Lc. 11: 33 a 36 - "Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz. A candeia do corpo são os olhos. Quando, pois, os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, quando forem maus, o teu corpo será tenebroso. Vê, então, que a luz que há em ti não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo estiver iluminado, sem ter parte alguma em trevas, será inteiramente luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor."
Luz é um fenômeno físico do campo da óptica, enquanto fenômeno natural ou artificial. É o único fenômeno que não pode ser poluído por qualquer outro fenômeno. Hoje sabe-se que a luz possui comportamento duplo: é onda e é partícula. A luz é, portanto, um fenômeno eletromagnético e se propaga no espaço, segundo a física einsteniana, a 300.000 km/s. A frequência da luz visível, a olho nu, é chamada de espectro. Nosso olho possui a capacidade de enxergar a luz apenas no intervalo de 4,0 a 7,5 Hz de frequência. Fora desse intervalo prevalecem as frequências ultravioleta e infravermelha. Quando um bebê nasce, basicamente, não enxerga nitidamente. As células fotoelétricas dos seus olhos necessitam da luz para serem estimuladas e permitir a visão.
Entretanto, não é o fenômeno luminoso natural que nos importa neste estudo. Na Bíblia, quase sempre, a palavra luz significa conhecimento e não fenômeno óptico. A palavra neotestamentária para luz é [φῶς] que transliterado grafa-se 'fôs'. Tanto no grego, quanto no hebraico veterotestamentário, a palavra luz significa conhecimento. Claro! Quando o contexto não denota luz como fenômeno natural ou óptico. Acrescenta-se que, o sentido de conhecimento em termos bíblicos, não se refere ao conhecimento intelectual ou científico. Trata-se de um conhecimento na esfera espiritual. Também, as Escrituras diferenciam o simples saber do conhecimento. São questão distintas, sendo aquele apenas superficial e informacional, e, este, profundo e significativo.
No texto que abre este estudo, Jesus, o Cristo aborda, tanto o sentido denotativo enquanto óptico, quanto o sentido conotativo da luz enquanto conhecimento. Quando se refere ao fato de alguém acender uma candeia e colocá-la escondida debaixo de um alqueire, está falando de luz como elemento de iluminação de um ambiente. Ele se utiliza da comparação para mostrar que ninguém, uma vez iluminado pelo verdadeiro conhecimento oculta-o. Depois o Mestre discorre sobre a forma em que o homem estabelece ou não os seus juízos sobre a realidade. Logo, é pelo que se vê que se faz o juízo do conhecimento ou da ignorância. Quando se vê pela luz do conhecimento verdadeiro, o seu discernimento será bom; quando se vê pela luz da ignorância, seu discernimento e atos serão maus. E qual é o conhecimento verdadeiro? Cristo responde em Jo. 8:32 - "... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." A verdade não é um conceptismo filosófico ou epistemológico, mas uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. Ele mesmo é a luz verdadeira que alumia a todo homem conforme Jo. 1:9 - "Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo." Este é o registro do apóstolo João, mostrando que João, o batista estava anunciando a chegada de Cristo.
Entretanto, o Mestre levanta um questionamento: "vê, então, que a luz que há em ti, não sejam trevas." O que ele está inquirindo é: você tem luz própria ou luz espiritual? A luz que guia o seu discernimento e juízos são originadas do conhecimento verdadeiro, ou da luz natural do homem? Não é necessária qualquer extrapolação para verificar este ensino, pois ele mesmo diz que, "... se todo o teu corpo estiver iluminado..." Estar iluminado implica que a luz não é própria, mas vem do alto. É como a candeia colocada no ponto mais alto da casa para iluminar todo o ambiente. Então, é possível que o homem utilize da sua própria sabedoria como se fosse conhecimento verdadeiro. Porém, o apóstolo Tiago esclarece que a sabedoria humana é três coisas: terrena, almática e diabólica conforme Tg. 3: 13 a 15 - "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." É o mesmo ensino de Jesus, o Cristo. O homem que recebe a luz do alto tem o procedimento típico de quem é iluminado. Já o que anda por sua própria luz, tem como resultado um procedimento tenebroso e voltado para si. Ele termina mostrando a diferença entre agir pela sabedoria que do alto vem e a sabedoria terrena, animal e diabólica. Lembre-se que a palavra 'animal' no texto grego é 'psikê', a saber, alma. Então, fica evidente que, aqueles que são guiados pelo espírito iluminado por Deus têm a sabedoria do alto; aqueles, no entanto, que se guiam por suas almas, têm a sabedoria diabólica. Ora, considerando que todo homem herdou a contaminação do pecado, logo, todos são espiritualmente mortos para Deus. Vivem e sobrevivem da sua própria luz que, segundo Jesus, o Cristo, são trevas.
Muitas pessoas são bem dotadas de conhecimento intelectual, têm habilidades para os negócios, são bem-sucedidas financeiramente, são bem relacionadas socialmente. Estas pessoas, geralmente, creditam tais coisas a uma luz própria ou um poder especial que possuem. Entretanto, e a despeito de todo o bem que tais coisas proporcionam social e materialmente a qualquer pessoa, o fato é que são obtidas pelas trevas, ou seja, a luz que há no próprio homem. Tais vitórias e progressos não servem como padrão meritocrático e justificador do homem decaído e morto para Deus. Em muitos casos, por questões culturais, algumas pessoas atribuem tais vitórias a Deus. Porém, o fazem por uma questão de costume ou religiosidade.
Finalmente, pergunta-se: e a luz que há em ti, é procedente de quem?
Sola Gratia!
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