outubro 03, 2010

"LIVRE ARBÍTRIO" UMA VELHA HERESIA


Jo. 8: 32 a 36 - "Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: sereis livres? Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
A liberdade é, talvez, a maior aspiração do homem em todos os tempos e lugares. Não depender de nada, nem de ninguém é uma posição desejada, buscada, e, supostamente executada, em diversos aspectos da vida. Entretanto, a única liberdade completa e verdadeira é a que Cristo oferece, posto que eterna. Arbitrar é, grosso modo, julgar com base apenas na vontade, portanto, o homem busca ser livre e exercer juízo voluntário em quase tudo o que se apresenta à sua percepção. Esta inclinação natural foi amplamente reforçada por Satanás no Éden, quando este afirmou à mulher: "...no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." Fazer distinção entre o que é o bem, e o que é o mal confere ao homem um certo poder de julgar entre partes constitutivas de um todo com atributo de valoração. Neste sentido, a criatura passou a ter habilidade semelhante a habilidade divina para discernir entre o bem e o mal. Os olhos do homem estavam abertos fisicamente, porém não, espiritualmente. Assim, liberdade e arbítrio são categorias que se inserem na dimensão objetiva e na dimensão subjetiva.
O "livre arbítrio", ou "livre alvedrio" é a crença ou doutrina filosófica que propõe ao homem o poder de fazer escolhas por meio da livre vontade. No caso da concepção objetivista indica que a ação de um agente, não é, necessariamente determinada por fatores externos e por antecedentes. No caso da concepção subjetivista indica que a percepção do agente teve início em sua vontade expressando, assim, uma experiência de liberdade.
O conceito de "livre arbítrio" traz no seu bojo implicações filosóficas, religiosas, psicológicas e científicas. Na esfera religiosa, o "livre arbítrio" pode implicar que uma divindade onipotente não impõe o seu poder sobre a vontade e as escolhas do homem. Em psicologia o "livre arbítrio" implica em que a mente humana controla as ações do homem, enquanto em ética, o "livre arbítrio" propõe que o homem é moralmente responsável por suas ações.
Há o Determinismo Mecanicista e o Determinismo Teleológico, estes são doutrinas que afirmam que todos os acontecimentos, incluindo-se as vontades e as escolhas humanas, são causados por acontecimentos anteriores ou posteriores, portanto, situa o homem como um ser destituído de liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte. O Determinismo Mecanicista e o Determinismo Teleológico rejeitam, portanto, a concepção de que os homens tenham algum "livre arbítrio". Em oposição aos dois tipos de determinismo encontra-se o Libertarianismo, posição esta que defende que os homens têm "livre arbítrio" pleno e, por isso, rejeita o determinismo. O Indeterminismo é também uma forma de Libertarianismo, a qual defende a visão que as pessoas têm "livre arbítrio", e que as ações apoiadas nele são efeitos sem causas. Há ainda o Compatibilismo que é a visão que o "livre arbítrio" surge mesmo em um universo sem incerteza metafísica. Compatibilistas podem definir o "livre arbítrio" como emergindo de uma causa interior, por exemplo os pensamentos, as crenças e os desejos. Seria sucintamente o "livre arbítrio" aquilo que respeita as ações, ou pressões, internas e externas. A filosofia que aceita, tanto o determinismo, quanto a liberdade de escolhas é chamada de “Soft Determinism”, expressão cunhada por Williams James para designar o que hoje chama-se de "Livre Arbítrio Compatibilista". O Incompatibilismo é a visão que não há maneira de reconciliar a crença em um universo determinístico com um "livre arbítrio" verdadeiro. Entre os compatibilistas encontram-se Thomas Hobbes e David Hume.
Observa-se, assim, que, não há ponto de conciliação entre as diferentes concepções, e, mesmo no mérito interno de cada uma delas, não há argumentação definitiva ou plausível sobre esta questão. Realmente é infundada a ideia de que o universo e seus fenômenos seja determinístico e o homem, seja absolutamente livre nele. É como se o homem estivesse acima do universo, ou fora da realidade. Neste caso recai-se no conceito de 'oxímoro', ou seja, um ato causado não pode ser livre, e um ato não-causado não pode ser desejado. Trata-se de uma figura de retórica, na qual dois conceitos opostos são reunidos numa só expressão que depende da interpretação de quem lê. Por exemplo: silêncio eloquente, lúcida loucura, ilustre desconhecido, etc.
Ora, para se considerar algo, ou alguém como absolutamente livre, necessário é que não haja nenhum fato ou evento determinantes anterior e externo ao agente. Assim, para haver o "livre arbítrio", o homem obrigatoriamente deve bastar-se a si mesmo em todos os sentidos, e aspectos. Neste caso, o homem seria o próprio Deus com todos os seus atributos. Jesus afirma aos líderes religiosos e políticos do seu tempo o seguinte: "Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." Logo, um escravo não é livre, e, como todos os homens pecaram por herança adâmica, logo nenhum homem é livre, ou possui "livre arbítrio". O que acontece comumente é que os que defendem tal posição confundem escolhas mecânicas e condicionadas pelas necessidades biológicas e psicológicas, com liberdade de ação e de escolha espiritual. O próprio fato de o homem estar relativizado no tempo e no espaço já o limita absolutamente e lhe retira a possibilidade do "livre arbítrio". Na realidade a condição do homem é de "Servo Arbítrio"!
Maranata!

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