Gn. 31: 19, 34 e 35 - "Ora, tendo Labão ido tosquiar as suas ovelhas, Raquel furtou os ídolos que pertenciam a seu pai. Ora, Raquel havia tomado os ídolos e os havia metido na albarda do camelo, e se assentara em cima deles. Labão apalpou toda a tenda, mas não os achou. E ela disse a seu pai: não se acenda a ira nos olhos de meu senhor, por eu não me poder levantar na tua presença, pois estou com o incômodo das mulheres. Assim ele procurou, mas não achou os ídolos."
Ídolo é um substantivo masculino que provém do grego 'eidolon' ou do latim 'idolum'. Trata-se de uma imagem ou simulacro de uma divindade, pessoa ou força da natureza a qual se adora como se fosse 'deus'. Também se aplica a pessoa ou objeto que se admira ou se venera demasiadamente. Na cultura judaico-cristã refere-se a uma pessoa real ou sua representação, além de entidade fantástica a qual se dedica adoração como se divina fosse. Entendo-se fantástica como algo fantasioso ou puramente subproduto da imaginação.
Considerando a cultura judaico-cristã a idolatria é algo abominável e, contra ela, o primeiro mandamento da lei afirma em Ex. 20: 3 a 5 "Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam." A ordem direta de Deus repassada por Moisés é para não ter ídolos, não fazer imagens de qualquer coisa, não encurvar aos ídolos, não servi-los. Isto equivale dizer que não se pode adorar absolutamente nada, além de Deus. A adoração de ídolos traz ira até a quarta geração, pois implica em um tipo de pecado chamado de iniquidade. Adorar coisas implica, obrigatoriamente, em ódio ao Deus único e verdadeiro. Exatamente, porque tais ídolos não existem na realidade, tratando-se de uma projeção do homem a si mesmo. Desta forma, o idólatra, adora-se a si mesmo.
Muitos hoje, não só possuem, cultuam e servem a diversos ídolos, mas idolatram a si mesmos. Amam mais a criatura que ao Criador conforme Rm. 1:25 - "... pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém." O resultado dessa idolatria é o abandono por Deus e a perdição e desolação ainda em vida conforme os versos 24 e 26 de Rm. 1 - "Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza." A coisa mais tremenda na vida de uma pessoa é quando Deus a entrega a si mesma, porque sendo o seu espírito morto para Ele por causa da natureza pecaminosa, e a alma impregnada pelos atos pecaminosos, a tendência é a degradação moral, física, e a perdição eterna. É o famoso ensino de Cristo: "...cego, guiando cego."
O texto de abertura faz referência aos ídolos que, no texto hebraico original, são chamados de 'terafim'. Na tradução para a língua portuguesa foram denominados de 'ídolos de família', 'deuses familiares' ou 'ídolos do lar'. A Arqueologia recente descobriu nas ruínas da antiga Mesopotâmia em Nuzi, antiga cidade de Gasur, no que é hoje, o Iraque, uma tabuleta de barro cozido que dá instruções sobre a posse dos 'terafins'. Ao que indica o texto, a posse de tais ídolos dava ao possuidor o direito de herança, mesmo não sendo herdeiro legítimo. Todos os povos antigos do Oriente Médio, cultuavam os terafins e o povo de Israel assimilou esta prática nos dias dos juízes e dos reis. Tal idolatria sempre foi combatida por Deus por meio dos profetas.
O profeta Samuel usa a idolatria como equivalente ao pecado da feitiçaria conforme I Sm. 15:23 - "Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniquidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei." Ao cultuar ídolos, o homem se põe em rebelião contra Deus, tornando obstinado e em busca de poder e de conhecimentos obscuros. É uma forma de adorar a criatura e não ao Criador. A consequência é a rejeição da graça e da misericórdia de Deus.
O profeta Samuel usa a idolatria como equivalente ao pecado da feitiçaria conforme I Sm. 15:23 - "Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniquidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei." Ao cultuar ídolos, o homem se põe em rebelião contra Deus, tornando obstinado e em busca de poder e de conhecimentos obscuros. É uma forma de adorar a criatura e não ao Criador. A consequência é a rejeição da graça e da misericórdia de Deus.
O fato é que Raquel furtou os terafins de seu pai, Labão, às escondidas e os ocultou na sela do seu camelo. Pelo contexto, Raquel e Leia haviam se rebelado contra o pai, por este ter explorado Jacó, marido das duas, por muitos anos. Também, naquele tempo as filhas não participavam da herança, mas apenas os filhos varões, como Labão não os tinham, até então, o genro seria o herdeiro. Desta forma, ao furtar os ídolos, Raquel estaria garantindo que Jacó entraria na partilha dos bens de Labão quando este morresse. Até a chegada de Jacó em Padã-Arã - no que é hoje a Síria - Labão ainda não tinha gerado filhos, mas apenas filhas. Após os anos de trabalho de Jacó para seu sogro este passou a ter filhos. Desta forma, Labão não desejava incluir Jacó na herança.
Após receber notícias que Jacó havia fugido com suas esposas, filhos e bens, Labão convocou os seus parentes para ir no encalço de Jacó, concluindo que ele havia furtado os terafins. Entretanto, Jacó não sabia da apropriação indébita de sua esposa Raquel. Alcançado, Jacó permitiu que Labão fizesse uma busca em tudo para que se descobrisse a verdade sobre a história do sumiço dos terafins. Raquel, em posse dos ídolos, se assentou sobre a sela onde os tais estavam escondidos e se desculpou com o pai para não se levantar, alegando estar menstruada. Os terafins foram levados até a terra de Israel por Raquel. Após a descoberta dos ídolos Jacó ordenou que estes fossem enterrados aos pés de uma grande árvore em Sichem ou Siquém.
Extrapolando o assunto dos terafins como garantia de herança para o campo espiritual a questão se torna mais grave. Muitas pessoas hoje, roubam, ocultam e cultuam seus próprios ídolos. Sejam artistas, namorados e namoradas, maridos e esposas, autoridades públicas, jogadores. Também há os que mantêm dentro de casa nichos ou altares dedicados a ídolos de barro, de ferro, de gesso e de madeira. Os adoram e os servem acendendo velas, queimando incenso e servindo-lhes bebida, comida, perfumes e rezas. Tais pessoas estão em total afronta ao único e soberano Deus. Elas não conseguem encontrar a verdade nas Escrituras, porque suas mentes estão cauterizadas pela natureza pecaminosa. Por isso, criam relações alternativas para aplacar suas angústias, frustrações e falta de luz. Encontram nesses 'terafins' algum consolo momentâneo pela satisfação dos desejos da alma perdida e contaminada. Entretanto, não encontram a verdadeira paz que do alto vem a qual excede a todo entendimento. É como ensina o Mestre Jesus, o Cristo em Mt. 16:26 - "Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida?" Ainda que alguém seja vitorioso em tudo nesta vida, não possui qualquer garantia da vida eterna sem Cristo.
Não basta enterrar os ídolos, quebrá-los e negá-los se estes permanecerem nos corações dos homens. A atitude de Jacó foi a de se livrar dos terafins, eliminando-os do coração e cultuando o verdadeiro Deus conforme Gn. 35: 1 a 7 - "Depois disse Deus a Jacó: levanta-te, sobe a Betel e habita ali; e faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da face de Esaú, teu irmão. Então disse Jacó à sua família, e a todos os que com ele estavam: lançai fora os deuses estranhos que há no meio de vós, e purificai-vos e mudai as vossas vestes. Levantemo-nos, e subamos a Betel; ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho por onde andei. Entregaram, pois, a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham nas mãos, e as arrecadas que pendiam das suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém. Então partiram; e o terror de Deus sobreveio às cidades que lhes estavam ao redor, de modo que não perseguiram os filhos de Jacó. Assim chegou Jacó à Luz, que está na terra de Canaã (esta é Betel), ele e todo o povo que estava com ele. Edificou ali um altar, e chamou ao lugar El-Betel; porque ali Deus se lhe tinha manifestado quando fugia da face de seu irmão."
A consequência da obediência e do desfazimento dos ídolos é que Deus abençoou a Jacó e mudou o seu nome para Israel. Isto está registrado no capítulo 35 de Gênesis, versos 9 a 12 - "Apareceu Deus outra vez a Jacó, quando ele voltou de Padã-Arã, e o abençoou. E disse-lhe Deus: o teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. Chamou-lhe Israel. Disse-lhe mais: eu sou Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; a terra que dei a Abraão e a Isaque, a ti a darei; também à tua descendência depois de ti a darei."
Sola Gratia!
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