Dt. 32: 49 a 52 - "Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que eu dou aos filhos de Israel por possessão; e morre no monte a que vais subir, e recolhe-te ao teu povo; assim como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo; porquanto pecastes contra mim no meio dos filhos de Israel, junto às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra diante de ti, porém lá não entrarás, na terra que eu dou aos filhos de Israel."
O texto que abre este estudo tem causado, em diversos cristãos, uma sensação de desconforto com requinte de injustiça ou, no mínimo, de enorme severidade da parte de Deus em relação a Moisés. Isto acontece, porque o homem natural tem a tendência de julgar Deus com base no próprio senso de justiça humana. Ou seja, o homem sempre pensa em justiça das seguntes formas: justiça retributiva e justiça distributiva. Enquanto a justiça retributiva se firma na aplicação dos rigores da lei contra o erro, a justiça distributiva se apoia no constructo de como as pessoas avaliam a distribuição de bens e direitos, ou seja, a cada um retribui-se conforme seu esforço ou mérito. Desta forma, a maioria julga que Deus deveria ter sido mais justo ou mais brando com Moisés em função da sua extensa folha de serviços prestados ao longo da travessia do Egito a Canaã. Porém, a questão é bem mais profunda que epidérmica como supõe a maioria a qual vê apenas pelas lentes da alma e não pela profundidade da Palavra de Deus.
As Escrituras utilizam símbolos e tipos para apontar para Cristo e seu sacrifício vicário na cruz. Enquanto os símbolos acontecem uma única vez e guardam maior similitude com o que é simbolizado; o tipo ocorre diversas vezes e guarda menor similitude com o seu antítipo. Nos textos que rezam sobre a ação de Moisés para obter água para o povo, o termo utilizado é sempre rocha e não pedra. Isto porque é utilizado o vocábulo rocha em hebraico antigo [צּוּר] "TSUR". Esta rocha simboliza Cristo.
Ex. 17:4 a 6 - "Pelo que Moisés, clamando ao Senhor, disse: que hei de fazer a este povo? daqui a pouco me apedrejará. Então disse o Senhor a Moisés: passa adiante do povo, e leva contigo alguns dos anciãos de Israel; toma na mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai-te. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água para que o povo possa beber. Assim, pois fez Moisés à vista dos anciãos de Israel." Neste primeiro episódio, diante da murmuração do povo, Moisés busca a orientação de Deus para saber como proceder e fornecer água. Deus, então, ordena a Moisés que leve alguns homens mais velhos e a vara com a qual já havia produzido milagres. A ordem era para que Moisés ferisse a rocha. Assim procedeu Moisés e a rocha jorrou água. Sabe-se que a rocha, neste caso, é um tipo de Cristo ferido e moido pelos pecados dos eleitos e regenerados.
São diversos textos veterotestamentários que fazem referência a Cristo como a rocha. Um exemplo é o que consta em Hc. 1:12 - "Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu santo? Nós não morreremos. Ó Senhor, para juízo puseste este povo; e tu, ó Rocha, o estabeleceste para correção."
Nm. 20: 7 a 11 - "E o Senhor disse a Moisés: toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os seus olhos, que ela dê as suas águas. Assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber à congregação e aos seus animais. Moisés, pois, tomou a vara de diante do senhor, como este lhe ordenou. Moisés e Arão reuniram a assembléia diante da rocha, e Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha para vós? Então Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu água copiosamente, e a congregação bebeu, e os seus animais." Neste segundo momento, Deus orienta a Moisés que vá com Arão, seu irmão, e a congregação de Israel, e que apenas falasse à rocha para que esta jorrasse água. Entretanto, Moisés feriu a rocha por duas vezes.
Foi neste segundo episódio que Moisés gerou a sua própria punição. Visto que, no primeiro momento, a ordem era para que se ferisse a rocha, porque a mesma simbolizava a morte de Cristo para justificação de pecadores. No segundo momento, a ordem era que Moisés falasse à rocha, porque agora não mais simbolizava o sacrifício inclusivo e substitutivo de Cristo. Agora Cristo já havia justificado os pecadores eleitos e, portanto, não poderia mais morrer para justificá-los. Falar à rocha, neste caso, traz o sentido de graça e de uma relação reconciliada do pecador justificado com o seu justificador. É na oração que os filhos de Deus têm a liberdade de falar e expor suas dores e demandas ao Pai por meio de Cristo.
A situação de Moisés se agravou, porque feriu a rocha, na segunda vez, por duas vezes, não crendo na palavra de Deus. Paulo ensina sobre o fato de a morte de Jesus, o Cristo ser apenas uma única vez conforme Hb. 9: 24 a 26 - "Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; nem também para se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote de ano em ano entra no santo lugar com sangue alheio; doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
Alguns fazem objeções a este ensino, porque afirmam que os fatos ocorreram em lugares diferentes, e as rochas eram diferentes. Todavia, pode-se afirmar que os lugares diferentes indicam o Cristo como justificador em sua morte de cruz e o Cristo intercessor que ouve os seus eleitos e apresenta suas orações ao Pai. Quanto a rocha, era a mesma, pois sabe-se que, durante a travessia de Israel do Egito para Canaã, a nuvem representou o Pai, a coluna de fogo representou o Espírito Santo e a Rocha representa o Filho, a saber Jesus, o Cristo. Isto é ensinado por Paulo em I Co. 10:1 a 4 - "Pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés, e todos comeram do mesmo alimento espiritual; e beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da rocha espiritual que os acompanhava; e a rocha era Cristo."
Sola Scriptura!
2 comentários:
Excelente estudo!!!
Excelente
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