uma mentira, pois se todo o povo hebreu tivesse morrido por causa da seca e da fome, Deus não teria fidelidade nem mesmo à Sua própria Palavra.
Em que você crê? Nas Escrituras? Ou em ensinos de homens?