quarta-feira, julho 31

A FÉ, AS OBRAS E A JUSTIFICAÇÃO

Tg. 2: 17 a 26 - "Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem, e estremecem. Mas queres saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inútil? Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E se cumpriu a escritura que diz: e creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta."
No mundo persistem dois sistemas: o da verdade e o da mentira. Ambos se assemelham em quase tudo, mas há um ponto que é o divisor de águas entre os dois: a justificação do pecador. O sistema da mentira afirma que o homem pecador é justificado por suas obras de justiça e que há uma possibilidade deste resistir a graça de Deus e optar por não receber a justificação ofertada em Cristo. O sistema da verdade afirma que a salvação é um ato monérgico e soberano de Deus, que o pecador não pode oferecer qualquer resistência à graça e que ele não possui "livre arbítrio" algum, porque está debaixo do pecado. As duas correntes da teologia histórica que sustentam ambos os sistemas é o Arminianismo e o Calvinismo. Entretanto, nem Tiago Armínio, nem João Calvino criou estes termos. Eles resultam das controvérsias geradas por seus seguidores ao longo do tempo.
O apóstolo Tiago, o qual acreditam ser um dos irmãos carnal de Jesus, o Cristo, apresenta em sua breve epístola uma análise muito interessante sobre fé, obras e justificação. Entretanto, a maioria dos cristãos lê as Escrituras apenas como um manual de religião, mas não como a Palavra de Deus. Por esta razão, cada segmento realiza e elabora a teologia que mais lhe agrada e confirma a base da sua crença. Por estas razões é que há tantas religiões e seitas no mundo, sendo cada uma mais distante da verdade que a outra. A verdade não é uma concepção, mas é uma pessoa, a saber, Cristo conforme Jo. 4:6 - "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Observe-se que, na gramática do texto foram utilizados artigos definidos. Isto implica em que não há uma diversidade de caminhos, verdades e vidas. Há apenas um caminho, uma verdade e uma vida. Desta maneira Jesus, o Cristo, não tem alguma verdade, algum caminho e alguma vida para distribuir, mas ele mesmo é o caminho, a verdade e a vida. E, por assim ser, ninguém poderá chegar à presença de Deus por conta própria ou com base em suas justiças e méritos como caminhos alternativos.
O apóstolo Tiago, no capítulo dois da sua missiva afirma que, "assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma." Ora, ele simplesmente está dizendo que não há uma consequência sem uma causa, como também não há uma causa sem uma consequência. Ele prossegui demonstrando que apresentar apenas a fé, sem o seu consequente resultado, é o mesmo que afirmar que Deus é um só, o que é o óbvio até para os demônios. A realidade de Deus único e soberano é tão incontestável, que, até os demônios também o afirma, temendo e tremendo. Portanto, a fé sem os resultados ou sem as consequentes obras é nula. 
Tiago especifica em sua homilia, dizendo que a fé que Deus concedeu a Abraão, o levou a realizar a obra concreta de obediência à ordem de Deus para sacrificar o seu único filho. Abraão tinha tudo para negar-se a esta obra, mas a fé o fez ver que, o mesmo Deus que lhe concedeu um filho na velhice, prometendo-lhe uma herança numerosa e abençoadora, iria manter a sua palavra, independentemente de Isaque ser sacrificado ou não. Assim, o que justificou a Abraão foi a concretização da sua obra de fé e não apenas a fé que recebeu. A sua atitude em obedecer e levar o filho para o sacrifício aperfeiçoou a fé recebida, tornando-se uma obra da fé e não uma fé na obra. Esta atitude lhe foi imputada por justiça, ou seja, foi justificado pela fé que o levou a ação.
Raabe era uma prostituta que habitava a cidade de Jericó. Quando Josué e Calebe conduziu o povo de Israel até a entrada na Terra Prometida, eles enviaram dez espias para avaliar estrategicamente a terra. Dos dez espias, apenas dois deram um relatório favorável. Eles viram que, a despeito das circunstâncias serem bastante desfavoráveis, era perfeitamente possível conquistar a terra. Ao saber da entrada dos hebreus em Canaã, o rei de Jericó enviou as tropas para prendê-los. A meretriz Raabe que, inclusive faz parte da genealogia de Jesus, os abrigou em sua casa. Quando os guardas chegaram ela os escondeu no terraço e disse que os mesmos não estavam ali. Após a saída dos guardas, ela os dispensou por outro caminho e, assim, eles foram salvos da morte. Ora, o que havia de honra na obra de Raabe? Nada! Ela poderia ter honrado o rei de Jericó como uma patriota, entregando os espias a serviço dos invasores israelitas. Ela mentiu ao rei e traiu o seu povo. O que há de honrado nesta obra? Nada! O apóstolo Tiago afirma que estas obras de Raabe a justificaram. O que Tiago está demonstrando é que, ao deixar fugir os espias isto foi imputado à Raabe como justiça. Raabe creu no relato dos espias sobre como foram libertos de Faraó, rei do Egito. Ela creu que Deus os libertou, abriu o mar vermelho, os sustentou com alimentos, roupas, sapatos, água e proteção contra inimigos por quarenta anos no deserto. Também disseram àquela mulher em tudo desonrada que, Deus lhes prometeu a terra de Canaã e que eles iriam conquistar Jericó pelo poder de Deus. Ora, então não foi a desonra, a mentira e a traição de Raabe que a justificou, mas a sua atitude movida pela fé que Deus certamente iria cumprir a sua promessa ao povo de Israel. Raabe não tinha nenhuma razão para crer no poder de um povo perambulando pelo deserto. Ela poderia confiar plenamente na superioridade dos exércitos de Jericó e nas potentes muralhas que cercavam a cidade. Entretanto, ela creu que, de alguma maneira tudo isso seria dominado pelo poder de Deus. Tudo quanto Raabe fez não redundou em boas obras, mas as suas obras foram a expressão da fé em Deus. Logo, o que conta para a justificação não é o conceito de certo ou errado, de bem e mal, mas creditar a obra à fé recebida por graça da parte de Deus. 
O que o cristão nascido do alto deve confiar é que as obras da carne não tem qualquer valor perante Deus. As obras podem ser boas ou más, mas se não resultam da fé, de nada adiantam espiritualmente. Na verdade, quem afirma que somente as boas obras salvam, tal religioso nunca foi conhecido por Cristo conforme Mt. 7:19 a 23 - "Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Profetizar, expulsar demônios e curar em nome de Jesus são todas boas obras, porém foram taxadas de iniquidades por Jesus, o Cristo. Foram apenas obras da carne e não obras da fé.
Sola Fide!

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