Mt. 25:41 - "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos."
Sempre houve grande confusão conceitual quando se trata de céu e inferno. Tal dicotomia é proveniente da visão medieval criada pela igreja dominante para manter os "fieis" pelo medo. A situação piorou bastante após a publicação da obra de Dante Alighieri - A Divina Comédia - que foi, e, em grande parte, continua sendo mal compreendida. Entretanto, esta questão não será tratada neste estudo.
Etimologicamente a palavra inferno, em língua portuguesa, provém do latim eclesial [Infernum], significando, "profundezas da Terra." No grego koinê, a língua do Novo Testamento, utiliza-se do termo correspondente a inferno, isto é, [Hades] com significação de profundezas, abismos. Era, de fato, o nome de uma entidade mitológica, irmão de Zeus, condenado a viver no submundo, porque se rebelou contra Cronos. Portanto, tanto no grego, quanto no latim traz a mesma ideia: o lugar onde habitam os mortos. Estes mortos aguardam o Juízo Final.
Nos dicionários, o verbete "inferno", apresenta diversas rubricas, porém duas são as principais para este estudo: 1. "para os cristãos, lugar em que as almas pecadoras se encontram após a morte, submetidas a penas eternas"; e, 2. "local subterrâneo habitado pelos mortos (tb. us. no pl.)." Cristãos, nascidos de novo, não creem conforme o verbete 1. Ora, todas as almas dos vivos ou dos mortos são pecadoras por natureza, por pensamentos e por atos. Portanto, há algo de estranho nessa definição dicionaresca, demonstrando o nível de influência do senso comum na cultura ocidental.
Portanto, é necessário estabelecer uma dicotomia temporal sobre o significado da palavra "inferno." A primeira significação é anterior ao Cristianismo, portanto, pré-existente nas crenças das religiões ditas pagãs. No latim, tal termo é "inferus" ou "infernus", significando "lugares baixos" ou "lugares inferiores." O uso do termo em latim é proveniente da tradução do Novo Testamento por São Jerônimo, a qual deu origem à Bíblia Vulgata. Esta forma compatibiliza-se com o termo "hades" do grego koinê, pois ambos significam abismos, profundezas, lugares inferiores e o mundo dos mortos.
No hebraico, o correspondente a "inferno" é [Sheol] significando, o mundo dos mortos, e aparece 62 vezes no Velho Testamento. Portanto, tanto no hebraico antigo, quanto no moderno, traz a ideia de sepultura ou o lugar silencioso do corpo morto ou ainda o mundo onde se acham os mortos.
Outro termo importante a ser mencionado é [Tártaro], porque, também refere-se ao mundo inferior, às profundezas ou aos abismos. Entretanto, é o lugar onde foram encerradas determinadas categorias de anjos caídos até serem soltos no tempo do fim. A mitologia grega reforça a ideia, pois, nesta referência, o Tártaro era um lugar mais profundo que o Hades. Era destinado à prisão de deuses inferiores que foram rebeldes ou cometeram determinados crimes. No Novo Testamento, o apóstolo Pedro é o único que utiliza esta palavra conforme II Pd. 2:4 - "Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no tártaro, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo." Desta forma, fica claro o porquê de o apóstolo Pedro utilizar Tártaro e não Hades. Algumas traduções bíblicas trazem inferno no lugar de tártaro. Porém, no texto grego koinê é utilizada a palavra tártaro e não hades. Isto se explica pelo fato de ser um lugar de prisão de anjos caídos ou demônios e não de almas humanas. Neste assunto, as diferenças são muito sutis e requerem muita atenção.
Finalmente, um outro termo utilizado com conotação de lugar de tormento é [Gehenna]. Esta palavra, em grego koinê, foi transliterada do termo hebraico [Ge’hinnom] o qual significa o Vale de Hinom. Esta localidade fica ao sul de Jerusalém e pertenceu a um tal de Hinom e depois ao seu filho herdeiro. No tempo de Jesus, o Cristo, era o local onde se incinerava o lixo de Jerusalém, e, portanto, estava sempre em chamas. Também era o local onde reis ímpios, tais como Acaz e Manasses, ofereceram seus filhos em sacrifício ao "deus" Moloque conforme 2 Cr. 28:3 e 33:6 - "Também queimava incenso no vale do filho de Hinom, e queimou seus filhos no fogo, conforme as abominações das nações que o senhor expulsara de diante dos filhos de Israel..." Além disso queimou seus filhos como sacrifício no vale do filho de Hinom; e usou de augúrios e de encantamentos, e dava-se às artes mágicas, e instituiu adivinhos e feiticeiros; sim, fez muito mal aos olhos do Senhor, para o provocar à ira." O Geena é citado em Mt. 5:22, 29 e 30 - "Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: tolo, será réu do fogo do geena. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no geena. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o geena." A ideia da palavra nestes e em outros textos correlatos no Novo Testamento é que pessoas perversas e não nascidas de novo irão para um lugar de tormento eterno por fogo. O tradutor da Bíblia para língua portuguesa traduziu Gehenna por Inferno. Isto é absolutamente errado e fruto da prevalescência do senso comum sobre a semântica.
A ideia de inferno como lugar de tormento e não como um lugar provisório em que os mortos aguardam o dia do Juízo Final, foi introduzida na Idade Média para fazer as pessoas permanecerem na igreja dominante pelo medo do tormento eterno.
A expressão, "fogo eterno", que aparece no texto de abertura é o lugar de tormento eterno, isto é, o "lago de fogo e enxofre" citado no Apocalipse. Nada tem a ver com inferno, hades, sheol ou tártaro.
Sola Scriptura!
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