setembro 13, 2008

A GRAÇA É PARA DESGRAÇADOS IV

Em matéria de fé e prática vivencial na Palavra de Deus, o homem é um fracasso absoluto. Isto porque a natureza humana é contrária à vida controlada por Cristo. O homem possui uma natureza tão comprometida com o pecado, que, incrivelmente, a sua maior luta não é para ganhar a vida de Cristo, mas para manter a sua própria vida baseada na alma. Na teoria, quase todos os homens são portadores de grande fé, boas intenções, buscam santidade, retidão, integridade e desviam-se do que reputam como o mal. Todavia, isto pode ser apenas prenúncio de religião e não de verdade. Obviamente, que, muitas práticas são boas ao homem e à sociedade como forma de preservação, apaziguamento e progresso social. Entretanto, neste caso, os meios se tornam mais importantes que os fins. Entretanto, e a despeito de toda a retidão, a situação espiritual do pecador não se altera aos olhos de Deus. Brennan Manning escreveu no livro "Metidos, Falsos e Impostores", o seguinte: "eu estava mais preocupado em produzir a minha santidade do que em amar a Deus." De fato esta é uma realidade no meio religioso, porque não se busca o que Deus está dizendo, mas presumem dizer que Ele deve fazer ao homem. Este é o real sentido de religião, ou seja, o homem procurando a sua religação ao Criador de acordo com a sua própria concepção. A ação monérgica se dá de modo oposto, Deus em Sua soberania age em direção ao coração miserável do homem, concedendo-lhe graça e misericórdia.
É senso comum entre religiosos que apenas as pessoas com excelsas credenciais poderão alcançar a graça e as bênçãos de Deus. Julgam que os desgraçados não têm a menor chance de ser objeto do amor misericordioso e gracioso do Abba. Ora, este é o entendimento oposto ao ensino das Escrituras, pois o amor é para quem é desprezado, a graça é para o desgraçado e a misericórdia é para o miserável. Basta ler com mais exatidão o ensino da sã doutrina em toda a sua extensão e sentido em que se acha na Palavra de Deus. O homem não deve ler as Escrituras, cuidando ter nelas o que ele deseja como padrão, mas deve deixar as Escrituras faz a leitura dele para lhe vivificar. Não fora assim, Deus não seria soberano, misericordioso, gracioso e absolutamente santo.
Mt. 15: 21 a 28 - "Ora, partindo Jesus dali, retirou-se para as regiões de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercania, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada. Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: despede-a, porque vem clamando atrás de nós. Respondeu-lhes ele: não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondeu: não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã." Tiro e Sidom eram cidades da antiga Fenícia, hoje Líbano e, portanto, fora dos domínios do Reino de Israel. Era uma terra habitada por uma gente desdenhada e detestada pelos judeus religiosos e legalistas por não obedecerem os preceitos do judaísmo. A mulher cananéia se inseria no contexto das pessoas declaradas 'pesona non grata', ou seja, pessoas não engajadas ou amigáveis. Além do que, a cultura judaica não permitia comunicação fácil entre homem e mulher que não fosse a esposa ou parente próxima. 
A mulher se aproximara de Jesus, o que não era muito comum na cultura oriental, adotando duas atitudes: na primeira apenas declarou a messianidade a Cristo; na segunda adorou ao Senhor como o Filho de Deus. Foi atendida apenas no segundo momento, para que fique claro que não é uma declaração correta que move o coração de Deus. Ela se declara na condição de dependência da compaixão e da graça do Cristo. Ora, compaixão é sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor. Ela recebeu a analogia do cachorrinho como sendo a sua real situação. Portanto, Jesus, o Cristo viu na atitude dela o esvaziamento da presunção de ter ou ser merecedora.
Ao que parece Jesus tinha uma estratégia, não apenas para com aquela mulher, mas também para com os seus discípulos, sendo isto indicado pelo seu silêncio diante da súplica inicial da mulher. Os discípulos, como todo religioso, se apressaram em tomar a iniciativa no lugar de Deus. Sugerem ao Senhor que dê uma destinação à indagação da mulher e a despeça dali. Ela era alguém indesejável e inoportuna. 
O que Cristo fez foi expor a fé que Deus houvera dado àquela mulher diante dos olhos dos legalistas discípulos a fim de mostrar-lhes que os filhos não são um povo, uma nação ou etnia, mas um grupo de pessoas conhecidas, eleitas, chamadas, justificadas e glorificadas antes dos tempos eternos por obra e graça do próprio Deus. Não fora isto, porque Jesus lha atenderia depois de haver-lhe dito duras palavras? Assim, fica evidente que o coração do 'Grande Rei' se inclina para os que foram levados a Ele por Deus conforme Jo. 6:44.

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