Jo. 15: 16 a 19 - "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vô-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia."
Uma das maiores dificuldades na compreensão da doutrina da eleição e predestinação é a questão das escolhas. Tal limitação se dá, porque o homem em seu estado pecaminoso não consegue abstrair-se de si mesmo e ver pelas lentes de Cristo. O pecador consegue, no máximo, ver pela ótica da religião que atrela tudo ao esforço e ao mérito. Entende-se por religião todo e qualquer culto cuja origem e centralidade está no homem e na tentativa de religar-se a Deus. A prática religiosa é, em geral, cercada por rituais, dogmas, regras e preceitos os quais seus líderes consagram como verdades. A religião busca a gratificação da alma e não a sua redenção pela cruz e na cruz. Na religião não buscam, porque não podem, o exame das Escrituras como revelação. Buscam nelas tão somente o embasamento teórico para, supostamente, dar suporte a um conjunto de crenças. Chamam, comumente, tais crenças de fé e atribuem-na a Deus ou a uma força sobrenatural. Todavia, Deus não está nisto!
Escolher é um verbo que pode ser transitivo direto ou indireto e bitransitivo, portanto, não traz significação sem um complemento que lhe dê mais exatidão. Como transitivo direto significa 'manifestar preferência por algo ou alguém'. Como transitivo indireto significa 'fazer opção entre duas ou mais coisas ou pessoas'. Desta forma é um verbo que permite a seres inteligentes selecionar, separar, aproveitar, marcar e assinalar situações, aspectos, coisas e pessoas. Vê-se que se trata de atitudes determinadas por desejos da mente. Portanto, não há em termos de escolhas naturais qualquer possibilidade de "livre arbítrio". Para que uma escolha seja absolutamente livre ela não poderá ser determinada nem mesmo pela vontade e o desejo do homem. Portanto, se nem as escolhas naturais são livres, imagine as escolhas espirituais a um ser decaído?
O homem em seu estado natural não sabe discernir entre escolhas naturais e escolhas espirituais. I Co. 2: 14 e 15 - "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido." Por esta razão é que a falsa doutrina do "livre arbítrio" foi entronizada nas igrejas como sendo uma explicação para o homem "aceitar" ou "rejeitar" o evangelho. Esta tem sido uma das mais eficientes mentiras diabólicas proveniente do Gnosticismo. É lamentável ver pessoas que não sabem sequer quem é Jesus, o Cristo e se atrevem a fazer afirmações de ensinos de homens e demônios conforme I Tm. 4:1 - "Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios..."
A questão se torna mais grave, porque quase todo religioso pertencente a uma determinada denominação dita cristão, não se vê como um religioso ou como homem natural. O religioso é iludido por doutrinas humanas e de demônios, confundindo fé com sentimentos. Fé se define por ser um dom de Deus e algo invisível e intocável. Os sentimentos são manifestações almáticas e emocionais, portanto, tudo o que é sentido não procede da fé. O religioso é movido pelo que sente e não pelo que crê pela fé como dom de Deus e não como virtude humana. Por esta razão há tanta mentira, dor e sofrimento dentro das igrejas institucionais. Há entre religiosos disputas, ciúmes, contendas, falsidades e enganos.
O texto de abertura demonstra que foi Jesus, o Cristo quem escolheu os seus discípulos e não o contrário. Este é um princípio extensivo a todos os discípulos no tempo e no espaço. Cristo não só escolheu, como também designou o que cada um deles irá fazer durante a vida. A ordem é que os discípulos devem ir pela vida e dar muitos frutos. Os frutos a que alude o texto são, de fato, o fruto do Espírito concedido a cada um dos regenerados e não um amontoado de boas obras humanas. As obras humanas devem ser consequências do dom de Deus e não a razão para obtê-lo. As boas obras foram feitas de antemão para que os discípulos andassem nelas e não o contrário como se supõe nos círculos religiosos.
A confirmação da escolha de Cristo é que o fruto permanece, o amor é real e as petições são respondidas por Deus. Isto não implica em uma espécie de barganha, na qual Deus se obriga a conceder pedidos egolátricos e para o deleite do homem. Ele responde segundo a sua vontade e não segundo a vontade do homem. A primeira evidência que alguém está no centro da vontade de Deus é o ódio do mundo. Isto ocorre, porque são realidades absolutamente opostas: o mundo odeia o que não lhe gratifica e o Espírito de Cristo odeia a natureza pecaminosa do mundo. Não há ponto de conciliação entre o pecado e a vida de Cristo. Por pecado subentende-se a natureza pecaminosa que é a incredulidade. Não se refere aos atos falhos, erros e deslizes cometidos pelos nascidos de Deus ao longo do processo do revestimento de Cristo. O que Cristo veio destruir, aniquilar e retirar do mundo foi o pecado, a saber, a incredulidade conforme Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." Quanto aos atos pecaminosos persistentes por causa da carne serão tratados ao longo da experiência do novo nascido. Eles são tratados por Deus no processo de construção da semelhança de Cristo nos eleitos. Porém, da ótica de Deus, tanto o pecado, como os atos pecaminosos já foram anulados na cruz.
O ódio do mundo pode variar desde o ódio velado ou oculto até o mais ostensivo que tem dizimado milhares de cristãos. À medida em que o tempo se escoa para o retorno do Grande Rei, a tendência é o aumento do ódio velado ou ostensivo. Não se iluda, pois Deus não moverá um dedo para evitar que as Escrituras se cumpram exatamente como o previsto. O mundo odeia a verdade e a verdade odeia o que é originado no mundo. O diferencial são apenas os escolhidos de Deus e a sua escolha se deu antes dos tempos eternos conforme II Tm. 1:9 - "... que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos..."
O maior engano na vida do homem é supor que é filho de Deus sem ter passado pelo novo nascimento. Para nascer de novo é necessário que tenha sido incluído na morte de Cristo, bem como na sua consequente ressurreição conforme Gl. 2: 20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."
Sola Fide!!!
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