outubro 18, 2010

DO MERO ASSENTIMENTO À REAL CONVERSÃO III


At. 15: 3 a 11 - "Eles, pois, sendo acompanhados pela igreja por um trecho do caminho, passavam pela Fenícia e por Samária, contando a conversão dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmãos. E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles. Mas alguns da seita dos fariseus, que tinham crido, levantaram-se dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes observar a lei de Moisés. E, havendo grande discussão, levantou-se Pedro e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem. E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós; e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também."
O capítulo 15 do livro dos atos dos apóstolos relata uma grande discussão em torno da conversão dos não judeus. Na medida em que alguns gentios foram sendo convertidos à fé cristã, os judeus que também haviam "aceito" esta mesma fé, se puseram logo a impor-lhes regras e preceitos da lei de Moisés. Paulo e Barnabé levantaram diversos argumentos contra esta imposição, porém sem muito sucesso. Por isto, foram enviados mensageiros a tomar assento no conselho da Igreja em Jerusalém, onde Pedro e Tiago foram usados para esclarecer a natureza da real conversão e da desnecessidade de imposição de regras da lei. Apontaram que a salvação é pela graça, e, que, aos não judeus foram outorgadas as mesmas bênçãos espirituais, também dadas aos judeus conversos. É sempre assim, os homens confundem conversão pela soberana vontade divina, com conversão religiosa. Ora, se os próprios judeus não conseguiram por em prática a lei de Moisés, porque esta deveria ser imposta aos não judeus? Qual o proveito da lei, se Cristo veio para cumpri-la e habilitar o homem pecador à redenção? Logo, qual a necessidade de ser convertido de uma prática religiosa à real fé, se necessitar das práticas religiosas anteriores à nova experiência libertadora? É como se eles saíssem do judaísmo, mas o judaísmo não saísse deles. Esta não é a marca da real conversão operada e operacionalizada por Deus. É um mero assentimento intelectivo que nada tem a ver com a verdade evangélica.

Rubem Alves explica o fenômeno da conversão em seu livro "O Enigma da Religião". Dentre outras considerações, o autor mostra que a conversão é o oposto da conservação. Há na conversão uma mudança, e após esta ocorre uma alternação de padrões. A alternação entre o anterior e o atual exige, como ponto mais alto, a modificação total do ser convertido. O converso requer uma plausibilidade de ressocialização  porque há uma nova identidade de significações. Desta forma o converso muda de 'status quo' perante si, e perante os outros. Para Rubem Alves ocorre um colapso entre a harmonia do eu e o mundo, sendo a pré-condição a anomia do eu. Tal anomia se traduz, segundo Durkeim, como sendo o desconhecimento, ou mesmo, o não cumprimento de regras socais. Este tipo de conversão ocorre preferivelmente quando há choques culturais, ou a falta de significados para o ser em crise. Neste sentido a desestruturação da personalidade encontra em uma nova possibilidade de reorganização, produzindo um novo universo de significados. O homem se torna, ou se faz um novo ser saído de uma realidade que o negava. Nesta nova realidade o homem encontra-se seguro e sintonizado com o seu novo real. Esta é a conversão assentida pela percepção humana, como um processo de ruptura de um 'modus vivendi' para outro. Nada tem a ver com a real conversão operada pela soberana e graciosa vontade de Deus.
O texto que abre este artigo mostra, pelas palavras de Pedro, que o processo real consiste no fato de que Deus conhece os corações, dá o Espírito Santo, não faz distinção entre etnias diferentes, e purifica os corações pela fé. Toda ação é monérgica, não se viu em nenhuma instância, a cooperação do homem com a vontade de Deus. Ele escolheu dar aos que quer, o mesmo processo de conversão, independentemente da origem étnica. É neste sentido que a salvação é dada a todos os homens, e não no sentido universalista, o qual defendem os arminianos.
A real conversão se opera pela eleição antes da fundação do mundo, quando os nomes dos eleitos foram escritos no livro da vida do Cordeiro conforme Ap. 13:8 - "E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo." Os eleitos não adorarão ao sistema universalista, gnóstico e religioso imposto pelo próprio homem sob a inspiração de Satanás. Por isto os eleitos são assim situados: "... que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras." Este povo, com tais características não é o que aparece na mídia; não é o que monta igrejas entre quatro paredes; que explora a miséria humana por meio da religião; que ilude os necessitados com falsas conversões e promessas de solução dos seus dilemas.

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