maio 27, 2020

EXAMINAIS AS ESCRITURAS, MAS NÃO PODEIS VER

Jo. 5: 39 e 40 - "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida!"
O livre exame das Escrituras foi uma conquista da assim chamada Reforma Protestante.
Os reformadores não foram chamados de protestantes, muito menos, se autoproclamaram como tais. Na verdade, alguns nobres do Sacro Império Germânico, por terem apoiado Martinho Lutero contra as ameaças da Igreja Católica, assim foram denominados. 
Príncipes alemães apoiaram Lutero após a Dieta de Spira em 1526/29, mantendo-o sob proteção no castelo do Duque da Saxônia, Frederico III. Foi neste cenário exílico que Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, facilitando a sua tradução para os demais idiomas posteriormente. Até a Reforma Protestante em 1517, não era permitido ao homem comum examinar e discorrer sobre os textos sagrados. Apenas os padres e autoridades canônicas da igreja dominante tinham esta prerrogativa. Os católicos só tiveram livre exame da Bíblia após o Concílio Vaticano II, em 1963. 
Lutero foi intimado por três vezes, diante da igreja, pela publicação das 95 teses reformistas, as quais propunham-se apenas à reformulação e não à divisão da Igreja Católica. Entretanto, a igreja preferiu excomungá-lo, considerando-o desertor e herege. A ação reformista de Lutero resultou de uma visita a Roma em 1510, quando se deparou com elevada corrupção e ganância do clero, além do baixo nível moral dos membros da igreja. Imaginou, ingenuamente, que poderia levar a igreja a um autoexame e mudança profunda. 
Após o resumido brefing histórico acima, ao ponto, pois. No texto que abre este estudo, Jesus, o Cristo achava-se em um cenário de debates das autoridades religiosas judaicas acerca da sua obra e autoridade. Os líderes religiosos, não o aceitavam, muito menos, sua doutrina. Jesus, explicou-lhes que não estava interessado em autopromoção ou de receber a glória dos homens, porque tinha recebido do Pai uma missão. Dizia-lhes que, tudo o que falava era procedente de Deus e não de si mesmo. Entretanto, eles refutavam seu ensino e o desqualificavam como autoridade espiritual. Tal discussão culmina com as seguintes colocações por parte de Cristo: "E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma; e a sua palavra não permanece em vós; porque não credes naquele que ele enviou." O fechamento desse embate ocorre com a constatação de que os líderes religiosos tinham muito conhecimento intelectivo das Escrituras, mas não conseguiam perceber quem era Jesus, o Cristo conforme o verso 39 - "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim..." Desta forma, não adianta ao homem o simples exame das Escrituras, a aquisição de grande conhecimento dos textos, a capacidade de estabelecer juízos teológicos sobre o que examinou e leu, muito menos, buscar o caminho da vida eterna nelas indicado. O homem busca, de fato, fórmulas para estabelecer como padrões de comportamento moral. Erram, porque o caminho da vida eterna não é uma concepção filosófica, científica ou mística. O caminho é uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. Isto está perfeitamente registrado por ele mesmo em Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Enquanto se procura maneiras, metodologias, padrões e roteiros para encontrar a vida eterna, não se achará. Para isso são necessárias duas coisas: crer naquele a quem Deus enviou e perder a vida almática. A primeira está doutrinada em Jo. 8:24 - "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados." A expressão "eu sou" é a mesma utilizada por Deus a Moisés, quando da libertação do povo do Egito. Indica a eternidade e a atemporalidade de Deus. Ele não é um ser transitório e fruto da concepção humana em função do tempo e das culturas humanas como os deuses pagãos. Portanto, Cristo indicou, no texto acima, que ele mesmo é Deus encarnado, naquele momento, no homem histórico Jesus. A segunda está doutrinada em Jo. 10:39 - "Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á." A vida do homem natural não serve como padrão de aproximação e reconciliação com Deus. Ela está contaminada pela natureza pecaminosa herdada de Adão nos termos de Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." Portanto, é necessário perder a própria vida para ganhar a vida de Cristo. O pecado a que alude o texto paulino, não é uma referência aos atos pecaminosos, mas à natureza pecaminosa permanente no homem. É este pecado que Jesus, o Cristo veio aniquilar.
Crer não é natural ao homem. No máximo, o homem natural possui crendice, ou ainda, religião. Crer no sentido em que se acha nas Escrituras é algo sobrenatural. É impossível ao homem crer por expensas próprias. A natureza da fé  não é humana conforme Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem." Então, a fé é ver o que não está diante dos olhos e ter como certeza o que ainda não chegou. A fé é dom de Deus e não uma virtude humana conforme Jd. 3 - "... exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos."
Perder a vida almática para ganhar a vida de Cristo se dá quando o homem é chamado por Deus e conduzido a Cristo conforme Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." Então, que fique bem claro: se Deus não despertar o pecador, ele jamais se inclinará para Deus. Isto porque, seu espírito está morto para Deus e sua alma está impregnada pela natureza pecaminosa. O termo "ninguém" no texto retro mencionado é um pronome indefinido, ou seja, não há qualquer pessoa que possa ir a Cristo por conta própria. Finalmente, o processo de perder a própria vida é por fé que sua vida foi incluída na morte de Cristo conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Jesus, o Cristo foi levantado da Terra três vezes: na cruz, na ressurreição e na assunção ao céu. Todas fazem parte de um mesmo processo. Desta forma, você deve implorar a graça e a misericórdia de Deus para levá-lo até a cruz e, nela, ter a sua vida morta espiritualmente incluída na morte de Cristo. Assim, você perderá a sua vida, mas achá-la-á na vida de Cristo, porque Ele ressuscitou e retornará logo para a restauração final.
Sola Scriptura.
Sola Gratia.
Solos Christus.
Sola Fidei.
Soli Deo Gloria.

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