Enganam-se os que se dizem cristãos, porém pensan que Jesus foi para cruz sozinho. Ele foi crucificado, não por causa de qualquer pecado próprio, pois n'Ele não houve engano e, muito menos pecado conforme I Pd. 2: 21 e 22 - "Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas. Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano." Assim, Cristo assumiu a cruz como parte de um acerto eterno entre o Pai e Ele, antes da fundação do mundo e dos tempos eternos. Ao ir para a cruz, Cristo atraiu o pecador a Si, isto é, em Sua morte conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Veja, não há dúvidas que Ele se refere ao seu levantamento na cruz, uma vez que a referência é à maneira, a qual iria morrer. Também, esta mesma verdade acha-se no texto de I Pd. 2: 24 - "... levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados." Se ele atraiu os eleitos, levou os seus pecados para o seu corpo sobre o madeiro, isto é, a cruz, logo estes também morreram n'Ele, pois do contrário, como os eleitos estariam mortos para o pecado? É óbvio que tudo isto se apropria pela fé, pois foi realizado há aproximadamente dois mil anos atrás. Assim, Jesus, enquanto homem histórico substituiu o pecador fisicamente, e Cristo, enquanto o Filho Eterno de Deus, o substituiu espiritualmente. Aquilo que é subjetivo aos eleitos, foi objetivado em Cristo na cruz.
Um dos erros mais grosseiros da dita "cristandade" é ler as Escrituras apenas como um manual de religião, por mera tradição ou hábito, pelas lentes de terceiros ou para apaziguar suas carências. Leem-nas sem levar em conta as preposições, verbos, advérbios, artigos, pronomes, etc. Também, deixam de considerar que há erros tendenciosos nas traduções, porque os tradutores seguem invariavelmente as linhas doutrinárias a que estão atrelados em seus sistemas teológicos. Há um trocadilho italiano que diz: "traduttore, traditore." Isto indica que traduzir pode levar a uma traição do texto em sua pureza original. Acontece que, quase todos os tradutores traduzem as Escrituras com base no seu sistema de crença, justamente porque não concorda com a doutrina dos outros sistemas de crenças. Ao forçar a tradução para o seu sistema de crenças acaba por mutilar o texto em sua pureza evangélica.
No texto de Jr. 18:4 diz: "Como o vaso, que ele fazia de barro, se estragou na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme pareceu bem aos seus olhos fazer." Ora, o oleiro é o tipo de Deus e o vaso é o símbolo do homem que caiu por incredulidade, estragou-se ainda quando se achava plenamente nas mãos do oleiro. O oleiro é absolutamente soberano sobre o barro estragado, para dele, fazer um novo vaso. Assim, Deus em Cristo resolveu fazer uma nova geração conforme II Co. 5:17 - "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." A expressão "nova criatura" no texto original grego é, "nova geração". Ora, nova geração a partir do velho homem estragado pelo pecado, como o barro que se estragou na mão do oleiro, é exatamente a mensagem central da cruz. É o nascimento do alto conforme o texto de Jo. 3: 3 e 5 - "Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." A expressão "nascer de novo" no texto grego koinê é "nascer do alto". Equivale dizer que o ato regenerador do homem pecador é da exclusiva competência soberana de Deus e não de qualquer ato de justiça própria ou de méritos humanos.
Assim, Cristo afirma: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me." Esta afirmação não é uma sugestão, não é hipotética, não é uma opção livre. Embora ocorra a expressão "se alguém quer...", não implica em "livre arbítrio", pois o homem escravizado pelo pecado não é livre e muito menos pode arbitrar sobre questões espirituais. Ele faz escolhas morais, e ainda assim, estas estão presas aos trilhos do pecado. Não podem escapar dos limites da bitola da natureza humana contaminada pelo pecado. Quando alguém quer ir a Cristo é porque, obrigatoriamente, Deus o conduziu pelo convencimento realizado pelo Espírito Santo conforme Jo. 16: 8 e 9 - "E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim..."
Ora, a vontade do homem decaído é escrava do pecado consoante as palavras do próprio Jesus em Jo. 8:34 - "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." Sabendo que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus, logo, todos são escravos e não livres como pretendem os religiosos arminianos que se enganam e são enganados, por vezes, a vida toda. O pendor da natureza escravizada é para o seu senhor, a saber, o pecado. Isto produz no pecador uma absoluta incompetência para buscar a Deus sob quaisquer circunstâncias. O fato de alguém ter religião, realizar obras sociais, não matar, não roubar, não prostituir, etc, não implica em pureza espiritual. Apenas indica que essa pessoa desenvolveu habilidade de praticar atos aceitos pela sociedade e que são bons sim. Porém, tais atos são concebidos, desenvolvidos e praticados dentro dos trilhos de uma natureza que não foi regenerada espiritualmente. Este homem continua como o barro estragado na mão do oleiro. Não se pode confundir reforma comportamental e ética com nascimento do alto ou nova geração que faz do pecador um novo homem gerado em Cristo.
O homem, não pode desenvolver vontade própria para voltar-se para Deus conforme Rm. 3: 10 a 12 - "... como está escrito: não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." Deus, é quem vivifica o homem decaído por meio da pregação do verdadeiro evangelho e por obra do Espírito Santo. Jesus deixa isto claro em Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia."
Enquanto o religioso que é um enganado e também um enganador não recebe graça para crer que o ensino das Escrituras não se curva aos seus desejos religiosos e projetos teológicos, ele não experimenta o nascimento do alto ou de Deus. Poderá ser um bom cidadão, um excelente pai de família, um bom e caridoso religioso, um grande humanista, todavia, isto não salva, pois ele permanecerá com a sua natureza adâmica enraizada. Só a cruz pode extirpar a velha natureza, o velho homem, a raça adâmica dele. Esta é uma ação monérgica de Deus, por meio da graça mediante a fé, que Ele mesmo produz no pecador. Não se pode confundir mudanças morais, com regeneração, pois até ateus mudam drasticamente o rumo moral e ético de suas vidas em determinados momentos. Isto não lhes acrescenta salvação, pois as suas naturezas pecaminosas não passaram pela cruz.
A cruz é o único lugar onde a velha natureza da serpente é literalmente destruída e aniquilada do coração do homem conforme Hb. 9:26b - "... mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo." Verifica-se que foi o pecado que foi aniquilado na cruz e não o "eu" do pecador. Há uns religiosos inimigos da cruz de Cristo que preferem destilar maledicência contra o ensino da cruz, afirmando que os que assim creem, defendem a aniquilação do eu. Não se sabe se por incredulidade, por maldade, ou pelos dois. Todavia, as Escrituras são muito claras ao afirmar que a cruz é do homem e que Cristo a assumiu para nos tornar habilitados a comparecer perante o Pai, lavados no sangue regenerador do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e que foi imolado antes da fundação do mundo e nos tempos eternos.
A Ele, pois, toda glória de eternidade em eternidade!
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