Fl. 3: 1 a 10 - "Quanto ao mais, irmãos meus, regozijai-vos no Senhor. Não me é penoso a mim escrever-vos as mesmas coisas, e a vós vos dá segurança. Acautelai-vos dos cães; acautelai-vos dos maus obreiros; acautelai-vos da falsa circuncisão. Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. Se bem que eu poderia até confiar na carne. Se algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei fui fariseu; quanto ao zelo, persegui a igreja; quanto à justiça que há na lei, fui irrepreensível. Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte, para ver se de algum modo posso chegar à ressurreição dentre os mortos."
Justificação é substantivo que deriva do verbo justificar. Justificação é o ato de ter sido justificado. Entretanto, no sentido bíblico, não se trata de auto-justificação, mas de ter recebido a justiça divina contra o pecado que torna qualquer homem injusto perante Deus. Desta forma a justificação é o ato ou efeito da graça de Deus que toma o homem injusto e o torna justo, reconciliando-o novamente ao estado anterior à queda.
Rm. 3: 4 e 5 - "Pois quê? Se alguns foram infiéis, porventura a sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus? De modo nenhum; antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso; como está escrito: para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado. E, se a nossa injustiça prova a justiça de Deus, que diremos? Acaso Deus, que castiga com ira, é injusto? (Falo como homem.) De modo nenhum; do contrário, como julgará Deus o mundo?" Neste texto, o apóstolo Paulo está doutrinando os nascidos de Deus em Roma. Paulo parte da premissa que Deus é verdadeiro e o homem mentiroso, a saber, Deus é justo, independentemente, daquilo que alega o homem em sua defesa. A mentira a que alude o texto é uma forma de demonstrar que há no homem natural um estado permanente de pecaminosidade que o torna morto e injusto perante Deus pela culpa do pecado. Na mente corrompida do homem, especialmente, dos religiosos só é injusto aquele homem que comete muitos erros, pecados e delitos previstos em lei. Todavia, é bom saber que, no sentido bíblico, injusto é todo homem que já nasce com a natureza pecaminosa. Por esta razão é que apenas Deus pôde justificá-lo, executando a perfeita justiça em Cristo na cruz. E todos os pecadores eleitos estavam incluídos n'Ele para receber a perfeita justiça substitutivamente.
Do contexto acima depreende que é pela injustiça do homem que se vê a justiça de Deus, visto que a justiça própria não é aceita diante d'Ele. A infidelidade do homem não pode anular a graça de Deus. Muitos homens religiosos sofrem a vida inteira por querer apresentar-se diante de Deus por sua própria justiça. Imaginam estes que é por impor-se a si mesmos um modelo ou padrão de comportamento que convencerá Deus a lhes ser favorável. Ora, se o homem não se reconhecer pecador e culpado, como poderá Deus perdoá-lo e justificá-lo? Poderá a justiça própria baseada em méritos anular a justiça de Deus? Caso esta afirmativa fosse correta, a morte substitutiva e inclusiva de Cristo na cruz teria sido em vão. Esta seria a anulação da graça pela lei.
Gl. 3: 1 a 5 - "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto quero saber de vós: foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? Será que padecestes tantas coisas em vão? Se é que isso foi em vão. Aquele pois que vos dá o Espírito, e que opera milagres entre vós, acaso o faz pelas obras da lei, ou pelo ouvir com fé?" Mais uma vez o apóstolo Paulo apela aos cristãos da Galácia que reflitam sobre a questão da justificação. Eles haviam sido justificados pela fé, mas diante das pressões do sistema religioso do judaísmo estavam tentando conciliar fé e obras. Eles estavam negando a justificação pela fé na morte substitutiva e inclusiva de Jesus, o Cristo. Paulo demonstra que, foi pela fé que haviam experimentado o novo nascimento e recebido um novo espírito. Mostra ainda que, buscar a justificação pelas obras da lei é retornar à carnalidade, negando a espiritualidade. Finalmente, Paulo recorda aos gálatas que até mesmo a operação de milagres foi pela fé e não por cumprir preceitos, regras e normas cerimoniais.
Muitos que se auto-intitulam cristãos hoje agem exatamente como os da Galácia, pois colocam seus bons comportamentos morais e suas boas obras como garantia de justificação perante Deus. Quando se deparam com o verdadeiro ensino das Escrituras, os quais demonstram o contrário, reagem acusando o mensageiro de heresia. Eles olham para o mensageiro e não para a mensagem, porque é mais fácil refutar um homem. Dentro de todas as denominações religiosas ocorre o mesmo fato: se apegam a um conjunto de doutrinas por eles mesmos escolhidas e eleitas como suas verdades. Tudo o que estiver fora desse corpo doutrinário é heresia e deve ser combatido até o fim. Isto caracteriza exatamente a justificação por suas próprias obras da lei. É uma espécie de fé humana em doutrinas, mas não é uma fé que procede de Cristo, visto que a fé não é uma virtude humana, mas provém de Deus.
O texto de abertura inicia sua doutrinação apelando a que todos os eleitos e regenerados se acautelem dos erros doutrinários de obreiros e ensinos de justificação por méritos. Cães traz a noção de homem natural que age apenas pelo seu próprio instinto. Falsos obreiros são aqueles que levam os religiosos a desenvolver obras de justiça própria, sem lhes apresentar a inclusão na morte de Cristo. A falsa circuncisão é uma referência ao cumprimento de ritos religiosos a fim de alcançar a reconciliação com Deus, sem Cristo. Todavia, Paulo mostra que a circuncisão é a atitude daqueles que recebem, pela graça, a justificação pela fé e não em atos ritualísticos da lei moral e cerimonial conforme o ensino de Ef. 2: 8 a 10 - "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas."
O próprio apóstolo Paulo dá o testemunho que abriu mão de todos os ritos e práticas religiosas anteriores para ficar apenas com o conhecimento de Cristo. O verdadeiro evangelho consiste em conhecer a Cristo apenas pela fé. Tal conhecimento implica em ter sido reconciliado pela graça mediante a fé por meio da inclusão do pecador na morte de Cristo, como também em sua ressurreição. É este o sentido da expressão utilizada pelo apóstolo Paulo: "... e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé..." Ser achado em Cristo é uma realidade inclusiva e não um ato puramente contemplativo como na maioria das religiões humanistas.
Sola Scriptura!
Sola Fide!
Sola Gratia!
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