setembro 09, 2012

A DIFERENÇA ENTRE CATARSE E FÉ

I Jo. 5: 4 a 12 - "... porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. Porque três são os que dão testemunho: o Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam. Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou. Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o faz, porque não crê no testemunho que Deus de seu Filho dá. E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida."
Catarse é uma palavra de origem grega 'Κάθαρσις' e a sua transliteração é 'khátarsis'. É aplicável a diferentes contextos, especialmente em teatro, medicina e psicanálise. Significa 'purificação', 'evacuação' ou 'purgação', ou seja, é algo que modifica o estado da alma por meio de uma forte liberação de sentimentos. Para Aristóteles catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. A catarse é um conceito relativo, e, portanto, jamais servirá para solucionar as questões mais prementes do ser humano. Geralmente, após uma experiência catártica, a pessoa volta a se sentir nas mesmas condições anteriores que a afligia. O processo está, invariavelmente, relacionado a uma combinação de hormônios descarregados em função da intensidade da experiência emocional a que se submete. Na medicina está relacionada a uma terapia que leva a pessoa a expelir por diferentes formas excretoras o que está envenenando ou intoxicando o seu organismo. Na psicanálise está relacionada a uma espécie de terapia de choque com possibilidade de solução após o processo. Leva o paciente a um extremo conflito interior que o permitirá rever conceitos, ideias e comportamentos diante da situação que o incomoda. Nas artes a catarse consiste em provocar grandes descargas de sentimentos e emoções. Isto envolve experiências em cinema, em teatro e em programas de auditório com grande apelo emotivo. Na religião, a catarse pode ser coletiva ou individual, variando do choro profundo à alegria exagerada e do deslumbramento diante de possíveis experiências com o sobrenatural. Um exemplo de catarse religiosa são os flagelantes durante a Idade Média. Os Flagelantes desfilavam em procissões nas cidades, durante 33 dias,  tempo que corresponde à idade de Jesus, o Cristo, durante os quais se flagelavam com cordas ou cintos de extremidades cortantes. Esta prática era tida como suficiente para que um fiel pudesse atingir o Paraíso, e os ritos da Igreja não seriam então necessários.  O movimento surge e ressurge muitas vezes durante os períodos conturbados, como a "Peste Negra" ou a "Guerra dos Cem Anos". Atualmente há vestígios destas práticas na Índia e durante a semana chamada santa nas Filipinas e em SevilhaHá pessoas, que, nestas condições entram em verdadeiros transes aos quais chamam de arrebatamento. São reações puramente emocionais, nada têm a ver com Deus.
A fé é de outra categoria de experiência, justamente, porque não é natural. É dom de Deus, portanto, não se exprime por qualquer forma catártica. Embora em determinadas religiões e seitas as pessoas entrem em transes catatônicos, isto nada tem a ver com a fé. A fé é algo inalcançável pelo homem por meio de experiências sensoriais. Ela é a confiança apenas na palavra de Deus, nada mais que isso conforme Hb. 11: 1 a 5 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem. Porque por ela os antigos alcançaram bom testemunho. Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê. Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho das suas oferendas, e por meio dela depois de morto, ainda fala. Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte; e não foi achado, porque Deus o trasladara; pois antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus." Vê-se que a fé é o firme fundamento de coisas que ainda não estão presentes e certeza absoluta do que não se pode ver com os olhos físicos. Não toca e não vê, mas mantém-se convicto que é verdadeiro e fiel. Os antigos, a saber, os que viveram antes de Cristo, mantinham esta realidade viva e concreta em suas mentes. Pela fé os eleitos entendem que tudo quanto existe veio a existência por meio da sua palavra. O que é hoje visível foi originado do nada, como por exemplo, Ele disse: "haja luz, e houve luz." Abel ofereceu a Deus um substituto e isto lhe foi contabilizado como fé no sacrifício futuro de Jesus, na cruz. Ele creu que não poderia ganhar a vida eterna por seu próprio esforço e mérito, mas apenas por meio da justificação no Justo de Deus. Enoque, o sétimo, depois de Adão, andou com Deus pela fé, pois Deus é invisível, e, por isso, foi trasladado para a presença do próprio Deus. Enoque agradou a Deus, simplesmente porque recebeu graça para crer na realidade d'Ele. 
Por todas estas razões é que é dito em Hb. 11:6 que "ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam." A fé exige que se creia no que não se vê e toque no que não está presente. Isto reduz a fé a uma experiência sobrenatural e não a uma mera catarse que, ao passar os seus efeitos, a pessoa se torna mais angustiada do que antes. As personagens bíblicas que receberam a graça da fé morreram sem ver o que criam se concretizando conforme o verso 13 de Hebreus capítulo 11: "todos estes morreram na fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra."
No mundo de hoje o povo quer que Deus se curve aos seus desejos e lhes faça o que pedem, chamando isto de fé. Quando as petições não são respondidas como lhes convém, mudam de igreja, mudam de religião, ficam magoados com Deus, e, em muitos casos, abandonam suas crendices. Ora, a fé independe de quaisquer fatos concretos, pois do contrário seria apenas ciência. 
O texto de abertura mostra que aos nascidos do alto, o poder que vence o sistema mundano é a fé. O nível de fé posto é que o eleito e regenerado creia que Jesus é o Filho de Deus. Não é solicitado nenhuma ação física, nenhum sacrifício, nenhuma demonstração exterior. O nascido de Deus crê apenas que as Escrituras ensinam que Jesus, o Cristo é o Filho de Deus e que isto é manifesto por três testemunhos: a água, o sangue e o Espírito. O apóstolo João está doutrinando sobre um fundamento da fé, a saber, que Jesus deu testemunho de sua autenticidade como o Messias e Salvador. Mostra as três dimensões do testemunho de Jesus, o Cristo pelo batismo em águas At. 2: 38 - "...arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo..."; pelo batismo na morte na cruz Rm. 6:3 - "Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?" e pelo batismo no Espírito Santo conforme I Co. 12:13 - "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito." O apóstolo ensinou isto, porque no seu tempo havia uma heresia chamada gnosticismo, a qual ensinava nas igrejas que Cristo só se encarnou no corpo humano de Jesus no momento do seu batismo, mas o deixou antes da sua morte. Por isso, ele confronta o testemunho de Deus e o testemunho dos homens conforme o verso 9 - "Se admitirmos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu filho." Logo, não há catarse na verdadeira fé! Ou crê que o testemunho de Deus é fiel e verdadeiro, ou crê no testemunho dos homens que inventam teorias e sofismas próprios. 
A essência do testemunho de Deus é a segurança interior, ou seja, no espírito conforme Rm. 8:16 - "O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." Isto é uma experiência interior e espiritual, não é uma catarse ou qualquer forma de religião exterior, sacrificial e meritocrática.
Sola Fide!

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