domingo, setembro 28

SEM MORTE NÃO HÁ SALVAÇÃO IV

A morte passou a todos os homens por meio do primeiro homem, o primeiro Adão, mas a vida verdadeira e eterna foi dada por Cristo, o último Adão. O primeiro homem, Adão, foi alma vivente, o segundo homem, Cristo, é Espírito vivificante, pois quando Deus fez o homem, o fez como alma portadora de vida, mas quando Cristo morreu e ressuscitou doou a Sua própria vida aos regenerados, portanto, Ele é o que vivifica. A natureza da vida do homem é diametralmente oposta à natureza da vida de Cristo, enquanto aquela é almática e decaída da graça, esta é eterna e procedente da vida de Deus. Por isso, nada do que o homem faça neste mundo altera a sua condição de decaído da graça. Se Deus mesmo não usar de misericórdia e graça para com o pecador ele morre duas vezes: a primeira morte é a que todos já nascem portando-a, isto é, a morte para Deus; a segunda é a morte física a qual é seguida da separação eterna de Deus.
Cristo, de fato, veio para aniquilar o pecado e não para dar um jeitinho na natureza humana e, com isso, deixá-lo entrar na presença de Deus com o pecado. Isto é a coisa mais absurda, pois na presença de Deus não entra nada impuro conforme Ef. 5:5 - "Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus." O religioso não crê, que Cristo aniquilou o pecado na cruz, pois vive sempre as voltas com esta questão. A religião é insuficiente para mostrar ao pecador que uma coisa é o pecado, isto é, a natureza pecaminosa inoculada pelo Diabo, e, outra coisa, são os atos pecaminosos dela decorrentes, os quais são chamados nas Escrituras de delitos e pecados. Tanto lá isto é verdade que, existem cerca de cinco palavras no grego neotestamentário para a palavra portuguesa pecado. Apenas uma delas faz referência ao pecado que Cristo veio aniquilar, a saber, 'hamartios'.
Rm. 6: 1 a 11 - "Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus."
Há inúmeras realidades a serem consideradas neste texto: 1) O regenerado não tem prazer em permanecer no pecado, mesmo sabendo que a graça é maior do que este; 2) Os nascidos de Deus já morreram para o pecado; 3) Os regenerados morreram em Cristo; 4) Os nascidos do alto ressuscitaram juntamente com Cristo para a vida eterna; 5) Os eleitos foram unidos em Cristo na Sua morte de cruz; 6) O velho homem, isto é, a velha natureza pecaminosa herdada de Adão foi crucificada com Cristo; 7) O corpo do pecado, ou seja, a natureza portadora do pecado original foi destruída na morte com Cristo; 8) Quem crê que morreu com Cristo, está justificado do pecado, ou seja, recebeu a justiça de Deus contra o seu pecado; 9) Que a morte com Cristo é única e definitiva.
O religioso, que não recebeu a graça para crer que as Escrituras são a Palavra de Deus e não um manual de religião, permanecem no sofrimento da escravidão do pecado. Eles dizem que o ensino que Cristo veio para aniquilar o pecado é herético e que quem prega este ensino está pregando impecabilidade. Preferem se apegar aos dogmas recebidos de segunda mão, à crer no que as Escrituras ensinam claramente.

SEM MORTE NÃO HÁ SALVAÇÃO III

Já foi mostrado que há três naturezas de morte, isto é, a morte para Deus por conta do pecado e dos atos pecaminosos, a morte física e a morte espiritual com significação da condenação e separação eterna de Deus. O tratamento que Deus dispensou para solucionar a questão da morte do homem foi preparado antes dos tempos eternos conforme o texto de II Tm. 1:9 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos ..." Então, a salvação e o chamado dos que receberam graça para a vida eterna ocorreu antes mesmo de os mesmos existirem. Portanto, a salvação não depende do que fazemos ou deixamos de fazer, mas de Deus ter usado de misericórdia e graça para com o pecador na eternidade pretérita. Isto é confirmado em Sl. 139:16 - "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nenhum deles." Se todos os fatos da vida de alguém foram escritos nos livros eternos antes mesmo de a pessoa vir à luz da existência, também a sua salvação foi uma decisão eterna e soberana de Deus. Não depende de obras de justiça própria e, muito menos, de méritos como se presume comumente na religião.
Hb. 9:0 a 0 - "E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes. Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; nem também para se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote de ano em ano entra no santo lugar com sangue alheio; doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação." A figura das coisas que estão nos céus são apenas referenciais terrestres e a purificação delas por sangue representa e indica a morte de Cristo na cruz para purificação dos eleitos e preordenados para a vida. Sem derramamento de sangue não há redenção, logo, para derramar sangue, obrigatoriamente há morte. Isto foi demonstrado no Éden, quando o próprio Deus vestiu a nudez de Adão e Eva com peles de animais. Esta realidade simboliza a morte de um substituto para cobrir o pecado do homem. Então, Cristo morreu na cruz e atraiu o pecador a Si, para na Sua morte destruir a morte do pecador. De sorte que o sacrifício de Cristo foi para redimir o homem pecador, porém eleito e preordenado por Deus para ganhar a vida em Seu Filho Unigênito. Assim, Cristo aniquilou o pecado para sempre e de uma única vez. Por isso, os religiosos estão equivocados quando pedem perdão dos seus pecados repetidamente. Isto indica que não podem crer que foram incluídos na morte de Cristo para perder as suas próprias mortes espirituais. O que apresentam em seus sistemas de crença é apenas a comemoração ou o culto ao pecado incessantemente.

SEM MORTE NÃO HÁ SALVAÇÃO II

No texto neotestamentário há umas duas palavras para a palavra portuguesa morte. Quando se usa 'nekrós' e suas cognatas é uma referência genérica que envolve, primeiramente, a morte física como consequência da morte espiritual; Quando se usa 'thãnatós' é uma referência mais específica, indicando a morte espiritual. Como já foi dito, morte espiritual não é a morte do espírito, pois este não morre, mas volta a Deus que o deu conforme o texto de Ec. 12:7 - "... e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu." No caso de 'thãnatos' é uma referência à separação eterna da criatura contaminada pelo pecado em relação ao Deus eterno e santo.
Lc. 9: 59 e 60 - "E a outro disse: segue-me. Ao que este respondeu: permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe Jesus: deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus." Sem um cuidado a mais, este texto que vem de ser lido, pode suscitar uma dúvida, pois parece redundante e até contraditório, pois como pode um morto sepultar outro morto? Entretanto, na primeira vez que Cristo se refere a mortos está afirmando que o homem natural está espiritualmente morto para Deus. De fato, sem a vida de Cristo, todos estão mortos em delitos e pecados. Jesus diz assim: "deixa os nekrois' sepultar os seus próprios 'nekrois'." Então, de fato, Ele afirma, no texto, o seguinte: "deixa os indiferentes à vida de Deus por conta do pecado sepultar os seus próprios defuntos mortos física e espiritualmente."
Por estes textos percebe-se que há realmente uma morte a qual o homem já nasce experimentando-a, a saber, a sua separação da natureza divina, e, outra morte consequente desta, ou seja, a morte física ou do corpo.
Entretanto, há também uma outra morte que é aquela compartilhada em Cristo, na cruz, a qual permite o nascimento do alto. Quando o pecador recebe graça e misericórdia para crer que foi incluído na morte de Cristo, este passou da morte para a vida conforme Jo. 5:24 - "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida." Então, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela pregação da Palavra de Deus. Veja que o verbo crer está no presente contínuo e não no infinitivo. Assim, ter a vida eterna, abundante ou verdadeira exige primeiramente que se perca a vida da alma contaminada pela natureza pecaminosa e, isto, por fé que na cruz por inclusão na morte de Cristo o pecador é redimido da culpa do pecado. No texto acima, morte é 'thanaton' e vida é 'zoen', ou seja, é morte como separação eterna e vida como vida eterna. Então a fé que a inclusão do pecador na morte de Cristo dá vida eterna em oposição à morte eterna para quem não ganha a graça para crer.
Quando Cristo foi crucificado atraiu os eleitos n'Ele para perder a vida morta no pecado; quando Ele ressuscitou dentre os mortos, Ele doou a Sua vida aos preordenados para lhes dar a vida eterna.

sábado, setembro 27

SEM MORTE NÃO HÁ SALVAÇÃO I

A morte é um fato altamente detestado pelo homem em todos os tempos e lugares. Em algumas poucas culturas, notadamente algumas orientais, como no Budismo, Confucionismo e Taoismo, a morte é comemorada com festejos, por entenderem que ela é o recomeço de um novo ciclo. No mais, especialmente, nas culturas ocidentais, a morte é tida como algo abominável e detestável. Por esta razão é tão rejeitada, mesmo que seja amplamente mostrada nas Escrituras como algo natural e inevitável por conta do pecado.
No Novo Testamento, mais claramente, em comparação ao Velho Testamento, a morte é apresentada como essencial à redenção do pecador. Entretanto, não é uma referência à simples morte física do homem. É uma morte por inclusão em outra morte, a saber, na morte do substituto legal. A referência é à morte de Cristo, visto ser Ele o representante legal da parte de Deus para aniquilação do pecado que gera a morte física e espiritual do homem. Por morte espiritual se entende como a condenação e a separação eterna de Deus. O texto hebraico que anuncia a realidade da morte para o homem é uma expressão "morrer, morrendo". Inclui, neste caso, a ideia de degenerescência biológica e separação eterna de Deus. 
Rm. 5:21 - "... para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor." O pecado entrou no mundo por um homem, isto é, por Adão e passou a todos os homens, porquanto todos herdaram a natureza pecaminosa de Adão, o ancestral comum a todos. Da mesma forma, a solução de Deus para destruição do pecado, foi retirar o pecado do mundo por um homem, a saber, Jesus, o Cristo. Isto está registrado assim: I Co. 15: 21 e 22 - "Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados."
Desta forma há uma ampla doutrina sobre a morte da morte do pecador, na morte justificadora de Cristo, o substituto legal. A este processo, dá-se o nome de doutrina da inclusão na morte de Cristo. Obviamente, a morte da morte do homem na morte de Cristo é uma questão de fé. Jesus, o Cristo foi o substituto perfeito, porque não tinha pecado, mas Deus o fez pecado incluindo n'Ele o pecado de todos os eleitos. Portanto, todos os que antes ou depois de Jesus, o Cristo foram justificados n'Ele pela fé na promessa de redenção.
Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Este é o texto áureo onde encontram-se os elementos da inclusão do pecador na morte de Cristo. Ele está se referindo ao seu levantamento na cruz e afirma que atrairá todos a Ele. Ora, se Cristo está mencionando à Sua morte na cruz e que atrairá aos todos que foram ordenados para a vida, logo, está atraindo-os à mesma cruz. O texto é claríssimo em afirmar que Cristo estava se referindo à sua morte. Jesus Cristo foi levantado três vezes: na crucificação, na ressurreição e na assunção ao céu. Todas elas estavam relacionadas à salvação do pecador.
Faz muito sentido, embora as Escrituras não necessitem de sentido, esse ensino bíblico da inclusão do pecador na morte de Cristo. Isto porque o homem contaminado pelo pecado jamais poderia promover a sua própria salvação, portanto, exigindo um substituto em tudo apto, sem pecado e sem culpa para justificá-lo. Assim, o justo de Deus, absorve a injustiça do homem e destrói a culpa do pecado, ressurgindo ao terceiro dia sem pecado para restituir o homem justificado novamente a Deus.

sábado, setembro 13

A GRAÇA É PARA DESGRAÇADOS IV

Em matéria de fé e prática vivencial na Palavra de Deus, o homem é um fracasso absoluto. Isto porque a natureza humana é contrária à vida controlada por Cristo. O homem possui uma natureza tão comprometida com o pecado, que, incrivelmente, a sua maior luta não é para ganhar a vida de Cristo, mas para manter a sua própria vida baseada na alma. Na teoria, quase todos os homens são portadores de grande fé, boas intenções, buscam santidade, retidão, integridade e desviam-se do que reputam como o mal. Todavia, isto pode ser apenas prenúncio de religião e não de verdade. Obviamente, que, muitas práticas são boas ao homem e à sociedade como forma de preservação, apaziguamento e progresso social. Entretanto, neste caso, os meios se tornam mais importantes que os fins. Entretanto, e a despeito de toda a retidão, a situação espiritual do pecador não se altera aos olhos de Deus. Brennan Manning escreveu no livro "Metidos, Falsos e Impostores", o seguinte: "eu estava mais preocupado em produzir a minha santidade do que em amar a Deus." De fato esta é uma realidade no meio religioso, porque não se busca o que Deus está dizendo, mas presumem dizer que Ele deve fazer ao homem. Este é o real sentido de religião, ou seja, o homem procurando a sua religação ao Criador de acordo com a sua própria concepção. A ação monérgica se dá de modo oposto, Deus em Sua soberania age em direção ao coração miserável do homem, concedendo-lhe graça e misericórdia.
É senso comum entre religiosos que apenas as pessoas com excelsas credenciais poderão alcançar a graça e as bênçãos de Deus. Julgam que os desgraçados não têm a menor chance de ser objeto do amor misericordioso e gracioso do Abba. Ora, este é o entendimento oposto ao ensino das Escrituras, pois o amor é para quem é desprezado, a graça é para o desgraçado e a misericórdia é para o miserável. Basta ler com mais exatidão o ensino da sã doutrina em toda a sua extensão e sentido em que se acha na Palavra de Deus. O homem não deve ler as Escrituras, cuidando ter nelas o que ele deseja como padrão, mas deve deixar as Escrituras faz a leitura dele para lhe vivificar. Não fora assim, Deus não seria soberano, misericordioso, gracioso e absolutamente santo.
Mt. 15: 21 a 28 - "Ora, partindo Jesus dali, retirou-se para as regiões de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercania, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada. Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: despede-a, porque vem clamando atrás de nós. Respondeu-lhes ele: não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondeu: não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã." Tiro e Sidom eram cidades da antiga Fenícia, hoje Líbano e, portanto, fora dos domínios do Reino de Israel. Era uma terra habitada por uma gente desdenhada e detestada pelos judeus religiosos e legalistas por não obedecerem os preceitos do judaísmo. A mulher cananéia se inseria no contexto das pessoas declaradas 'pesona non grata', ou seja, pessoas não engajadas ou amigáveis. Além do que, a cultura judaica não permitia comunicação fácil entre homem e mulher que não fosse a esposa ou parente próxima. 
A mulher se aproximara de Jesus, o que não era muito comum na cultura oriental, adotando duas atitudes: na primeira apenas declarou a messianidade a Cristo; na segunda adorou ao Senhor como o Filho de Deus. Foi atendida apenas no segundo momento, para que fique claro que não é uma declaração correta que move o coração de Deus. Ela se declara na condição de dependência da compaixão e da graça do Cristo. Ora, compaixão é sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor. Ela recebeu a analogia do cachorrinho como sendo a sua real situação. Portanto, Jesus, o Cristo viu na atitude dela o esvaziamento da presunção de ter ou ser merecedora.
Ao que parece Jesus tinha uma estratégia, não apenas para com aquela mulher, mas também para com os seus discípulos, sendo isto indicado pelo seu silêncio diante da súplica inicial da mulher. Os discípulos, como todo religioso, se apressaram em tomar a iniciativa no lugar de Deus. Sugerem ao Senhor que dê uma destinação à indagação da mulher e a despeça dali. Ela era alguém indesejável e inoportuna. 
O que Cristo fez foi expor a fé que Deus houvera dado àquela mulher diante dos olhos dos legalistas discípulos a fim de mostrar-lhes que os filhos não são um povo, uma nação ou etnia, mas um grupo de pessoas conhecidas, eleitas, chamadas, justificadas e glorificadas antes dos tempos eternos por obra e graça do próprio Deus. Não fora isto, porque Jesus lha atenderia depois de haver-lhe dito duras palavras? Assim, fica evidente que o coração do 'Grande Rei' se inclina para os que foram levados a Ele por Deus conforme Jo. 6:44.

sexta-feira, setembro 12

A GRAÇA É PARA DESGRAÇADOS III

Na cultura judaico-cristã ocidental algumas palavras são tidas como tabus. Uma delas é 'desgraça' e suas correlatas. Ainda que seja realmente dura realidade alguém não conhecer e não receber a graça de Deus, não se constitui nenhuma palavra de maldição ou de condenação afirmar que o homem sem a morte e a ressurreição em Cristo é um desgraçado. Todos os homens já nascem desgraçados por conta do pecado original, ou seja, da natureza pecaminosa herdada de Adão conforme Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." A morte a que alude o texto, não é apenas a morte física, mas também a morte espiritual, ou seja, a separação eterna do homem em relação a Deus. Alguns ignorantes, imaginam que tal ensino é errado, porque afirmam que o espírito não morre. É verdade, o espírito que está no homem retorna a Deus após a morte. Entretanto, o sentido de 'morte espiritual' é apenas o de separação entre o homem decaído e Deus santo. Por esta razão é que John Owen, um dos mais eminentes reformadores, escreveu a obra intitulada "A Morte, da Morte, na Morte de Cristo." Ele demonstra biblicamente, que, o homem morreu para Deus, por isto tem de morrer por inclusão na cruz com Cristo, para com Ele ressuscitar e ganhar a vida eterna. Tudo isto é uma questão de fé e não de experiência física ou mística.
A religiosidade, que, para nada aproveita, cria falsas bases de fé, tais como, supor que o fato de alguém pertencer a um determinado sistema de crença lhe confere salvação. Ou ainda, que o fato de alguém ter sido batizado, ser dizimista, missionário, pastor, diácono, evangelista dentro de uma determinada denominação religiosa lhe confere méritos perante Deus. Neste caso, ter-se-ia alcançado apenas a condição de servo inútil conforme Lc. 17:10 - "Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer." Então, quando algum religioso cumpre tudo o que a sua religião determina, conseguiu galgar apenas a posição de servo inútil, porque fez apenas o que lhe fora ordenado, ou seja, o que era da sua obrigação moral.
A verdade é que todo homem que não recebe a graça de Deus por misericórdia e não por méritos ou por suposta justiça própria é um desgraçado por natureza, relação e posição. Não se trata de opinião, enunciado ou proposição de quem quer que seja, mas do que afirmam solenemente as Escrituras em diversas instâncias.
A verdadeira graça que substitui a desgraça e cura eternamente o desgraçado é uma ação absolutamente monérgica, isto é, única e procedente da soberana vontade de Deus. Ela não depende de qualquer algo a mais que seja proveniente do homem, pois do contrário, não seria graça e sim recompensa por serviços prestados. De modo geral, as religiões ditas cristãs sempre acrescem algo a mais além de Cristo. O homem que não experimenta a graça verdadeira, fundamenta-se toda a sua crença na lei do esforço.
I Sm. 2: 2 a 9 - "Ninguém há santo como o Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como a nosso Deus. Não faleis mais palavras tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por ele são pesadas as ações. Os arcos dos fortes estão quebrados, e os fracos são cingidos de força. Os que eram fartos se alugam por pão, e deixam de ter fome os que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece. O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali. O Senhor empobrece e enriquece; abate e também exalta. Levanta do pó o pobre, do monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para os fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da Terra, sobre elas pôs ele o mundo. Ele guardará os pés dos seus santos, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força." Deus falou por intermédia de Ana, quando da entrega do menino Samuel ao serviço sacerdotal na casa de Eli. Primeiramente, Deus é definido como sendo santo, único e absoluto. Em seguida aconselha-se que o homem não pronuncie palavras altivas, pois Deus é sábio e pesa todas as ações dos homens. Também é esclarecido que Ele substitui a ordem das coisas como Lhe convém soberanamente. Deus é quem dá a cada um segundo a Sua maravilhosa e graciosa soberania, pois Ele é quem estabeleceu a Terra. É Ele quem guarda os pés dos seus eleitos; é Ele quem dá aos ímpios a recompensa da sua natureza decaída. O homem fora da cruz é uma forcejador da sua falsa salvação por meio da presunção religiosa. A graça que o tal crê se circunscreve apenas à obtenção de benesses.

segunda-feira, setembro 8

A GRAÇA É PARA DESGRAÇADOS II

Certa vez um pregador disse que alguns crentes pareciam ter sido batizados em um tanque de limonada, pois eram absolutamente azedos. De fato alguns desses "crentes" parecem ter entrado na fila diversas vezes para se batizar em suco de limão. Eles vêem erros em todos e em tudo! Basta alguém tomar da palavra em algum evento, e já se armam para ser do contra e têm sempre um aparte a fazer. Caso alguma decisão não lhes agrada, mudam de igreja, mudam de religião a fim de encontrar o ambiente que lhes satisfaça os egos entregues a si mesmos e às naturezas decaídas contaminadas pelo pecado. A visão que desenvolvem sobre Deus, sobre os outros e sobre si mesmos destoa totalmente dos ensinos de Cristo. Enquanto as Escrituras ensinam que os nascidos de Deus suportam uns aos outros, eles querem ser considerados virtuoses de Deus na Terra. Reclamam para si um grau de espiritualidade acima de qualquer outra pessoa, e, consequentemente, reivindicam exclusividade das bênçãos divinas sobre si. Reputam os que não comungam das suas crenças como escória do mundo. Atuam como se fora representantes de Deus neste mundo com base apenas no que supõem ser a verdade e não sobre o que ela é de fato. Tudo e todos que não comungam das suas crenças são reputados como satanizado.
O recebimento e a compreensão da graça de Deus por parte desta categoria de religioso ficam altamente comprometidos quando se consideram as Escrituras. Eles conseguem apenas ir até ao ponto que lhes agrada e lhes satisfaça os interesses pessoais ou corporativos. Assim, desenvolvem uma visão absolutamente humanista e reducionista do que é realmente a graça. Eles a condicionam apenas aos que cumprem regras, normas, preceitos e ritos. Na contramão das Escrituras, eles cogitam de seus próprios interesses a ponto de criar doutrinas esdrúxulas para justificar, quando as coisas saem fora do eixo e do foco dos seus próprias egos decaídos, e, consequentemente depravados espiritualmente. Uma dessas doutrinas paralelas é a da "maldição hereditária". Ela se presta à explicação de quase tudo o que sucede de errado em uma comunidade ou a uma pessoa dentro de certos círculos religiosos. Se tudo corre bem com o "crente" é porque Deus o está confirmando e abençoando em suas atividades e serviços. Se algo sai errado é necessário rever pontos falhos, fazer auto-sacrifícios, punir-se e penitenciar-se por coisas erradas a ponto de flagelar-se emocionalmente e fisicamente. A famigerada "quebra de maldições" requer destes verdadeiros rituais macabros de jejuns, orações e abstinências que vão desde comidas até desfazer-se de bens ou de coisas que julgam ser usadas pelo Diabo contra eles.
No contraponto das ações focadas no homem e seus pressupostos, as Escrituras têm muito a ensinar sobre o que é a verdadeira graça de Deus.
Jo. 9: 18 a 38 - "Os judeus, porém, não acreditaram que ele tivesse sido cego e recebido a vista, enquanto não chamaram os pais do que fora curado, e lhes perguntaram: é este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora? Responderam seus pais: sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego; mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos, nós não sabemos; perguntai a ele mesmo; tem idade; ele falará por si mesmo. Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já tinham estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. Por isso é que seus pais disseram: tem idade, perguntai-lho a ele mesmo. Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego, e lhe disseram: dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Respondeu ele: se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo. Perguntaram-lhe pois: que foi que te fez? Como te abriu os olhos? Respondeu-lhes: já vo-lo disse, e não atendestes; para que o quereis tornar a ouvir? Acaso também vós quereis tornar-vos discípulos dele? Então o injuriaram, e disseram: discípulo dele és tu; nós porém, somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto a este, não sabemos donde é. Respondeu-lhes o homem: nisto, pois, está a maravilha: não sabeis donde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos; sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém for temente a Deus, e fizer a sua vontade, a esse ele ouve. Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer. Replicaram-lhe eles: tu nasceste todo em pecados, e vens nos ensinar a nós? E expulsaram-no. Soube Jesus que o haviam expulsado; e achando-o perguntou-lhe: crês tu no Filho do homem? Respondeu ele: quem é, senhor, para que nele creia? Disse-lhe Jesus: já o viste, e é ele quem fala contigo. Disse o homem: creio, Senhor! E o adorou." Nenhuma exegese ou hermenêutica é necessária para perceber com clarevidência o que é a graça de Deus. De um lado os religiosos judeus, os quais fundamentam suas justiças no cumprimento de regras, preceitos e leis; do outro lado alguém que recebeu gratuitamente a misericordiosa graça de Deus sem nada fazer por merecê-la, pois se assim fora, a graça já não seria graça. Recebeu não apenas a cura da cegueira física, mas a graça para ser curado também da cegueira espiritual, adorando a Jesus, o Cristo como Deus.

A GRAÇA É PARA OS DESGRAÇADOS I

Comumente as pessoas em geral, e os religiosos por excelência, supõem que Deus está aberto e disposto a conferir e auferir ricas bênçãos apenas aos que o obedecem, o servem e o cultuam em seus sistemas de crenças e de religião. Quando sucede um mal qualquer a uma pessoa que não pratica nenhuma religião, ou que é negligente com as "coisas de Deus", ou ainda, que não é "fiel" aos dogmas da igreja ou da fé a qual professa, geralmente os murmuradores dizem: 'está pagando pelo que fez!' Ou mesmo, afirmam que os males sobrevêm, porque não seguem os preceitos, as normas, as regras, a lei. Um dos aspectos mais levantados é em relação à fidelidade da contribuição financeira. Basta acontecer uma perda ou um problema da saúde, o qual envolva gastos, logo aparecem as cassandras da maledicência para colocar no banco dos réus o "irmão" desafortunado. Muitos "crentes" são colocados sob disciplina, desdenhados ou mesmo excluído dos rol dos excelentes e elegíveis, porque não são fiéis nos termos dos dogmas e preceitos estabelecidos pelos homens. Infelizmente, para estes juízes das mentes dos outros arranjam até textos bíblicos para justificar seus erros. Alguns dizem: 'está na bíblia que o devorador se levanta para destruir os bens de quem não é fiel.' Mal sabem ler, e já se acham doutores da lei e professores de Deus.
Ao ler as Escrituras mais detidamente, percebe-se com clareza que o padrão de Deus para o homem é a Sua justiça e não as justiças forenses e humanas resultantes das questões comportamentais. Deus não segue a prática moral do homem para estabelecer os seus juízos ou estender as suas bênçãos. Fosse assim, ninguém estaria apto a receber qualquer graça da parte d'Ele, visto que não há um justo, nenhum sequer! A questão é que o religioso se torna uma criatura insuportável, porque toda a sua vida e seus atos giram em torno apenas do que ele considera sobre si mesmo, sobre Deus e sobre os outros homens. Ele se estabelece como instância última da verdade, da justiça e da fé, sem considerar o que a Palavra de Deus declara acerca de Deus, dele mesmo e dos outros homens. É uma espécie de verdade unilateral, na qual o homem é salvador e senhor de si mesmo. 
Entretanto, a graça de Deus passa por outras veredas que não estas predefinidas pelo homem. Os pensamentos, os caminhos e as ações d'Ele são além da compreensão e da aceitação decaída do homem. Deus não se curva aos interesses, integridade, retidão, culto, justiça e méritos dos homens. São os homens que devem se curvar diante da Sua soberana vontade, ainda que esta lhes seja por desagradável.
Lc. 18:10 a 14 - "Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado." Neste episódio, percebem-se os dois tipos de homens: o que ajunta para si um grande acervo de qualidades presumidamente para influenciar Deus a seu favor e o, que, não se achando justo ou merecedor de qualquer coisa, se assume de fato como realmente é.
O fariseu fez uma oração a si mesmo e não a Deus, ainda que tenha interposto a graça como fator intermediador entre ele e Deus. Este fariseu relatou um memorial diante de Deus apenas sobre suas qualidades e sobre os defeitos e pecados dos outros. Ele estava mais sensibilizado com o que ele era do que com que Deus é. Este tipo de homem é aquele que, deseja produzir tão profundamente a sua própria santidade que se esquece que esta é originada em Deus por intermédio de Cristo. Assim, ele busca santificar-se por suas próprias forças e ama mais isso do que ao próprio Deus.
O publicano, ao contrário, se vê na sua real condição e não se põe na perspectiva de ao menos olhar para cima, mas abre o seu coração sujo, imundo e pecador diante de Deus. A única declaração e confissão que tinha para dizer a Deus, era o seu pecado, ou seja, a sua inalterável condição de produtor de pecado. O texto mostra que Deus foi gracioso para com o publicano, porque a graça só encontra guarida no coração do que se vê como desgraaçado e crê que apenas Deus é suficiente para justificá-lo em Cristo.