março 01, 2011

FÉ E OBRAS: OPOSIÇÃO OU COMPLEMENTO III?

Tg. 2: 15 a 18 - "Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras."
Há somente duas formas de se relacionar com Deus: a primeira é a relação morta ou decaída; a segunda é a relação vivificada ou regenerada. No primeiro caso, o homem está separado de Deus, por conta da sua natureza pecaminosa. Isto foi devidamente avisado ao ancestral comum, Adão, quando Deus disse: "...porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." A expressão hebraica traduzida por "certamente morrerás", entretanto, é no texto original "morrer, morrendo" [tûmAGt tôm]. Isto determina diversas consequências, dentre elas, a separação entre a criatura e o Criador, como também o processo de degenerescência até a morte física. Em princípio tal expressão não se refere apenas à morte biológica, mas também à morte para Deus. A palavra morte em qualquer idioma traz significação de separação ou desligamento. No segundo caso, o homem é regenerado da sua morte espiritual e recebe a garantia de uma restauração plena, a saber, corpo, alma e espírito, na ressurreição final. Neste caso ele será novamente recomposto ao estado original de Adão, quando então possuía plena ligação com o Criador.
Assim, para o homem que está morto para Deus, ainda que o busque como um religioso, a sua adoração é morta, bem como as suas obras são mortas para Ele. Podem até ser obras interessantes sociologicamente, mas não podem salvá-lo, pois estão comprometidas pela sua natureza decaída e morta. Contrariamente o homem regenerado, ou nascido do alto, adora de modo ressurrecto e vivo, porque foi vivificado na ressurreição juntamente com Cristo conforme Cl. 3:1 - "Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentando à destra de Deus." Igualmente as obras desse homem são vivas e não mortas, porque elas foram preparadas por Deus de antemão para que os seus eleitos andem nelas. Porém, isto não o torna perfeito e imune aos dilemas da existência neste mundo.
Então, Tiago está tratando da natureza das obras mortas expressas por uma fé igualmente morta. Ele está se referindo àquelas pessoas que afirmam ter fé em Deus, e não a fé de Deus. Estas pessoas creem que ao despedir o faminto e o nú em paz proferindo fé para eles, de alguma maneira, os tais serão agraciados no que necessitam. Está é uma fé morta, pois não produz os efeitos desejados ou necessários. Não é a fé de Deus, porque esta se expressou na ação concreta d'Ele enviando o Seu Filho para concretamente morrer na cruz real, justificando os pecadores eleitos. Ele viu que o homem decaído estava nú espiritualmente, faminto de justiça, cego da verdade, e pobre de vida. Assim, Cristo veio para tornar os pecadores fartos de justiça e vestidos de vestes brancas. A fé morta lida com as possibilidades do homem, mas a fé viva lida com as concretudes e o poder real de Deus.
Tiago está desafiando este homem que afirma ter fé, mas os seus atos não são da fé viva, mas de uma categoria de fé morta. Ele não está doutrinando sobre ter ou não ter fé, mas de uma natureza de fé apenas por palavras. Também não está falando de obras para quem tem a fé viva, mas das obras mortas dos que dizem ter fé. No texto de Tiago 2, trata-se das obras dos que se dizem cristãos, e não das obras de cristãos. Ele diz: ..."se alguém diz..." e não "... se algum cristão diz..." No verso 14 ele reitera: "pode acaso semelhante fé salvá-lo?" O que se pode deduzir da expressão "... semelhante fé..."? Quer dizer que se tal fé não pode salvá-lo, ela poderá o que então? Logo, fica evidente que Tiago não está falando de fé viva, a saber, fé como dom de Deus aos nascidos do alto. Ora, se a fé que se busca não pode salvar o pecador, não é necessário pregar o evangelho, pois a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da palavra de Deus. Afirmar que se tem fé em Deus não é o mesmo que ter a fé de Deus. Até porque, é a fé que possui o pecador para regenerá-lo, e não o pecador que possui fé para salvar-se.
Sola Scriptura!

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