Rm. 1: 18 a 25 - "Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, a eles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém."
O obscurantismo acerca de Deus não consiste em ignorância intelectual sobre ele. Contrariamente, quanto mais o homem estuda e propõe tratados sobre Deus, menos o conhece. Isto porque, nenhuma criatura pode conhecer Deus se ele não se der a conhecer pela revelação da sua palavra e no espírito. Na língua grega koinê, o grego popular ou comum, para o qual foi traduzido o texto neotestamentário há duas palavras que, por vezes, se confundem na mente dos homens: uma é saber "eidete" e a outra é conhecer "guinosko". 'Saber' pode ser verbo ou substantivo, e, como substantivo significa: 'soma dos conhecimentos adquiridos, sabedoria, cultura e erudição'. Enquanto, verbo, saber possui diversos modos e tempos, indicando uma forma de conhecimento puramente intelectivo. Já, 'conhecer' é sempre verbo transitivo e significa 'apreender, conscientizar-se, entender, experimentar, familiarizar-se, identificar, informar-se, relacionar-se, ver, vivenciar, viver'. Dá sempre o sentido de internalizar ou imprimir na mente experimentalmente algo ou alguém.
A importância de atentar-se para as diferentes funções gramaticas visa a tomada de ciência da profundidade do texto bíblico. Deve-se evitar fazer exegese e hermenêutica errôneas e equivocadas. Sabe-se que exegese é a interpretação ou o esclarecimento de uma palavra, frase ou texto. Já a hermenêutica é a explicação dos sentidos das palavras nos textos e nos contextos em que figuram. Portanto, estes requisitos visam instrumentalizar o estudioso dos textos bíblicos para se conseguir melhor compreensão daquilo que Deus mostra em sua palavra. Entretanto, o conhecimento que muda a mente e traz a metanoia é a luz que salva o homem e se dá apenas por revelação espiritual.
A razão para tanta explicação gramatical e semântica é a necessidade de elucidar o objetivo do texto bíblico e não demonstrar pedantismo. Evita-se fazer juízos de valor de quem quer que seja, mas, tão somente, apresentar a quem se interessar pela verdade, seja esta suave ou dura. O que recebe a incumbência de anunciar o evangelho puro não pode se sentir limitado ou reprimido por imposições do politicamente correto. O seu compromisso é apenas com o texto e com a vontade de Deus. Obviamente que, agindo desta forma ganhará muitos adversários, porque tal posição gera ira e oposição. É natural que seja assim, porque a verdade destrona o homem sob a influência da natureza pecaminosa. Para fundamentar o que está dito neste parágrafo põe-se o seguinte texto, II Co. 4: 3 a 5 - "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, é naqueles que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Pois não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus."
Desta forma, o obscurantismo a que alude o título e o texto de abertura desta série de estudos é o resultado da ocultação do evangelho aos que se perdem. A razão da cegueira é o fato que o "deus" deste século, a saber, Satanás, lhes encobriu a verdade. Eles não veem e não creem, porque a natureza pecaminosa ou o pecado é a incredulidade conforme Jo. 16:8 e 9 - "E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim." Jesus afirma neste texto que o pecado é não crer n'Ele. Entretanto, não se pode confundir crer como mera formalidade da religião exterior. Neste caso, entra a diferença entre saber e conhecer, porque saber é apenas ter alguma informação, cultura, erudição e sabedoria intelectiva sobre Deus, Cristo, fé, verdade. Isto não significa o real conhecimento de Deus, Cristo, fé e verdade. Em muitos casos tais saberes são o resultado do acúmulo de informações obtidas por força do meio cultural em que a pessoa nasce, da família, dos costumes locais ou por busca pessoal de tais informações. É apenas religião e tradição adquiridas pelo meio em que a pessoa está inserida.
O conhecimento verdadeiro e experimental da verdade do evangelho é tratado no novo testamento como sendo luz. Neste caso, não se refere ao fenômeno físico da óptica, mas de ser iluminado pela verdade. A verdade não é uma concepção filosófica, mas uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. Isto fica claro em suas próprias palavras em Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Vê-se que Jesus, o Cristo não possui apenas alguma verdade a ser distribuída, ele mesmo é a verdade. Desta forma ele é a doação e o doador da verdade, ao mesmo tempo. Portanto, estar em Cristo é estar na verdade. Ter Cristo é ter a verdade. Conhecer Cristo é conhecer a própria verdade. Isto não implica em ser perfeito, não errar, ser superior a outras pessoas. Significa que o nascido do alto passa para uma nova disposição, na qual, estará sendo aprofundado no conhecimento de Deus. Todo o processo é monérgico, isto é, a ação parte sempre de Deus em relação aos eleitos.
Sobre a vã tentativa de desconstruir Deus por parte do homem, seja bem ou mal intencionado acaba sempre gerando uma única verdade: a condenação de si mesmo. Da parte d'Ele nada se altera, porque ele é imutável. Então, mesmo que todos os habitantes da Terra decidissem chamá-lo de "deusa", em nada alteraria a sua essência. Ainda que todos os homens decidam que Deus é uma pedra, uma escultura de madeira, de ferro, de gesso, um boi, um carneiro, uma águia, um jacaré, isto não o altera em sua sublime majestade e glória. Entretanto, também em nada altera o fato de o homem ser pecador por natureza e por atos, isto é o que o condena à perdição eterna. O erro do homem portador da natureza pecaminosa é achar que pode suprimir ou subjugar Deus por meio de sabedoria e artifícios humanos. Tal sabedoria humana é identificada em Tg. 3:15 - "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Ela é da Terra, almática e diabólica, porque foi adquirida pelo próprio homem nesta vida por suas experiências sensoriais, por meio da alma e induzidos pelo Diabo que detém o controle das almas dos homens não regenerados. Traduziu-se 'psikê' por 'animal', mas, na verdade, significa almática ou relativo à alma. Até porque, animal provém do latim 'anima' que, por sua vez, significa alma.
Sola Scriptura!
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