Jo. 12: 24 - "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto."
Comumente muitos leitores das Escrituras, leem-na como uma obrigação para justificar suas posições religiosas, para buscar explicações aos seus dilemas, para obter orientação conforme seus interesses, para encontrar consolo e conforto na hora da dor. Também há os que leem as Escrituras para se vangloriar de ter lido a Bíblia toda, por uma ou diversas vezes, como se isto lhes acrescentasse espiritualidade e autoridade sobre os demais. Outros ainda leem-nas para encontrar supostas falhas e contradições e deitar críticas sobre a Igreja e sobre o Cristianismo. O fato é que a Bíblia ainda é o livro mais vendido e lido no mundo. As críticas ácidas e a rejeição das Escrituras, não as invalidam, ao contrário, tornam-nas autênticas, pois foram previstas nelas mesmas. Este é um fato resultante da natureza decaída do homem, que, naturalmente resiste à verdade, pois são de princípios opostos.
Constata-se hoje, que, a maioria absoluta dos leitores das Escrituras não as lê como palavra de Deus, mas apenas como um manual de religião, um livro de curiosidades, um receituário de auto-ajuda. Fazem-na de uma espécie de guia de mantras milagrosos contra a dura realidade da vida. Portanto, urge dizer, que, a leitura nas Escrituras é uma espécie de engenharia reversa, ou seja, não é o homem quem lê a Bíblia, mas, antes ela que o lê. O ato de ler por parte do homem é apenas ato mecânico, mas o que conta é o que ela prescruta e revela ao pecador discernindo-lhe o entendimento espiritual do que de fato ele é. Todavia, quase todos buscam desvendar nas Escrituras, o que Deus é, o que Ele pode fazer e o que se pode obter de vantagem d'Ele. É fundamental entender que Deus não é discernido pelo homem natural e que Ele não tem coisas para dar aos homens. Ele tem apenas Cristo para doar, pois é o doador e a doação ao mesmo tempo. Quem tem Cristo, tem a vida eterna conforme Jo. 17:3 - "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste." Esta engenharia reversa indica que o conhecimento de Deus e de Jesus, o Cristo não é um exercício intelectivo ou gnoseológico, mas uma revelação concedida por Ele. A ação espiritual é sempre monérgica e jamais sinérgica, pois a conversão vem de Deus, a salvação é pela graça e até a fé é dom d'Ele.
O texto de abertura apresenta uma aparente contradição, visto que determina que o fruto provém da morte do grão de trigo. Conceitualmente, tais ideias não parecem fazer o menor sentido, pois fruto, no sentido botânico, é vida continuada, enquanto a morte é finitude. Por fruto, biologicamente falando, tem-se o seguinte: é 'órgão formado pela maturação de um ou mais ovários, associados a estruturas acessórias, que apresenta grande variedade de formas e geralmente contém sementes; metacarpo, endocarpo.' Todavia, o texto usa de uma metáfora para se referir ao fruto do Espírito, sendo isto indicado pelo uso da palavra no singular. Por extensão de sentido pode-se dizer que o fruto gerado pela morte é um filho, um rebento ou um resultado.
Morte é um substantivo feminino derivado do verbo morrer e traz inumeráveis significações, tais como: 'decesso, desfunção, desaparecimento, falecimento, fim, passamento, finamento, perecimento'. Entretanto, interessa nesta instância o sentido da morte como renovação, transição e substituição do homem morto para Deus, por outro novo homem vivificado pelo Espírito de Cristo conforme Rm. 6:3 e 4 - "Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida." A palavra batismo no grego neotestamentário significa imergir, e, neste texto, não se refere a batismo em água ou batismo simbólico. É uma clara indicação da imersão ou inclusão do pecador na morte de Cristo. Verifica-se que são utilizadas as expressões "em Cristo" e 'na sua morte'. Assim, ao crer que a morte de Cristo foi, de fato, a sua morte e que era você quem estava lá também, crê-se que foi incluído na morte d'Ele para destruição da sua morte e ganho da vida eterna na ressurreição juntamente com Ele. É uma questão de consideração espiritual ou de fé e não de ação ou ato físico conforme Rm. 6:11 - "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus." Cristo é aquele um que morreu por todos os eleitos para que estes também morressem para suas naturezas pecaminosas conforme Rm. 5:14 - "Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram."
É neste assentimento que a vida provém da morte, pois é por ela que surge o fruto do Espírito. É neste sentido que o ensino bíblico aprofunda o que é a verdadeira salvação. Isto nada tem a ver com religiões, mas tem a ver com a ação monérgica e soberana de Deus. O grão de trigo que foi lançado na terra é, em primeiro plano, Cristo, e, em segundo plano, cada um dos pecadores eleitos e incluídos na morte d'Ele. Estes pecadores eleitos em nada diferem dos demais homens na face da Terra, mas por razões que ultrapassam o entendimento natural, os seus nomes foram eleitos antes da fundação do mundo conforme Ef. 1: 3 a 5 - "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade." Vê-se, pelo texto, que as bênçãos de Deus já foram determinadas na esfera celestial em Cristo aos que foram eleitos 'nele', ou seja, 'em' + 'ele'. Este é o processo de inclusão e não apenas de substituição como se prega nas religiões comuns e sem o evangelho. Vê-se que os eleitos foram predestinados antes da fundação do mundo, quando nenhum deles teria cometido qualquer ato bom ou ruim, ou mesmo, que existiam. Logo, a questão da salvação não é com base em méritos e justiças humanas, mas, tão somente, na graça soberana e absoluta do Pai. As religiões se apegam aos méritos e justiças humanas, porque são subproduto da incredulidade, e, portanto, tentam religar-se a Deus por conta e risco próprio.
O grão de trigo, a saber, Cristo ao morrer e ser sepultado levou os eleitos em sua morte de cruz, e, ao ressuscitar ao terceiro dia, os trouxe vivificados para a eternidade, quando então, foram adotados por filhos do Altíssimo. O grão de trigo que morreu resultou no fruto do Espírito, ou seja, produziu a vida, a espiritualidade e a eternidade novamente ao homem decaído.
Sola Gratia!
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