Prosseguindo no afã de conhecer verdadeiramente o Senhor Jesus, o Cristo não se pode deixar de evidenciar que Ele é verdadeiro homem, tanto quanto é verdadeiro Deus. Pois Cristo "... subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens." conforme Fp. 2: 5 e 7.
Tal verdade é fundamental à compreensão da obra redentora de Cristo, pois esta não teria validade, caso o salvador tivesse apenas natureza espiritual. Neste caso, a crucificação, a morte e a ressurreição d'Ele não seriam possíveis. Somente com a natureza humana, Cristo poderia estar sujeito às mesmas paixões e contingências do homem a fim de justificar o pecador. Por isso, a Deus agradou enfermá-Lo, esmagá-Lo e torná-Lo pecado, incluindo n'Ele, o homem decaído consoante o texto de Is. 53. Assim, foi satisfeita, em Cristo, plena e absolutamente a exigência do 'Decreto Eterno", a saber, "a alma que pecar, esta morrerá."
Por estas razões todas é que "Cristo, Deus bendito eternamente" segundo Rm. 9:5 renunciou voluntariamente à todas as prerrogativas de Sua deidade e glória que possuía junto ao Pai, para se humilhar, padecer e morrer na cruz, ressuscitando ao terceiro dia. Assim, de um lado Ele viveu como Deus verdadeiro, mas também, de outro lado, como homem verdadeiro. Este é um mistério impossível de a mente humana decaída dirimir, visto ser esta extremamente limitada, temporal, imperfeita e oposta em natureza a Deus.
A figura de Jesus, o Cristo tem sido ao longo da história uma das mais controversas, não porque Ele seja controvertido, mas porque homens controversos o analisam por suas próprias lentes. Eles não têm interesse real e espontâneo em conhecê-Lo em verdade, mas para enquadrá-lo dentro de parâmetros estritamente religiosos, conforme os desejos humanos dissociados de Deus. Por isso, muitos "Concílios Ecumênicos" foram convocados, visando tratar de assuntos relativos a Cristo.
O Concílio de Nicéia I realizado em 325, teve lugar e necessidade no seio da cristandade, porque no século II surgiu o "Arianismo", sob o comando do presbítero Ário de Alexandria, o qual defendia que Jesus era apenas uma criatura de Deus, e, portanto, subordinado ao Criador. Esta posição ou escola ficou conhecida também como "Subordinacionismo". O Concílio de Nicéia I, definiu após muita polêmica, que o Filho de Deus é consubstancial 'homoousios' ao Pai, o que significa que não foi criado, mas compartilha da essência do Pai ou da Sua divindade. Este concílio foi convocado pelo Imperador Constantino que havia "se convertido" ao cristianismo por mero interesse político.
O Concílio de Constantinopla I convocado pelo Imperador Teodósio em 379 a 395, tinha por objeto principal a questão sobre o Espírito Santo. Desta vez o bispo Macedônio de Constantinopla levantou a tese que o Espírito Santo era apenas uma criatura e não Deus consubstanciado na Trinadade. Por isso, tal doutrina foi denominada de "Macedonismo" ou "Pneumatomaquismo". Entretanto, a conclusão do dito concílio, afeta a pessoa de Jesus, o Cristo, pois este reafirmou a Sua perfeita divindade, tanto quanto a do Pai e do Espírito Santo. Por isso, no Credo Niceno aparecem as seguintes palavras: "Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos profetas".
O Concílio de Éfeso em 431, tratou da maneira como referir-se à Maria: se 'Theotokos', isto é, mãe de Deus, ou 'Christotokos', ou seja, mãe de Jesus. O primeiro caso era defendido pelo bispo de Alexandria, Cirilo, o segundo, defendido por Nestório bispo de Constantinopla. Para Nestório, a humanidade de Jesus seria apenas o templo ou revestimento do Filho de Deus. A divindade teria passado por Maria, mas não nascera dela, o que implicava em uma pessoa humana em Jesus, distinta da segunda pessoa divina da trindade. Este concílio condenou e depôs Nestório, rejeitando a sua doutrina. Condenou o "Pelagianismo", doutrina que colocava no homem capacidades que o permitia participar ativa e livremente no processo da sua própria salvação. Condenou também o "Messalianismo" uma corrente de espiritualidade que apregoava a total apatia ou uma oração indiferentista nos credos cristãos, além do ascetismo monástico, inclusive para mulheres.
O Concílio de Calcedônia, em 451 foi convocado pelo Imperador Marciano, porque embora a questão do "Nestorianismo" tivesse sido superada, surgiu uma outra controvérsia acerca de Jesus. Eutiques de Constantinopla, adversário de Nestório e seguidor de Cirilo, ultrapassou o seu mestre, ensinando o seguinte: em Cristo, não havia apenas uma pessoa, ou um só eu, mas havia também uma só natureza, visto que a natureza divina absorvera a humana. A tese da ortodoxia, que rejeitava a dualidade das pessoas, foi exageradamente enfatizada no chamado "Monofisismo" ou "Monofisitismo". Tal posição suscitou ardente controvérsia, pois se lhe opunham Teodoreto de Ciro, Domno de Antioquia e o próprio Papa Leão I (440-461). Este concílio conclui pelo seguinte: em Cristo há uma só pessoa, mas duas naturezas, a divina e a humana, não confundidas entre si.
O Monofisismo, que não houvera se extinguido após o Concílio de Calcedônia, assumiu nova forma, bastante sutil, chamada "Monotelitismo". Este ensinava que em Cristo havia uma só vontade, a divina e um só princípio de atividade ou energia, o divino. Isto redundaria em unidade de natureza ou "Monofisismo" da mesma forma. O mentor desta tese era o Patriarca Sérgio de Constantinopla, ao qual se opunha Sofrônio de Jerusalém. A disputa suscitou, da parte do Imperador Constantino IV, Pogonato (668-685), a convocação de bispos, e legados papais, para a cidade de Constantinopla. Assim teve origem mais um Concílio Ecumênico de 680 a 681. O Monotelitismo foi então condenado e afirmou-se a existência, em Cristo, de duas vontades, a divina e a humana, moralmente unidas entre si, e de dois princípios de atividade.
No Concílio de Nicéia II, a questão em tela era denominada de "Iconoclastia", ou seja, da adoração de imagens. Morto Leão IV, a rainha-mãe e regente, resolveu, de comum acordo com o Papa Adriano I (772-795), convocar um Concílio Ecumênico para Nicéia. Este realizou-se em 787. Fora lida uma carta do Papa ao Patriarca Tarásio de Constantinopla e a Irene em favor das imagens. O Concílio declarou, entretanto, que reconhecia a intercessão de Maria, dos anjos e dos santos, assim como o culto à Cruz e às imagens. Tal culto seria relativo ao Senhor Jesus e aos santos, de modo tal que ao primeiro, Jesus Cristo, se prestaria adoração e aos santos veneração. Esta prática se percebe ainda hoje em determinados seguimentos do cristianismo puramente histórico. Entretanto, qualquer dicionário simples dá como sinônimo as palavras adoração e veneração.
Bem, continuaram diversos outros concílios cujos temas, ora giravam em torno de questões comportamentais, ora em tonro de questões dogmáticas e rituais e, ainda, ora em torno de questões puramente políticas. O fato é que Jesus continua sendo um ilustre desconhecido do ponto de vista que interessa conhecê-Lo.
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