sábado, julho 25

LIVRE-ARBÍTRIO, UM FALSO "DEUS" CRIADO PELO HOMEM III

Jr. 13:23 - "... pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas? Então podereis também vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal."
Sempre quando alguém levanta a questão da impossibilidade de haver livre-arbítrio, aparecem as cogitações baseadas em uma lógica simplista para defender a existência do mesmo. Um típico caso é dizer: "se eu quiser fazer isto ou aquilo agora eu simplesmente vou lá e faço." Ou ainda, "hoje eu decidi vestir tal roupa, usar tal sapato, comer tal coisa" e isto prova que eu tenho livre-arbítrio. A pessoa parca de fé e tacanha de conhecimento sempre se apega a este tipo de lógica, porque não consegue abstrair-se da própria realidade circunstanciada. Tal pessoa não sabe, porque não conhece, fazer distinção entre vontade, desejo e ação. Também não sabe distinguir entre escolhas naturais e escolhas espirituais. 
É óbvio que, apesar da queda, o homem não perdeu sua capacidade de fazer escolhas, porque não lhe foi retirada a vontade que, aliás, ficou escrava dos desejos. A vontade é conduzida pelo desejo e suas ações ficam circunscritas apenas a esta esfera. A vontade planeja, porque o desejo lhe impõe tal plano e a ação decorre apenas disso e não de uma decisão livre. Portanto, a ação não é livre, porque está condicionada à necessidade gerada pelo desejo e subordinada à vontade escrava deste desejo. Deixa de considerar ainda que, mesmo estas escolhas circunvaladas na dependência do desejo e da vontade corrompidos pelo pecado, podem ser, e são, controladas pela soberania de Deus. Desta forma, se alguém está sentado em uma poltrona e decide se levantar para ir ao banheiro, porque foi forçado pela necessidade fisiológica, ainda assim, não terá nenhuma garantia que chegará ao banheiro conforme planejado. Entre o ato de se levantar e o ato de chegar ao banheiro para fazer suas necessidades, pode ocorrer um ou diversos eventos fora do controle do agente. 
As escolhas naturais são relacionadas à sobrevivência do homem enquanto animal. Portanto, comer, dormir, defecar, urinar, beber água, fazer sexo, são escolhas determinadas pela condição existencial e não livres escolhas. Tais escolhas não podem ser entendidas como livre-arbítrio, pois são circunstanciadas à necessidade determinada pelas contingências humanas naturais. Ninguém decide que irá fazer o seu coração parar, porque não tem qualquer controle sobre este órgão cujos movimentos são involuntários. Escolhas espirituais, por exemplo, nenhum homem é capaz de fazê-las sem o concurso da graça e da misericórdia de Deus. Infelizmente, as religiões institucionais e a igreja nominal incute na cabeça do homem que ele "aceita Jesus como Salvador", é exatamente o contrário, é Cristo quem aceita o pecador por meio da graça e da misericórdia. O homem apenas recebe o dom de Deus, pois do contrário não seria dom e sim recompensa. A mentalidade pecaminosa deseja aproximar-se de Deus por meio de méritos, por isso, preferem o aceitar e não o receber. Aceitar é ativo e receber é passivo, portanto, quem aceita, faze-o mediante a justiça própria, quem recebe ganha o dom de Deus pela graça sem méritos. Outro erro grosseiro é dizer: "eu me converti", quando, de fato, o pecador é convertido sendo isso claramente ensinado em Lm. 5:21 - "Converte-nos a ti, Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes." 
O que ocorre, comumente, é que as igrejas institucionais - celeiro da religião humanista - vão incorporando padrões comportamentais, éticos, semânticos ao seus discursos. Assim, vão se distanciando cada vez mais da sã doutrina e corrompendo os sentidos dos seus ascetas. É com alguém dizer: "eu me operei" com sentido de que sofreu uma intervenção cirúrgica. Trata-se, portanto, de inconsistência absoluta, visto que um paciente não pode tomar do bisturi e fazer incisões em seu próprio corpo para extirpar um mal qualquer. Este é o mesmo padrão de incorporação que domina a terminologia religiosa e pseudo-teológica recorrente nas crenças e religiões ditas cristãs. 
Quando Deus pronuncia uma sentença ou um enunciado literal, o conceito de livre-arbítrio se esvai totalmente. Isto se vê em Is. 43:13 - "Eu sou Deus; também de hoje em diante, eu o sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?" Há alguma alternativa ao homem? Portanto, qualquer concepção de livre-arbítrio que não passa pela operação do querer e do efetuar de Deus é mera arrogância produzida pela natureza pecaminosa. O homem controlado pela pecaminosidade é, por natureza, um insolente. E, como tal, está em constante estado de rebelião contra Deus. Mesmo quando opta por um estilo de vida dedicado ao bem ou ao legalismo e abstinência, até isto pode ser sinal de rebelião. Isto porque, o bem ou o correto praticado pelo esforço do homem contaminado pela natureza pecaminosa é imundícia espiritual conforme Is. 64:6 - "Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como o vento, nos arrebatam." Vê-se que o texto não retira a justiça praticada pelo homem, apenas a reduz à imundície. Parece estranho que Deus considere as justiças próprias do homem como imundas. Entretanto, isto se deve ao fato que a fonte ou a origem delas está impura pela natureza pecaminosa. A questão é que, a única justiça perfeita capaz de aniquilar o pecado é a justiça de Deus por meio de Cristo na cruz. Portanto, sem morrer com Cristo na cruz e com ele ressuscitar para a vida, nenhum outro padrão de justiça serve diante de Deus. A justiça própria do homem, os seus bons comportamentos e sua retidão moral são bons e até necessários na sociedade. Não possui valor espiritual e muitos menos de justificação do pecador. Do contrário, a morte substitutiva e inclusiva de Cristo seria absolutamente dispensáveis. 
Soli Deo Gloria!

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