novembro 25, 2014

A UNS É DADO CONHECER, MAS A OUTROS NÃO É DADO

Lc. 8:10 - " Respondeu ele: a vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros se fala por parábolas; para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam."
Um dos mais evidentes sinais de uma pessoa que possui apenas religião é a impossibilidade de receber o ensino bíblico como sendo verdadeiro. O homem natural, o qual não pode discernir as coisas do espírito, ajunta para si um amontoado de valores morais, normas, regras e preceitos religiosos. Adota determinados comportamentos apenas exteriores supostamente apoiados na Bíblia e chama a tudo isto de verdade. Entretanto, tal verdade é puramente humana e não a verdade como o próprio Cristo conforme Jo. 14:6 - "Respondeu-lhe Jesus: eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." A verdade, a vida e o caminho não são metodologias, doutrinas ou preceitos. É, antes, uma pessoa, a saber, o próprio Cristo. A verdade não é uma concepção filosófica, mas uma pessoa que doou a própria vida. Como propõe o texto, ninguém pode chegar ao Pai se não for por meio de Cristo que é a verdade. Deus não tem coisas para dar ao homem, ele tem uma única dádiva, a saber, Cristo. Quem tem Cristo tem tudo, porque ele é o tudo de Deus conforme Cl. 3:11c - "... mas Cristo é tudo em todos." Deus fez todas as coisas  convergirem para Cristo e não para coisas conforme Cl. 1:16 e 17 - "... porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas."
Outro sinal claro que a pessoa é apenas religiosa é o legalismo. Por legalismo entende-se a exigência de perfeição e bom comportamento moral como evidência da verdade. Ora, muitos ateus possuem comportamento mais íntegro e reto que muitos religiosos. O próprio Cristo ensinou que os homens naturais são mais prudentes ou espertos que os filhos da luz conforme Lc. 16:8b - ... porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do que os filhos da luz." Isto se deve ao fato que os filhos deste mundo têm os seus corações inclinados para o mundo e seu sistema, enquanto os filhos da luz seguem a luz que é Cristo assentado nos lugares celestiais. O legalismo é o resultado das exigências das igrejas institucionais que, não tendo o ensino da verdade, se apegam a promover apenas reforma moral nas pessoas. Tomam o bom comportamento misturam a alguns preceitos bíblicos e apontam isto como evidência de salvação. Invertem a ordem dos fatos e do ensino da verdade para satisfazer e gratificar suas almas, pela lei do sacrifício de si mesmos. Oferecem apenas religião exterior, a saber, obras de justiça própria e méritos. Muitos vivem a vida toda de modo reto, íntegro, temente e desviando-se do que lhes parece mal. Entretanto, não foram convertidos, porque preferiram trocar a conversão monérgica, pelas ações humanas sinérgicas. Substituem o dom de Deus pelos seus próprios sacrifícios de tolos. Agem como Caim que teve a sua oferta rejeitada, enquanto Abel foi aceito, porque se aproximou de Deus através do substituto. Caim quis agradar a Deus pelo seu esforço, enquanto Abel agradou a Deus por se incluir no cordeiro que representava Cristo crucificado. 
Por fim, um religioso, quando confrontado, monta um perímetro em torno de si mesmo com base em defensivas legalistas. Muitas das suas defesas giram em torno de opiniões de seus líderes, de textos bíblicos adaptados segundo as suas capacidades almáticas ou mesmo de dogmas e preceitos denominacionais. Como não têm discernimento espiritual, desqualificam a mensagem da verdade, acusando ou levantando suspeitas morais sobre o mensageiro. Ora, a  obra de Deus é realizada no mundo pelas pessoas menos prováveis. Muitos dos homens e mulheres que foram usados por Deus desde os tempos mais remotos, não seriam aceitos em muitas igrejas de hoje. Na própria genealogia de Jesus há uma prostituta, Raabe, uma pagã, Rute e Salomão filho da mulher de Urias, o qual Davi expôs para ser morto. Deus não age no Universo com base na retidão, integridade e obras de justiça dos  homens. Fosse assim, Jó não teria de passar por aquele penoso processo de conversão verdadeira. Davi jamais alcançaria um coração segundo Deus, pois foi adúltero, assassino sanguinário e rebelde. Abraão era filho de idólatras e levou muitos anos para receber a imputação da justiça de Cristo. Paulo consentiu na morte de Estevão, perseguiu a Igreja e prendeu cristãos antes de ganhar a graça para a redenção. O fato é que a retidão, a integridade e a justiça dos eleitos e regenerados pertencem a Cristo e não a eles mesmos. Do contrário, Cristo seria absolutamente desnecessário à salvação.
No texto de abertura Jesus, o Cristo mostra aos discípulos que a Palavra de Deus é semeada em diversos e diferentes tipos de terrenos. Em cada terreno ela surte um determinado efeito, mas apenas em um ela germina, frutifica e permanece. Os discípulos não compreenderam muito bem o ensino, porque o raciocínio deles estava viciado na lógica da religião. Por isso, esperavam um ensino que fosse compatível com seus dogmas. Jesus lhes mostra que o ensino por parábolas era exatamente, porque a verdade não é dada a todos de igual modo. A uns é dado conhecer os mistérios de Deus, mas a outros não. Jesus, o Cristo ainda explica mais pormenorizadamente que ensinava por curvas, justamente pra que alguns não vissem, não ouvissem e não entendessem. Cristo foi mais enfático no registro de Mc. 4: 11 e 12 - "E ele lhes disse: a vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados." Vê-se que o objetivo de não ensinar a todos do mesmo modo era para que aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida, não vissem, não percebessem, não ouvissem, não entendessem, não se convertessem e não fossem perdoados. 
O religioso legalista quando se depara com este ensino reage como se o tal ensino não fosse de Cristo, mas de quem o está anunciando. Ele se põe  na defesa da justiça de Deus, como se ele necessitasse de algum advogado. O religioso prefere alegar insanidade e  inverdade de quem anuncia a mensagem, que abrir os filtros para receber como revelação de Deus. Neste ponto ele se põe na mesma condição dos que ouviam apenas a parábola como uma historieta, mas não como revelação dos mistérios do reino de Deus. 
Ora, se Deus tivesse decidido salvar a todos os homens, ele certamente os salvariam a todos. Nada e ninguém pode deter os desígnios de Deus, porque, agindo ele, quem o impedirá? Porém, é  perceptível que nem todos os homens recebem graça para crer, logo, a salvação não é para todos. O excepcional é Deus ter resolvido salvar pela Graça a alguns, pois o normal seria ele deixar que todos se perdessem em seus delitos e pecados. Esta questão não é decidida por pregadores, líderes religiosos ou mesmo pela Teologia. É o que as Escrituras ensinam e que se percebe claramente na realidade concreta. 
Quando, pois, a Graça atinge um pecador cujo nome está escrito no livro da vida do Cordeiro, a sua reação é a mesma de Jó: "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza." Jó possuía retidão, integridade, desvia-se do mal e temia a Deus, porém isto era apenas religião. Ele era portador de uma religião de segunda mão, porque apenas reproduzia o que ouvia falar sobre a verdade, mas não conhecia a própria verdade. Ele tinha uma espécie de fé na fé. Finalmente, Deus concedeu a Jó ver com os olhos do espírito e não apenas sentir com as impressões da alma. O resultado da visão de Cristo levantado da Terra foi abominar-se a si mesmo no pó e na cinza. Jó passou pelo processo da metanoia e não por conversão religiosa. Ao contrário, Jó foi convertido da religião para a verdade que verdadeiramente liberta.
Sola Gratia!

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