maio 31, 2020

LUZ OU TREVAS?

Mt. 6: 22 e 23 - "A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!"
O senso comum leva a maioria das pessoas ao entendimento de que luz é algo místico. Concluem estas mesmas pessoas que alguns são portadores desse tipo de luz, a saber poder sobrenatural. Imagina-se, erroneamente, que se trata de um dom concedido pelas forças do além a seres especiais. Esta visão foi imposta pela cultura e doutrina gnóstica, a qual se infiltrou no cristianismo histórico desde o primeiro século da era comum. Que algumas pessoas possuem certas habilidades é verdade, porém, são apenas poderes latentes da alma. Nada a ver com Deus ou qualquer outro ser do mundo espiritual.
No entanto, já foi dito que luz, é, em sentido denotativo, um fenômeno físico da esfera da óptica; e, no sentido conotativo, é conhecimento da esfera espiritual e apenas concernente a Deus. Aparece, tanto no velho, quanto no novo testamento, significando o conhecimento de Deus e do seu Filho Unigênito e Primogênito dentre os mortos. Conhecer Deus é um processo posterior a experiência do novo nascimento. Antes dessa experiência, o que ocorre é apenas uma espécie de saberes ou informações acerca de Deus, Jesus, Bíblia, Religião etc. Saber acerca de algo ou alguém não significa o real conhecimento destes. No Novo Testamento há duas palavras distintas para 'saber' e para 'conhecer'. Saber é [εἰδέναι] que transliterado para caracteres latinos é 'eidenai'. Enquanto, conhecer é [γινώσκεινque transliterado grafa-se 'gnoskein.' Por exemplo, em Mt. 26:70, Pedro, ao ser questionado sobre pertencer ao grupo de Jesus disse: "... não sei o que dizes." Neste caso, Pedro utilizou-se do verbo saber, no sentido de não ter informações ou saber nada sobre Jesus, o Cristo. Por outro lado, quando Jesus foi confrontado pelos religiosos em Jo. 5:42, Jesus disse-lhes: "... mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.
Grande parte das pessoas é levada para o seio de uma ou outra crença por razões emocionais ou pressionada pelas circunstâncias da vida. Por esta razão tem apenas um saber informativo e superficial sobre questões espirituais. Com o tempo estas pessoas começam a sentir-se de uma das duas formas: a) acomodadas, porque não querem sair da zona de conforto, tradições familiares, relações sociais e aceitação pessoal; b) incomodadas, inquietas e insatisfeitas, porque não veem qualquer progresso em suas vidas. Não vivenciam aquilo que leem nas Escrituras. Seus erros, fraquezas e deslizes as confrontam com o padrão bíblico de espiritualidade e verdade. Em ambos os casos tal pessoa é apenas um religioso que, por vezes, torna-se cínico e legalista; por vezes, torna-se faccioso, crítico e juiz dos outros. Neste ponto, tais religiosos, ficam pulando de crença em crença em busca de paz e solução de seus dramas almáticos.
O texto que abre esta instância de estudos é o mesmo registrado no evangelho de Lucas do estudo anterior. A diferença é que Mateus captou um pouco mais o que Jesus ensinava. O ensino é que, se a pessoa é nascida de novo e vê pelas lentes da verdade, tanto faz para as circunstâncias estarem boas ou ruins. Tudo estará sendo visto pela ótica da vida de Cristo que nela está. Por outro lado, se a pessoa não é nascida do alto, tudo o que ela percebe, vê e sente será tenebroso, ruim e desagradável. Estará sendo guiada apenas pela luz própria.
Jesus, o Cristo termina o seu ensino afirmando que, se a pessoa subsiste apenas com a sua luz, está de fato em grandes trevas. Ora, isto se dá pelo fato de a luz própria do homem não tem qualquer relação com a luz procedente de Deus. A natureza pecaminosa desliga o homem natural de Deus. Tal pessoa é conduzida pela alma, e, portanto, age pela luz almática. Por esta razão se tornam altamente sensíveis às circunstâncias. Esta é a razão de tantas pessoas serem bipolares, infelizes e chatas. Elas mesmas não se suportam, consequentemente, não suportam mais ninguém. Não fossem as amarras da lei e os contra-pesos da sociedade, a humanidade já teria praticado auto-extinção.
Jo. 1: 1 a 5 - "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela." Este texto explica e esclarece a origem da luz verdadeira que não é um fenômeno físico, nem uma sensação mística, mas uma pessoa. O verbo é uma referência à Cristo como o verbalizador ou a palavra de Deus que se comunica com a humanidade. Vê-se que o Verbo é o próprio Deus. A vida de Cristo é eterna e perfeita, portanto é luz, a saber, conhecimento puro, pleno e perfeito de Deus. Cristo se encarnou no homem histórico Jesus para que a Palavra de Deus fosse comunicada ao homem decaído e morto para Ele. 
Jo. 9: 4 e 5 - "Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo." O ensino é literal. Cristo é a própria luz, ou seja, ele mesmo é o conhecimento que alguém pode obter de Deus. 
Desta forma, o texto de abertura termina dizendo: "se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!" A mensagem é que, se você é guiado por seu próprio entendimento sobre a verdade, você está nas trevas, porque o homem natural possui apenas o saber e não o conhecimento de Deus. Então, o Cristo maximiza, dizendo que, neste caso, são grandes trevas.
Sola Scriptura!

maio 29, 2020

QUE LUZ HÁ EM TI?

Lc. 11: 33 a 36 - "Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz. A candeia do corpo são os olhos. Quando, pois, os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, quando forem maus, o teu corpo será tenebroso. Vê, então, que a luz que há em ti não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo estiver iluminado, sem ter parte alguma em trevas, será inteiramente luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor.
Luz é um fenômeno físico do campo da óptica, enquanto fenômeno natural ou artificial. É o único fenômeno que não pode ser poluído por qualquer outro fenômeno. Hoje sabe-se que a luz possui comportamento duplo: é onda e é partícula. A luz é, portanto, um fenômeno eletromagnético e se propaga no espaço, segundo a física einsteniana, a 300.000 km/s. A frequência da luz visível, a olho nu, é chamada de espectro. Nosso olho possui a capacidade de enxergar a luz apenas no intervalo de 4,0 a 7,5 Hz de frequência. Fora desse intervalo prevalecem as frequências ultravioleta e infravermelha. Quando um bebê nasce, basicamente, não enxerga nitidamente. As células fotoelétricas dos seus olhos necessitam da luz para serem estimuladas e permitir a visão.
Entretanto, não é o fenômeno luminoso natural que nos importa neste estudo. Na Bíblia, quase sempre, a palavra luz significa conhecimento e não fenômeno óptico. A palavra neotestamentária para luz é [φῶς] que transliterado grafa-se 'fôs'. Tanto no grego, quanto no hebraico veterotestamentário, a palavra luz significa conhecimento. Claro! Quando o contexto não denota luz como fenômeno natural ou óptico. Acrescenta-se que, o sentido de conhecimento em termos bíblicos, não se refere ao conhecimento intelectual ou científico. Trata-se de um conhecimento na esfera espiritual. Também, as Escrituras diferenciam o simples saber do conhecimento. São questão distintas, sendo aquele apenas superficial e informacional, e, este, profundo e significativo.
No texto que abre este estudo, Jesus, o Cristo aborda, tanto o sentido denotativo enquanto óptico, quanto o sentido conotativo da luz enquanto conhecimento. Quando se refere ao fato de alguém acender uma candeia e colocá-la escondida debaixo de um alqueire, está falando de luz como elemento de iluminação de um ambiente. Ele se utiliza da comparação para mostrar que ninguém, uma vez iluminado pelo verdadeiro conhecimento oculta-o. Depois o Mestre discorre sobre a forma em que o homem estabelece ou não os seus juízos sobre a realidade. Logo, é pelo que se vê que se faz o juízo do conhecimento ou da ignorância. Quando se vê pela luz do conhecimento verdadeiro, o seu discernimento será bom; quando se vê pela luz da ignorância, seu discernimento e atos serão maus. E qual é o conhecimento verdadeiro? Cristo responde em Jo. 8:32 - "... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." A verdade não é um conceptismo filosófico ou epistemológico, mas uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. Ele mesmo é a luz verdadeira que alumia a todo homem conforme Jo. 1:9 - "Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo." Este é o registro do apóstolo João, mostrando que João, o batista estava anunciando a chegada de Cristo.
Entretanto, o Mestre levanta um questionamento: "vê, então, que a luz que há em ti, não sejam trevas." O que ele está inquirindo é: você tem luz própria ou luz espiritual? A luz que guia o seu discernimento e juízos são originadas do conhecimento verdadeiro, ou da luz natural do homem? Não é necessária qualquer extrapolação para verificar este ensino, pois ele mesmo diz que, "... se todo o teu corpo estiver iluminado..." Estar iluminado implica que a luz não é própria, mas vem do alto. É como a candeia colocada no ponto mais alto da casa para iluminar todo o ambiente. Então, é possível que o homem utilize da sua própria sabedoria como se fosse conhecimento verdadeiro. Porém, o apóstolo Tiago esclarece que a sabedoria humana é três coisas: terrena, almática e diabólica conforme Tg. 3: 13 a 15 - "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." É o mesmo ensino de Jesus, o Cristo. O homem que recebe a luz do alto tem o procedimento típico de quem é iluminado. Já o que anda por sua própria luz, tem como resultado um procedimento tenebroso e voltado para si. Ele termina mostrando a diferença entre agir pela sabedoria que do alto vem e a sabedoria terrena, animal e diabólica. Lembre-se que a palavra 'animal' no texto grego é 'psikê', a saber, alma. Então, fica evidente que, aqueles que são guiados pelo espírito iluminado por Deus têm a sabedoria do alto; aqueles, no entanto, que se guiam por suas almas, têm a sabedoria diabólica. Ora, considerando que todo homem herdou a contaminação do pecado, logo, todos são espiritualmente mortos para Deus. Vivem e sobrevivem da sua própria luz que, segundo Jesus, o Cristo, são trevas.
Muitas pessoas são bem dotadas de conhecimento intelectual, têm habilidades para os negócios, são bem-sucedidas financeiramente, são bem relacionadas socialmente. Estas pessoas, geralmente, creditam tais coisas a uma luz própria ou um poder especial que possuem. Entretanto, e a despeito de todo o bem que tais coisas proporcionam social e materialmente a qualquer pessoa, o fato é que são obtidas pelas trevas, ou seja, a luz que há no próprio homem. Tais vitórias e progressos não servem como padrão meritocrático e justificador do homem decaído e morto para Deus. Em muitos casos, por questões culturais, algumas pessoas atribuem tais vitórias a Deus. Porém, o fazem por uma questão de costume ou religiosidade. 
Finalmente, pergunta-se: e a luz que há em ti, é procedente de quem?
Sola Gratia!

maio 27, 2020

EXAMINAIS AS ESCRITURAS, MAS NÃO PODEIS VER

Jo. 5: 39 e 40 - "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida!"
O livre exame das Escrituras foi uma conquista da assim chamada Reforma Protestante.
Os reformadores não foram chamados de protestantes, muito menos, se autoproclamaram como tais. Na verdade, alguns nobres do Sacro Império Germânico, por terem apoiado Martinho Lutero contra as ameaças da Igreja Católica, assim foram denominados. 
Príncipes alemães apoiaram Lutero após a Dieta de Spira em 1526/29, mantendo-o sob proteção no castelo do Duque da Saxônia, Frederico III. Foi neste cenário exílico que Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, facilitando a sua tradução para os demais idiomas posteriormente. Até a Reforma Protestante em 1517, não era permitido ao homem comum examinar e discorrer sobre os textos sagrados. Apenas os padres e autoridades canônicas da igreja dominante tinham esta prerrogativa. Os católicos só tiveram livre exame da Bíblia após o Concílio Vaticano II, em 1963. 
Lutero foi intimado por três vezes, diante da igreja, pela publicação das 95 teses reformistas, as quais propunham-se apenas à reformulação e não à divisão da Igreja Católica. Entretanto, a igreja preferiu excomungá-lo, considerando-o desertor e herege. A ação reformista de Lutero resultou de uma visita a Roma em 1510, quando se deparou com elevada corrupção e ganância do clero, além do baixo nível moral dos membros da igreja. Imaginou, ingenuamente, que poderia levar a igreja a um autoexame e mudança profunda. 
Após o resumido brefing histórico acima, ao ponto, pois. No texto que abre este estudo, Jesus, o Cristo achava-se em um cenário de debates das autoridades religiosas judaicas acerca da sua obra e autoridade. Os líderes religiosos, não o aceitavam, muito menos, sua doutrina. Jesus, explicou-lhes que não estava interessado em autopromoção ou de receber a glória dos homens, porque tinha recebido do Pai uma missão. Dizia-lhes que, tudo o que falava era procedente de Deus e não de si mesmo. Entretanto, eles refutavam seu ensino e o desqualificavam como autoridade espiritual. Tal discussão culmina com as seguintes colocações por parte de Cristo: "E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma; e a sua palavra não permanece em vós; porque não credes naquele que ele enviou." O fechamento desse embate ocorre com a constatação de que os líderes religiosos tinham muito conhecimento intelectivo das Escrituras, mas não conseguiam perceber quem era Jesus, o Cristo conforme o verso 39 - "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim..." Desta forma, não adianta ao homem o simples exame das Escrituras, a aquisição de grande conhecimento dos textos, a capacidade de estabelecer juízos teológicos sobre o que examinou e leu, muito menos, buscar o caminho da vida eterna nelas indicado. O homem busca, de fato, fórmulas para estabelecer como padrões de comportamento moral. Erram, porque o caminho da vida eterna não é uma concepção filosófica, científica ou mística. O caminho é uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. Isto está perfeitamente registrado por ele mesmo em Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Enquanto se procura maneiras, metodologias, padrões e roteiros para encontrar a vida eterna, não se achará. Para isso são necessárias duas coisas: crer naquele a quem Deus enviou e perder a vida almática. A primeira está doutrinada em Jo. 8:24 - "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados." A expressão "eu sou" é a mesma utilizada por Deus a Moisés, quando da libertação do povo do Egito. Indica a eternidade e a atemporalidade de Deus. Ele não é um ser transitório e fruto da concepção humana em função do tempo e das culturas humanas como os deuses pagãos. Portanto, Cristo indicou, no texto acima, que ele mesmo é Deus encarnado, naquele momento, no homem histórico Jesus. A segunda está doutrinada em Jo. 10:39 - "Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á." A vida do homem natural não serve como padrão de aproximação e reconciliação com Deus. Ela está contaminada pela natureza pecaminosa herdada de Adão nos termos de Rm. 5:12 - "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." Portanto, é necessário perder a própria vida para ganhar a vida de Cristo. O pecado a que alude o texto paulino, não é uma referência aos atos pecaminosos, mas à natureza pecaminosa permanente no homem. É este pecado que Jesus, o Cristo veio aniquilar.
Crer não é natural ao homem. No máximo, o homem natural possui crendice, ou ainda, religião. Crer no sentido em que se acha nas Escrituras é algo sobrenatural. É impossível ao homem crer por expensas próprias. A natureza da fé  não é humana conforme Hb. 11:1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem." Então, a fé é ver o que não está diante dos olhos e ter como certeza o que ainda não chegou. A fé é dom de Deus e não uma virtude humana conforme Jd. 3 - "... exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos."
Perder a vida almática para ganhar a vida de Cristo se dá quando o homem é chamado por Deus e conduzido a Cristo conforme Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." Então, que fique bem claro: se Deus não despertar o pecador, ele jamais se inclinará para Deus. Isto porque, seu espírito está morto para Deus e sua alma está impregnada pela natureza pecaminosa. O termo "ninguém" no texto retro mencionado é um pronome indefinido, ou seja, não há qualquer pessoa que possa ir a Cristo por conta própria. Finalmente, o processo de perder a própria vida é por fé que sua vida foi incluída na morte de Cristo conforme Jo. 12: 32 e 33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." Jesus, o Cristo foi levantado da Terra três vezes: na cruz, na ressurreição e na assunção ao céu. Todas fazem parte de um mesmo processo. Desta forma, você deve implorar a graça e a misericórdia de Deus para levá-lo até a cruz e, nela, ter a sua vida morta espiritualmente incluída na morte de Cristo. Assim, você perderá a sua vida, mas achá-la-á na vida de Cristo, porque Ele ressuscitou e retornará logo para a restauração final.
Sola Scriptura.
Sola Gratia.
Solos Christus.
Sola Fidei.
Soli Deo Gloria.

maio 26, 2020

DA NECESSIDADE DE VIGIAR


Mc. 14: 38 a 41 - "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. E voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados; e não sabiam o que lhe responder. Ao voltar pela terceira vez, disse-lhes: dormi agora e descansai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores."
No transcurso da vida cristã normal, muitas questões veem à mente dos eleitos e regenerados. Algumas postulações bíblicas ditas por Jesus, o Cristo, ou pelos apóstolos hagiógrafos parecem colocar termos e ideias em contradição. A regra áurea, neste caso, é que não existem contradições reais no texto escriturístico. No máximo existem aparentes paradoxos, a saber, conceitos que são ou parecem ser contrários ao que é comum, contra-senso, absurdo ou ideia dispare. O conselho é procurar aplicar o contexto geral e examinar o texto em sua língua original, se possível. Vê-se que a questão nunca é com o texto, mas com o costume herdado da cultura pseudocristã imposta a todos. A Bíblia não é um texto comum. Portanto, jamais será compreendida pelo senso comum. A compreensão se dá, primeiramente, pela revelação, e, secundariamente pela fé repartida a cada um segundo a medida de Deus.
O verbo vigiar em língua portuguesa é transitivo direto, ou seja, requer complemento para formar sentido completo. Significa 'observar com atenção, estar atento a...' e, ainda, 'observar secreta ou ocultamente, espreitar, espionar, guardar, tomar conta.' No texto neotestamentário escrito em grego popular ou koinê, o verbo vigiar é [γρηγορεo] que, transliterado, grafa-se "gregoreõ". No texto que abre este estudo nos versos 37 e 38 é utilizado este mesmo verbo, porém, flexionado em caso e pessoa: no verso 37 é [γρηγορησαι] ou 'gregorensai'; no verso 38 [γρηγορειτε] ou 'gregoreite'. Significando, respectivamente: vigiar e vigiai. O verbo vigiar nos sentidos já mencionados ocorre 23 vezes no novo testamento. Em todas elas possui sentido de estar atento para se proteger, se defender ou se precaver contra algum tipo de ataque. Em alguns destes textos, o sentido de vigiar é, também, de prescrutar, sondar, espionar e dedicar atenção específica para evitar sofrimento moral e físico. É bom lembrar-se que, antes da morte, ressurreição e ascensão de Cristo, os discípulos não eram nascidos de novo. Eram, portanto, susceptíveis de tentações e dúvidas de fé. A evidência concreta disso foi o caso de Pedro na noite em que negou Jesus. O texto mostra, claramente, a impossibilidade de o homem natural manter-se pela fé sem o novo nascimento. Isto porque, o espírito está pronto, mas a alma não está sob o controle dele. Lembre-se ainda que, carne no sentido bíblico, refere-se à alma e seus atos pecaminosos. 
I Ts. 5: 6 e 10 _ "... não durmamos, pois, como os demais, antes vigiemos e sejamos sóbrios... que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele." Neste caso, o verbo vigiar não é utilizado metaforicamente no sentido de 'estar vivo, atento, desperto', porque foi posto em contraposição ao verbo dormir [καθευδω] 'katheudõ' que, neste contexto, não significa estar morto, mas significa indiferença e desconfiança na palavra de Deus. O apóstolo Paulo nunca utiliza o verbo 'katheudõ' ou 'dormir' em seus textos com o sentido de estar morto. O único caso em que tal verbo é utilizado, por Jesus, neste sentido é em Mc. 5:39 - "E, entrando, disse-lhes: por que fazeis alvoroço e chorais? a menina não morreu, mas dorme." Embora, Jesus, o Cristo tenha dito que a menina não morreu, mas, de fato, ela estava morta. O confronto entre vida e morte é algo tão marcante que os populares que estavam presentes riram de Jesus, o Cristo, porque disse que a menina não estava morta cf. verso 40 - "E riam-se dele; porém ele, tendo feito sair a todos, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele vieram, e entrou onde a menina estava." A diferença é que Ele é a ressurreição e a vida, diante de quem a morte não prevalece. Logo, tendo em vista o que Ele iria realizar e em seu propósito de ressuscitá-la, a menina não permaneceria morta. Assim, no texto de I aos Tessalonicenses, o sentido de vigiar é o de crer que, não importa a nossa condição humana de desatenção ou de sobriedade e vigilância, estamos em Cristo espiritualmente. Demonstra que a nossa salvação depende exclusivamente da nossa inclusão na morte de Cristo onde perdemos nossa vida almática para ganharmos a vida de Cristo. A expressão: "... como os demais..." do texto em tela, significa aqueles que são homens naturais. Estes, sim, estão em constante estado de catatonia espiritual, isto é, sono espiritual. O apóstolo Paulo está tratando do arrebatamento. Portanto, é uma questão de redenção plena e não de recompensa pelo que fazemos ou deixamos de fazer. 
I Pd. 5:8 - "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar." Neste texto é utilizado o mesmo verbo vigiar [γρηγορησατε] do qual já foi falado. Neste contexto não traz o sentido de ficar ansioso, preocupado e todo tempo procurando sinais de ataque do Diabo. Ao contrário, ensina que o acusador estará sempre nos espreitando e nos acusando diante de Deus por causa dos nossos erros. Não é nossa vigilância que o detém ou o afasta. Entretanto, ele não pode tocar naqueles pelos quais o Senhor Jesus morreu e ressuscitou. A maioria dos religiosos lê com atenção, este versículo, até a palavra 'leão'. Porém, não presta atenção ou não vigia sobre o que diz o resto do texto: "... procurando a quem possa tragar." Ou seja, o Diabo só pode exercer poder sobre aqueles que não têm a vida de Cristo. O ato de não ser sóbrio, não se manter vigilante e não perceber a vida de Cristo pode trazer apenas sofrimento social ou material. Jamais poderá nos separar do amor de Cristo. Não é nossa sobriedade e nossa vigilância que nos dá a redenção eterna.
Sola Gratia!