Tg. 3:6 - "A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniquidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo geena."
A grande dificuldade de alguns que se dedicam à exegese bíblica é não diferenciar liguagem literal de linguagem figurada e vice-versa. Quando se toma o que é figurado por literal as coisas não batem, porque são naturezas diferentes de significantes e significados. Alteram-se os sentidos conotativo e denotativo dos significantes. As palavras inferno, seol e hades podem, dependendo do contexto, serem apenas figurações ou terem sentido literal. Entretanto, o senso comum está tão arraigado na mente das pessoas que, estas, tomam sempre a palavra inferno como o lugar de tormento eterno. Não percebem que, o inferno ou hades é um lugar intermediário entre a vida e a ressurreição final. Aqueles que lá estão, são atormentados, não por que o lugar é de tormentos eternos, mas pelo estado de consciência almática que os levou para lá. A alma é a sede das emoções, das volições e das decisões, portanto o tormento é pessoal. Para piorar estas realidades todas, o tradutor do grego neotestamentário simplesmente traduziu sheol, hades e geena como inferno, desconsiderando o contexto. Como a ideia de inferno foi deformada pela religião nominal, eles a tomam por lugar de tormento eterno. É muito comum, na cultura ocidental, ouvir alguém mandando os desafetos para o inferno. Ora, neste caso, estará desejando que o tal desafeto morra e vá para o lugar dos mortos e não para o lugar de tormento eterno.
Por exemplo, no texto que abre este estudo o apóstolo Tiago está tratando da questão de malediscência, logo, ele se refere à língua como membro do corpo. Então, afirma: "a língua também é um fogo." Qualquer pessoa, razoavelmente lúcida, percebe que fogo é figurado, pois a língua é um órgão humano de tecido epitelial pavimentoso, não de fogo. Quando afirma que "a língua qual mundo de iniquidade..." está dizendo que, aquilo que ela profere são iniquidades. Mas, a iniquidade está na língua, ou no coração? A língua não é a iniquidade em si, mas o meio pelo qual o homem externaliza a iniquidade do coração. Tiago também ensina que a língua "contamina todo o corpo, inflama o curso da natureza." Ora, não é a língua que inflama a natureza, mas apenas o que ela é capaz de afirmar que traz confusão e discórdia entre todos e em tudo. Finalmente, o apóstolo afirma que a língua "será inflamada pelo geena." Porém, o tradutor trocou geena por inferno. Na verdade, o apóstolo Tiago está dizendo que as pessoas malediscentes causam mal a todos e ao mundo e que, de resto, pagarão por isso nos tormentos da condenação eterna. Geena sempre é utilizado quando o tormento é eterno e inflingidos pelo lugar, ou seja, é a segunda morte no lago de fogo e enxofre. Então, o Gehinom é apenas uma figura do lago de fogo e enxofre.
Ap. 1:18 - "Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do hades." O texto grego koinê correspondente a este versículo é:[καὶ ὁ Ζῶν καὶ ἐγενόμην νεκρὸς καὶ ἰδοὺ ζῶν εἰμι εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων καὶ ἔχω τὰς κλεῖς τοῦ θανάτου καὶ τοῦ ᾅδου]. Vê-se que a última palavra é hades. O que Jesus, o Cristo está afirmando é que ele detém o controle do lugar onde estão os mortos aguardando o juízo final. Eles estão nos lugares inferiores ou nos abismos em estado intermediário entre a vida e a ressurreição aguardando suas sentenças. É precisamente este o sentido de inferno. Porém, é um estado de tormento, visto que as almas lá residentes têm consciência de que não terão mais a chance de justificação de acordo com Hb. 9:27 - "E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo..."
At. 2:27 e 31 - "...pois não deixarás a minha alma no hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; ... prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades, nem a sua carne viu a corrupção." O autor do livro de Atos dos Apótolos faz referência à ressurreição dos justificados em Cristo. As suas almas não ficam no inferno da mesma forma que Deus não deixou Jesus, o Cristo no inferno. Também o ressuscitou em corpo glorificado ou incorruptível. Nestes dois versetos é utilizado o vocábulo hades. Isto é, o mundo dos mortos não pôde reter a alma de Jesus, o Cristo, e, por similitude de natureza, não pode reter as almas dos eleitos e regenerados. Não que estes sejam merecedores ou justos em si mesmos, mas porque foram justificados pela inclusão na morte e na ressurreição com Cristo conforme Cl. 3:3 - "... porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Portanto, àqueles que defendem o estado intermediário dos regenerados no inferno, não há qualquer sentido. Este mesmo fato é reforçado em Rm. 6: 8 a 10 - "Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus."
Há profunda resistência do homem decaído quanto à necessidade de crer na sua morte e ressurreição com Cristo. Muitos até declaram isso por hábito ou para se sentir engajado entre os que pregam o evangelho da cruz. Todavia, estão no íntimo das suas almas agarrados aos rudimentos da religião nominal. Procuram sempre achar nas Escrituras subsídios para fundamentar sua incredulidade. Este é um perigo mortal, pois, para quem quer cultuar a mentira é perfeitamente possível elaborá-la, inclusive, usando a Bíblia.
Sola Fide!
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