Sl. 58: 1 a 5 - "Falais deveras o que é reto, vós os poderosos? Julgais retamente, ó filhos dos homens? Não, antes no coração forjais iniqüidade; sobre a terra fazeis pesar a violência das vossas mãos. Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras. Têm veneno semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os seus ouvidos, de sorte que não ouve a voz dos encantadores, nem mesmo do encantador perito em encantamento."
O salmista inicia a sua prédica indagando aos poderosos e aos filhos dos homens sobre a retidão do que falam, e do julgamento que fazem. Só nestes dois quesitos verificam-se falhas, portanto, homem algum passaria desta fase em matéria de pecado e pecados. Na sequência, o salmista responde às suas próprias indagações com uma negativa e dá o motivo de não falarem o que é direito e julgar segundo o reto juízo. A questão toda se circunscreve à presença da iniquidade nos corações. Sabe-se, que, coração no texto bíblico, não se refere ao órgão que bombeia o sangue pelas veias, mas à sede da alma e do espírito do homem. Portanto, a questão do pecado está enraizada no coração, a saber, no homem interior. Ele corrompeu o espírito, separando-o da comunhão com Deus, e contaminou a alma humana, deixando-a impregnada de manchas de tudo o que decorre da natureza pecaminosa. São sinais desta contaminação: inveja, ciúmes, lascívia, contendas, disputas, maledicência, etc. Daí, a distinção entre o pecado como um princípio natural, e os pecados como atos decorrentes dele. Uma das principais evidências da iniquidade, a qual é pecado, é a violência das mãos dos poderosos sobre a Terra e dos juízos executados por qualquer filho do homem.
O verbo alienar possui diversas funções gramaticais, entretanto, nenhuma delas é relativa ao que é bom, justo e perfeito. Sempre trás uma conotação ruim. Assim, quando o orador do texto sacro afirmar: "alienam-se os ímpios desde a madre", não é uma afirmação insignificante ou meramente retórica como muitos preferem às suas próprias expensas. Os religiosos, por não receberem a graça da revelação dos textos sagrados, preferem reputá-los como mera retórica, como poesia, como estilo semita. Enquanto verbo transitivo e pronominal, alienar significa tornar-se louco, ou alucinar-se. Então, a iniquidade, a saber, a falta de equilíbiro do homem, o torna um insensato desde a útero materno. Depois que nasce a situação só piora, porque inicia-se uma longa jornada de mentiras, ou seja, afirmar o que não é a verdade. Estes desequilibrados ou iníquos por natureza possuem veneno da serpente lá do Éden, pois ela que inoculou o veneno do pecado no homem, incutindo nele o desejo de fazer o que não era reto. O desejo o levou à incredulidade, e esta, é que é o pecado conforme Jo. 16:9 - "... do pecado, porque não creem em mim." Da mesma natureza é o texto paulino em Rm. 14:23 - "... e tudo o que não provém da fé é pecado." Sabendo-se que a fé é dom de Deus, como rezam as Escrituras, deduz-se que todos os homens estão debaixo do pecado em primeira instância. Tal situação só se altera quando o pecador recebe graça para crer e ser regenerado. Neste ponto ele é liberto da culpa do pecado, depois vem o processo de produzir a semelhança de Cristo nele, estando sendo liberto da influência do pecado, e finalmente, quando da restauração final, ele será liberto da presença do pecado eternamente.
O pecado cria uma situação de absoluta alienação do pecador em relação a Deus, de sorte que tal veneno o torna surdo. Mesmo o encantador perito, figura de Cristo, não consegue abrir-lhe os ouvidos para ouvir a verdade. Neste ponto aparecem os desvios do evangelho dizendo que o homem possui livre arbítrio, e, portanto, pode escolher entre "aceitar" ou "não-aceitar" o dom de Deus. Primeiro, a cobra surda sequer ouve para decidir se "aceita" ou "não-aceita"; segundo, quem leva o pecador a Jesus é Deus conforme Jo. 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." Veja, o texto não diz que ninguém quer, ou deixa de querer ir a Jesus. Afirma, outrossim, que ninguém pode ir a Ele, salvo se o Pai o levar. A ação da salvação do pecador é absolutamente monérgica, nunca, jamais em ocasião alguma é sinérgica.
Sola Scriputra"
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